Ver o mundo por
lentes cor de rosa: esse é o jeito que muitas mulheres decidiram viver.
Mais do que o reflexo de uma personalidade doce e meiga, a fofura é
também uma escolha, denunciada por uma (ou várias) pistas, como
guarda-roupa recheado de peças cor de rosa, bichinhos de pelúcia na mesa
de trabalho.
Está também, principalmente, em uma delicadeza de modos
que parece à aprova até de terremotos recheadas de tratamentos no
diminutivo e vozinhas infantis. Mas, além do gosto pessoal, o que
significa quando uma mulher adulta decide se vestir e se comportar como
uma menina? “É importante ter em mente que é justamente o perfil da
mulher que pode ser um pouco egocêntrica, a menina mimada.
Esse ego não
tão desenvolvido a faz partir para os diminutivos”, diz a psicólogo
Alexandre Bez. Ele acredita esse tipo de temperamento ao “complexo de
Poliana” (a expressão complexo de Poliana surgiu com o livro Poliana
Moça, onde a protagonista só via o lado bom e humano das coisas. Ela era
incapaz de ver maldade nas pessoas).
“É uma dificuldade de enxergar que
faz a pessoa ver tudo de forma colorida. São pessoas que vivem no
arco-íris, não enxergam maldade, malícia, o foco negativo”.
Para
Alexandre, é um sistema de defesa do ego “Tem pessoas que usam isso
para não lidar com um a realidade dura porque não tem condição emocional
de lidar com ela”. Os riscos, por exemplo, são ser levada na
brincadeira, ou deixar a falta de responsabilidade contaminar outras
áreas da vida. É claro que gostar de rosa ou colecionar itens com um
tema de desenho animado, por exemplo, não indicam um problema. Mas
a questão é quando gostos e preferências é um sinal de excesso de
fragilidade e dificuldade de lidar com os aspectos “menos fofos” da
vida. “A pessoa pode ser meiga sem ser infantil”, enfatiza.
Para
a antropóloga Miriam Godenberg a feminilidade mais delicada é um traço
da cultura brasileira. “Numa cultura como a nossa, em que a mulher não
tem uma posição de igualdade dentro e fora de casa, é quase que o
esperado” afirma. “Eu chamo de mulher cor-de-rosa” essa mulher magrinha,
delicada, feminina, submissa, que é educada, desde cedo para ser assim,
quase perfeita. A mulher que é mais assertiva é vista como menos
feminina.
Fonte: Jornal "O Estado" edição 22 de maio 201
Nenhum comentário:
Postar um comentário