Por: Filipa Jardim Silva.
Peter Pan é um menino que mora na Terra do Nunca, um lugar onde não
tem de crescer e onde os dias nunca são iguais. Entre os seus amigos
destaca-se a Fada Sininho, uma fiel companheira que o protege e lhe
alimenta um conjunto de fantasias procurando o agradar incessantemente.
Se olharmos à nossa volta ou mesmo para dentro de nós talvez
reconheçamos características da fada Sininho. Mulheres com elevados
desempenhos, tendencialmente bem sucedidas na vida profissional, que
transmitem uma postura de independência que não raras vezes atrai mas
também assusta alguns homens, divididas entre acreditar e investir numa
relação estável e duradoura e a opção de ficarem sozinhas pontualmente
acompanhadas.
Existem alguns homens que sentem alguma relutância em crescer e
assumir os desafios que chegam com as responsabilidades, tal como o
Peter Pan. Mas também existem mulheres que se sentem impelidas a assumir
um papel de proteção, tal como a fada Sininho, ainda que nem sempre se
permitindo a amar verdadeiramente ou respeitando as suas necessidades e
limites.
E assim se conjugam forças ambivalentes, em que por um lado
existe a procura de conexão íntima e a necessidade de cuidar do outro e
por outro lado um medo de perder o controle e ficar dependente.
Não
sendo possível mantermo-nos sempre emocionalmente controlados, o que
tende a suceder é uma sensação de vazio prolongado no tempo em que de
relação em relação, ainda que cuidando do outro e fazendo-o encantar,
nada ressoa verdadeiramente porque não será possível sentir-se o outro
sem nos colocarmos vulneráveis, isto é, sem nos permitirmos dar a
conhecer com todos os riscos que isso implica.
O que também acaba por
acontecer um dia, sem aviso prévio, a mulher perde-se de amores,
de uma forma tão avassaladora e intensa que pode transitar para o
outro extremo, o da incapacidade de se gerir emocionalmente.
Esta tentativa de evitamento da vulnerabilidade encarando-a como
sinal de fraqueza leva a que muitas vezes passemos a viver as nossas
vidas desempenhando um personagem como se se tratasse da vida de outra
pessoa que não nós.
Em primeiro lugar, importará recuperar a menina pequenina dentro de
todas estas mulheres para restaurar as suas fundações emocionais. Por
debaixo dos medos, defesas, zangas e máscaras tenderá a encontrar-se
tristeza e algumas fragilidades, como “eu não sou suficientemente
boa” ou “não consigo me proteger”, que necessitam ser reparadas,
reajustadas ao momento presente tantas vezes diferente do passado,
permitindo então reaprender formas diferentes de se relacionar e de se
colocar na relação com o outro, partindo sempre de uma base de
auto-aceitação e segurança interna que é criada de dentro para fora.
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