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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA SAÚDE MENTAL.




A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA SAÚDE MENTAL.
Os problemas do indivíduo e sua família com distúrbios mentais são problemas da comunidade e não somente acontecimentos isolados. Sendo assim a enfermagem em saúde mental adquire uma nova dimensão, a da família, comunidade e meio ambiente, o qual o indivíduo em sofrimento convive. O movimento de saúde mental comunitário mudou o tratamento psiquiátrico e a prestação de assistência à saúde mental de ambientes de internações prolongadas, como hospitais psiquiátricos, para os de serviços substitutivos , como os CAPS.
A finalidade principal desta assistência é promover, na medida do possível, a recuperação do paciente como ser humano, para que possa viver de forma independente.
 prevenção baseia-se no modelo de Saúde Pública, a níveis de prevenção baseados nas necessidades humanas básicas:
Prevenção Primária – eliminar fatores que causam ou contribuem para o desenvolvimento da D.M.
Prevenção Secundária -  dirigem-se à descoberta precoce e ao início precoce do tratamento
Prevenção Terciária – eliminar ou reduzir a incapacidade residual que acompanha a enfermidade mental            
ü      A legislação atual sobre os serviços de saúde mental  (Lei 1.0216) determina que o indivíduo deve ser tratado preferencialmente  em serviços comunitários de saúde mental, para isso deve ser forma do uma rede de serviços assistenciais e de apoio.
ü       O enfermeiro dentro da equipe, desempenha grupos de tarefas:
   - Tarefas de atuação direta ( Para a pessoa; Para a família e Para a comunidade)
   -Tarefas de atuação indireta ( De assessoria e colaboração com outros profissionais; De formação )
   - Tarefas de ação conjunta com a equipe ( Planejamento de trabalho; Elaboração; Avaliação; Desenvolvimento e Evolução)
A RELAÇÃO TERAPÊUTICA E A ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL
ü      Ambiente Terapêutico é o marco ideal e dinâmico em que se trabalha com os pacientes. É um espaço de segurança, no qual se proporcionam cuidados e onde não existe uma atmosfera punitiva.
ü       A Relação Terapêutica  é a que estabelece cada membro da equipe terapêutica com o paciente e sua família, e com todo o grupo de pacientes, como uma intervenção importante ou uma ferramenta terapêutica imprescindível, na qual o profissional utiliza o seu auto-conhecimento, a sua habilidade pessoal e a sua formação técnica para procurar alterações no paciente.
ü      Estabelecer uma relação terapêutica, ou seja, humanamente saudável, implicará para o paciente e para o enfermeiro toda uma experiência de aprendizagem mútua
ü      Modelo Relacional de H. Peplau  promoção do desenvolvimento pessoal nos aspectos:
  - Auto-realização, auto-aceitação e aumento do respeito de si mesmo.
  - Reforço da identidade pessoal e da integração pessoal.
  - Capacidade para estabelecer relações interpessoais e interdependentes, nas quais a pessoa seja capaz de dar e de receber carinho.
  - Aumento do rendimento pessoal e da capacidade de satisfazer às necessidades de conseguir objetivos realistas.
ü      Conhecimento pessoal é fundamental que o profissional tenha acerca das suas crenças, valores morais,necessidades, desejos, sentimentos, emoções,para não prejudicar sua interpretação, nem se projetar no que deve ser a percepção adequada do paciente.
ü       Qualidades necessárias ao profissional :
     -Auto-controle
     - Clarificação dos valores
     - Exploração de sentimentos
     - Capacidade para servir de exemplo
     - Motivação altruísta
     - Sentido da ética e responsabilidade
ü      Processo terapêutico  veículo através do qual o paciente é capaz de tornar claros e reconstruir os sentimentos, pensamentos e idéias que possui.
ü       Características da relação terapêutica:
   - Uma relação emocional de confiança com uma pessoa que ajuda. Isso influí na mudança de conduta do paciente.
   - Um ambiente terapêutico que configura o profissionalismo do terapeuta e cria confiança no paciente.
   - Um esquema racional e um modelo explicativo que justificam o problema do paciente e o procedimento.
   - Um ritual em que estão incluídos ambos (paciente e profissional) o qual reforça a ação terapêutica, oferecendo novas expectativas e novas experiências de aprendizagem
ü      Equipe  Terapêutica : Enfermeiro, Psiquiatra, Psicólogo, Assistente social, Terapeuta ocupacional, Professor de educação física, Técnicos de enfermagem...
ü       Na equipe há distribuição de tarefas em função das atribuições profissionais, mas que se adapta à realidade do trabalho.
ü       Em equipe faz-se troca de informações acerca dos pacientes, das atividades, compartilham-se problemas e buscam-se soluções.
ü       O intercâmbio de experiências pessoais na equipe favorece o auto-conhecimento e a auto-aceitação.
ü       Na equipe é importante a figura de um supervisor que ajude a tornar claras situações concretas de um dos membros ou de toda a equipe terapêutica.






A enfermagem profissional moderna surgiu no contexto de emergência do sistema capitalista europeu, particularmente na Inglaterra, subseguindo à decadência dos sistemas monástico-caritativos de assistência à saúde das populações, que ocorreu entre os séculos XVI a XIX. Desde as suas origens, a enfermagem profissional presenciou modos de divisão social e técnica do seu trabalho e esteve submetida a relações de compra e venda de força de trabalho, tais como conhecemos contemporaneamente. Admitindo como o marco de nascimento da enfermagem moderna a data de 9 de julho de 1860, quando 15 candidatas tiveram suas matrículas aceitas na Escola Nightingale, que funcionava junto ao Hospital St. Thomas, em Londres(1), podemos identificar duas características do emergente sistema capitalista: a reprodução da divisão do trabalho e a utilização de mulheres em atividades que exigiam pouca qualificação. O trabalho de enfermagem ou das "criadas de enfermaria" era comparável ao trabalho doméstico e, conseqüentemente, com baixa remuneração(2).
A medicina moderna é uma medicina social que tem, como um de seus componentes, o interesse no corpo individual(5). O controle dos corpos, operado por essa medicina supostamente individual, é uma estratégia de controle social na modernidade. Nesse projeto de medicina operado para o conhecimento, controle e utilização dos corpos individuais numa perspectiva totalizante, característico da modernidade, situa-se o nascimento da psiquiatria(5). Essa, sendo a primeira especialidade médica, surge atrelada a um projeto de conhecimento e transformação da sociedade, característico da Europa do século XVIII, com algumas especificidades nos diferentes países. No Brasil, se fez presente a partir do século XIX(6).
O objeto dessa medicina moderna era o espaço social e, a criação do hospício, o processo que possibilitava a inserção do "louco" nesse espaço, organizado e disciplinado, segundo as normas de higiene. A loucura passou a ser definida, explicada e tratada pela medicina e adquiriu o "estatuto de doença mental, doença adjetivada, portanto específica, que requer um saber médico específico, técnica e métodos também específicos. Essa medicina especial, [...], teve um nascimento historicamente situado, resultado do encontro entre uma prática social sistemática de reclusão de incapazes e um pensar médico positivo"(7).
Como importante aspecto no tocante à relação da sociedade com os "loucos", no Brasil, o projeto de medicina social propôs a reformulação das instituições que deles se ocupavam - enfermarias das Santas Casas e demais asilos de caridade - com o objetivo de transformação desses locais de produção de doença e morte em instituições de cura/reeducação - o hospício moderno. Visava, entretanto, muito mais do que a reordenação do espaço de exclusão dos considerados loucos. Buscava interferir na sociedade "sadia" com o objetivo de reduzir as causas de alienação, através da aplicação de princípios científicos à vida social e política, portanto, uma higiene social, além da higiene física(6).
A enfermagem, participante desse processo de medicina social moderna, teve papel importante relacionado ao conhecimento e organização interna do espaço asilar/hospitalar. No que se refere ao hospício, estudos destacam o papel do "enfermeiro" Pussin, recentemente resgatado como um importante ideólogo e colaborador de Pinel nas intervenções reformistas nos asilos franceses de Bicêtre e Salpetrière(8).
No Brasil, a necessidade de organização do hospício moderno determinou a criação de uma primeira escola de enfermagem ligada ao Hospital Nacional de Alienados, a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, inspirada no modelo francês. Em 1890, em um contexto de luta dos médicos pelo controle político/científico do Hospício Pedro II, fundado em 1852, no qual permaneceram até algumas décadas depois, como figura subordinada à administração religiosa, surgia essa primeira escola de enfermagem brasileira que tinha entre seus principais objetivos a preparação de pessoal para o trabalho de cuidar dos alienados num espaço medicamente concebido e, portanto, necessitado de mão-de-obra também médico-cientificamente orientada(6,9).
A psiquiatria e a enfermagem psiquiátrica surgiram no hospício. O hospício era instituição disciplinar para reeducação do louco/alienado, o médico/alienista, a figura de autoridade a ser respeitada e imitada nesse projeto pedagógico e, os trabalhadores de enfermagem, os atores coadjuvantes nesse processo, os executores da ordem disciplinar emanada dos médicos.
Sobre a especificidade do trabalho da enfermagem psiquiátrica, algumas autoras(9-10) que estudaram a sua história, apontam o fato de que a enfermagem desenvolvida nos hospícios não era do modelo Nightingale, mesmo após a disseminação deste modelo em vários países. "Essa clientela [os loucos] não foi objeto de interesse explícito para a enfermagem moderna, nem na chamada Revolução Nightingale da Inglaterra vitoriana, abarrotada de hospícios, nem na implantação desse modelo no Brasil do século XX"(9).
Os cursos, que visavam o cuidado de doentes mentais nos hospitais psiquiátricos, não adotavam o sistema Nightingale e eram orientados por médicos. No Brasil, assim como na Europa e na América do Norte, "o preparo de enfermeiros(as) nas instituições psiquiátricas acompanhou o processo de medicalização dos asilos, originando modelos de preparação com características específicas e diferenciadas daquele destinado à formação para hospitais gerais durante o século XIX"(10).
A história da enfermagem brasileira "esqueceu" o ensino de enfermagem implantado no Brasil no período 1890-1923(11), ensino esse ministrado numa escola anexa ao Hospício Nacional. A Escola de Enfermagem Anna Nery, fundada em 1923, no Rio de Janeiro, considerada a primeira escola de enfermagem "moderna" do Brasil, pela historiografia oficial, não incluiu em seu currículo, até o ano de 1949, nenhuma matéria relacionada às doenças mentais, quando passou a desenvolver estágio no Centro Psiquiátrico Nacional – Engenho de Dentro(12).
O objetivo da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, anexa ao Hospício Nacional, criada através do Decreto nº 791 de 27/09/1890, era formar profissionais para os hospitais psiquiátricos e militares existentes no país. Além desse objetivo explícito no Decreto, a escola promovia a instrução e profissionalização das mulheres pobres. Disso decorria algumas vantagens: incorporação e disciplinarização de um segmento da população excluído e "perigoso" (mulheres e meninas pobres abandonadas), subordinação garantida dessas aos médicos, evitando os conflitos que foram anteriormente enfrentados com as religiosas no hospício e o estabelecimento do hospício como instrumento médico de intervenção e sob a sua direção. A opção pelo modelo francês, portanto, não foi casual ou por desconhecimento de outros modelos. Processo similar ocorreu em Porto Alegre, no Hospital São Pedro. Em outros locais não houve formação especializada e essa capacitação ocorreu no próprio processo de trabalho(10).
Quanto às motivações do pessoal de enfermagem para trabalhar nos estabelecimentos psiquiátricos do Rio de Janeiro e os modos de ingresso na Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, do Departamento de Assistência a Psicopatas, estudos(10) apontam que, com a criação das escolas, a enfermagem passou a ser profissão e adquiriu certa valorização social, tornando-se alternativa de profissionalização principalmente para as mulheres pobres. Para essas, o trabalho de enfermagem, embora manual, significou a possibilidade de ascensão social, cuja realização exigia uma formação específica. Portanto, para as alunas da Escola Alfredo Pinto (denominação posterior da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras) que, diferente da Escola Anna Nery, eram originárias da classe baixa, a profissão de enfermeira era uma oportunidade de ascensão na hierarquia das ocupações femininas.
Nesse modo de conformação, certifica-se que a necessidade de capacitação e especialização de trabalhadores para o cuidado dos doentes mentais esteve relacionada com o peculiar processo de transformação dos asilos em espaço terapêutico da loucura nos diferentes locais e não diretamente relacionada ao processo de institucionalização da enfermagem como profissão no Brasil. Também relacionou-se, de forma muito próxima, assim como a história da psiquiatria enquanto medicalização do social, às necessidades de disciplinarização de um determinado segmento social.
Fonte:
ROCHA, Ruth. Enfermagem em Saúde Mental. Senac Nacional, 2205. 187 p.


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