A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA SAÚDE MENTAL.
Os problemas do indivíduo e sua família com distúrbios mentais são problemas da comunidade e não somente acontecimentos isolados. Sendo assim a enfermagem em saúde mental adquire uma nova dimensão, a da família, comunidade e meio ambiente, o qual o indivíduo em sofrimento convive. O movimento de saúde mental comunitário mudou o tratamento psiquiátrico e a prestação de assistência à saúde mental de ambientes de internações prolongadas, como hospitais psiquiátricos, para os de serviços substitutivos , como os CAPS.
A finalidade principal desta assistência é promover, na medida do possível, a recuperação do paciente como ser humano, para que possa viver de forma independente.
prevenção baseia-se no modelo de Saúde Pública, a níveis de prevenção baseados nas necessidades humanas básicas:
Prevenção Primária – eliminar fatores que causam ou contribuem para o desenvolvimento da D.M.
Prevenção Secundária - dirigem-se à descoberta precoce e ao início precoce do tratamento
Prevenção Terciária – eliminar ou reduzir a incapacidade residual que acompanha a enfermidade mental
ü A legislação atual sobre os serviços de saúde mental (Lei 1.0216) determina que o indivíduo deve ser tratado preferencialmente em serviços comunitários de saúde mental, para isso deve ser forma do uma rede de serviços assistenciais e de apoio.
ü O enfermeiro dentro da equipe, desempenha grupos de tarefas:
- Tarefas de atuação direta ( Para a pessoa; Para a família e Para a comunidade)
-Tarefas de atuação indireta ( De assessoria e colaboração com outros profissionais; De formação )
- Tarefas de ação conjunta com a equipe ( Planejamento de trabalho; Elaboração; Avaliação; Desenvolvimento e Evolução)
A RELAÇÃO TERAPÊUTICA E A ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL
ü Ambiente Terapêutico é o marco ideal e dinâmico em que se trabalha com os pacientes. É um espaço de segurança, no qual se proporcionam cuidados e onde não existe uma atmosfera punitiva.
ü A Relação Terapêutica é a que estabelece cada membro da equipe terapêutica com o paciente e sua família, e com todo o grupo de pacientes, como uma intervenção importante ou uma ferramenta terapêutica imprescindível, na qual o profissional utiliza o seu auto-conhecimento, a sua habilidade pessoal e a sua formação técnica para procurar alterações no paciente.
ü Estabelecer uma relação terapêutica, ou seja, humanamente saudável, implicará para o paciente e para o enfermeiro toda uma experiência de aprendizagem mútua
ü Modelo Relacional de H. Peplau promoção do desenvolvimento pessoal nos aspectos:
- Auto-realização, auto-aceitação e aumento do respeito de si mesmo.
- Reforço da identidade pessoal e da integração pessoal.
- Capacidade para estabelecer relações interpessoais e interdependentes, nas quais a pessoa seja capaz de dar e de receber carinho.
- Aumento do rendimento pessoal e da capacidade de satisfazer às necessidades de conseguir objetivos realistas.
ü Conhecimento pessoal é fundamental que o profissional tenha acerca das suas crenças, valores morais,necessidades, desejos, sentimentos, emoções,para não prejudicar sua interpretação, nem se projetar no que deve ser a percepção adequada do paciente.
ü Qualidades necessárias ao profissional :
-Auto-controle
- Clarificação dos valores
- Exploração de sentimentos
- Capacidade para servir de exemplo
- Motivação altruísta
- Sentido da ética e responsabilidade
ü Processo terapêutico veículo através do qual o paciente é capaz de tornar claros e reconstruir os sentimentos, pensamentos e idéias que possui.
ü Características da relação terapêutica:
- Uma relação emocional de confiança com uma pessoa que ajuda. Isso influí na mudança de conduta do paciente.
- Um ambiente terapêutico que configura o profissionalismo do terapeuta e cria confiança no paciente.
- Um esquema racional e um modelo explicativo que justificam o problema do paciente e o procedimento.
- Um ritual em que estão incluídos ambos (paciente e profissional) o qual reforça a ação terapêutica, oferecendo novas expectativas e novas experiências de aprendizagem
ü Equipe Terapêutica : Enfermeiro, Psiquiatra, Psicólogo, Assistente social, Terapeuta ocupacional, Professor de educação física, Técnicos de enfermagem...
ü Na equipe há distribuição de tarefas em função das atribuições profissionais, mas que se adapta à realidade do trabalho.
ü Em equipe faz-se troca de informações acerca dos pacientes, das atividades, compartilham-se problemas e buscam-se soluções.
ü O intercâmbio de experiências pessoais na equipe favorece o auto-conhecimento e a auto-aceitação.
ü Na equipe é importante a figura de um supervisor que ajude a tornar claras situações concretas de um dos membros ou de toda a equipe terapêutica.
A enfermagem profissional moderna surgiu no contexto de emergência do sistema capitalista europeu, particularmente na Inglaterra, subseguindo à decadência dos sistemas monástico-caritativos de assistência à saúde das populações, que ocorreu entre os séculos XVI a XIX. Desde as suas origens, a enfermagem profissional presenciou modos de divisão social e técnica do seu trabalho e esteve submetida a relações de compra e venda de força de trabalho, tais como conhecemos contemporaneamente. Admitindo como o marco de nascimento da enfermagem moderna a data de 9 de julho de 1860, quando 15 candidatas tiveram suas matrículas aceitas na Escola Nightingale, que funcionava junto ao Hospital St. Thomas, em Londres(1), podemos identificar duas características do emergente sistema capitalista: a reprodução da divisão do trabalho e a utilização de mulheres em atividades que exigiam pouca qualificação. O trabalho de enfermagem ou das "criadas de enfermaria" era comparável ao trabalho doméstico e, conseqüentemente, com baixa remuneração(2).
A medicina moderna é uma medicina social que tem, como um de seus componentes, o interesse no corpo individual(5). O controle dos corpos, operado por essa medicina supostamente individual, é uma estratégia de controle social na modernidade. Nesse projeto de medicina operado para o conhecimento, controle e utilização dos corpos individuais numa perspectiva totalizante, característico da modernidade, situa-se o nascimento da psiquiatria(5). Essa, sendo a primeira especialidade médica, surge atrelada a um projeto de conhecimento e transformação da sociedade, característico da Europa do século XVIII, com algumas especificidades nos diferentes países. No Brasil, se fez presente a partir do século XIX(6).
O objeto dessa medicina moderna era o espaço social e, a criação do hospício, o processo que possibilitava a inserção do "louco" nesse espaço, organizado e disciplinado, segundo as normas de higiene. A loucura passou a ser definida, explicada e tratada pela medicina e adquiriu o "estatuto de doença mental, doença adjetivada, portanto específica, que requer um saber médico específico, técnica e métodos também específicos. Essa medicina especial, [...], teve um nascimento historicamente situado, resultado do encontro entre uma prática social sistemática de reclusão de incapazes e um pensar médico positivo"(7).
Como importante aspecto no tocante à relação da sociedade com os "loucos", no Brasil, o projeto de medicina social propôs a reformulação das instituições que deles se ocupavam - enfermarias das Santas Casas e demais asilos de caridade - com o objetivo de transformação desses locais de produção de doença e morte em instituições de cura/reeducação - o hospício moderno. Visava, entretanto, muito mais do que a reordenação do espaço de exclusão dos considerados loucos. Buscava interferir na sociedade "sadia" com o objetivo de reduzir as causas de alienação, através da aplicação de princípios científicos à vida social e política, portanto, uma higiene social, além da higiene física(6).
A enfermagem, participante desse processo de medicina social moderna, teve papel importante relacionado ao conhecimento e organização interna do espaço asilar/hospitalar. No que se refere ao hospício, estudos destacam o papel do "enfermeiro" Pussin, recentemente resgatado como um importante ideólogo e colaborador de Pinel nas intervenções reformistas nos asilos franceses de Bicêtre e Salpetrière(8).
No Brasil, a necessidade de organização do hospício moderno determinou a criação de uma primeira escola de enfermagem ligada ao Hospital Nacional de Alienados, a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, inspirada no modelo francês. Em 1890, em um contexto de luta dos médicos pelo controle político/científico do Hospício Pedro II, fundado em 1852, no qual permaneceram até algumas décadas depois, como figura subordinada à administração religiosa, surgia essa primeira escola de enfermagem brasileira que tinha entre seus principais objetivos a preparação de pessoal para o trabalho de cuidar dos alienados num espaço medicamente concebido e, portanto, necessitado de mão-de-obra também médico-cientificamente orientada(6,9).
A psiquiatria e a enfermagem psiquiátrica surgiram no hospício. O hospício era instituição disciplinar para reeducação do louco/alienado, o médico/alienista, a figura de autoridade a ser respeitada e imitada nesse projeto pedagógico e, os trabalhadores de enfermagem, os atores coadjuvantes nesse processo, os executores da ordem disciplinar emanada dos médicos.
Sobre a especificidade do trabalho da enfermagem psiquiátrica, algumas autoras(9-10) que estudaram a sua história, apontam o fato de que a enfermagem desenvolvida nos hospícios não era do modelo Nightingale, mesmo após a disseminação deste modelo em vários países. "Essa clientela [os loucos] não foi objeto de interesse explícito para a enfermagem moderna, nem na chamada Revolução Nightingale da Inglaterra vitoriana, abarrotada de hospícios, nem na implantação desse modelo no Brasil do século XX"(9).
Os cursos, que visavam o cuidado de doentes mentais nos hospitais psiquiátricos, não adotavam o sistema Nightingale e eram orientados por médicos. No Brasil, assim como na Europa e na América do Norte, "o preparo de enfermeiros(as) nas instituições psiquiátricas acompanhou o processo de medicalização dos asilos, originando modelos de preparação com características específicas e diferenciadas daquele destinado à formação para hospitais gerais durante o século XIX"(10).
A história da enfermagem brasileira "esqueceu" o ensino de enfermagem implantado no Brasil no período 1890-1923(11), ensino esse ministrado numa escola anexa ao Hospício Nacional. A Escola de Enfermagem Anna Nery, fundada em 1923, no Rio de Janeiro, considerada a primeira escola de enfermagem "moderna" do Brasil, pela historiografia oficial, não incluiu em seu currículo, até o ano de 1949, nenhuma matéria relacionada às doenças mentais, quando passou a desenvolver estágio no Centro Psiquiátrico Nacional – Engenho de Dentro(12).
O objetivo da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, anexa ao Hospício Nacional, criada através do Decreto nº 791 de 27/09/1890, era formar profissionais para os hospitais psiquiátricos e militares existentes no país. Além desse objetivo explícito no Decreto, a escola promovia a instrução e profissionalização das mulheres pobres. Disso decorria algumas vantagens: incorporação e disciplinarização de um segmento da população excluído e "perigoso" (mulheres e meninas pobres abandonadas), subordinação garantida dessas aos médicos, evitando os conflitos que foram anteriormente enfrentados com as religiosas no hospício e o estabelecimento do hospício como instrumento médico de intervenção e sob a sua direção. A opção pelo modelo francês, portanto, não foi casual ou por desconhecimento de outros modelos. Processo similar ocorreu em Porto Alegre , no Hospital São Pedro. Em outros locais não houve formação especializada e essa capacitação ocorreu no próprio processo de trabalho(10).
Quanto às motivações do pessoal de enfermagem para trabalhar nos estabelecimentos psiquiátricos do Rio de Janeiro e os modos de ingresso na Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, do Departamento de Assistência a Psicopatas, estudos(10) apontam que, com a criação das escolas, a enfermagem passou a ser profissão e adquiriu certa valorização social, tornando-se alternativa de profissionalização principalmente para as mulheres pobres. Para essas, o trabalho de enfermagem, embora manual, significou a possibilidade de ascensão social, cuja realização exigia uma formação específica. Portanto, para as alunas da Escola Alfredo Pinto (denominação posterior da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras) que, diferente da Escola Anna Nery, eram originárias da classe baixa, a profissão de enfermeira era uma oportunidade de ascensão na hierarquia das ocupações femininas.
Nesse modo de conformação, certifica-se que a necessidade de capacitação e especialização de trabalhadores para o cuidado dos doentes mentais esteve relacionada com o peculiar processo de transformação dos asilos em espaço terapêutico da loucura nos diferentes locais e não diretamente relacionada ao processo de institucionalização da enfermagem como profissão no Brasil. Também relacionou-se, de forma muito próxima, assim como a história da psiquiatria enquanto medicalização do social, às necessidades de disciplinarização de um determinado segmento social.
Fonte:
ROCHA, Ruth. Enfermagem em Saúde Mental. Senac Nacional, 2205. 187 p.
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