Arthur Bispo do Rosário (Japaratuba, Sergipe, 20 de fevereiro de 1909 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 5 de julho de 1989), foi um artista plástico brasileiro.
Considerado louco por alguns e gênio por outros, a sua figura insere-se no debate sobre o pensamento eugênico, o preconceito e os limites entre a insanidade e a arte, no Brasil.
A sua história liga-se também à da Colônia Juliano Moreira, instituição criada no Rio de Janeiro, na primeira metade do século XX,
destinada a abrigar aqueles classificados como anormais ou indesejáveis
(doentes psiquiátricos, alcóolatras e desviantes das mais diversas
espécies).
Natural de Japaratuba-Sergipe, Arthur Bispo é descendente de escravos
africanos, foi marinheiro na juventude, vindo a tornar-se empregado de
uma tradicional família carioca.
Na noite 22 de Dezembro de 1938,
despertou com alucinações que o conduziram ao patrão, o advogado
Humberto Magalhães Leoni, a quem disse que iria se apresentar à Igreja da Candelária. Depois de peregrinar pela rua Primeiro de Março e por várias igrejas do então Distrito Federal, terminou subindo ao Mosteiro de São Bento,
onde anunciou a um grupo de monges que era um enviado de Deus,
encarregado de julgar aos vivos e aos mortos.
Dois dias depois foi
detido e fichado pela polícia como negro, sem documentos e indigente, e
conduzido ao Hospício Pedro II (o hospício da Praia Vermelha), primeira instituição oficial desse tipo no país, inaugurada em 1852, onde anos antes havia sido internado o escritor Lima Barreto (1881-1922).
Um mês após a sua internação, foi transferido para a Colônia Juliano Moreira, localizada no subúrbio de Jacarepaguá, sob o diagnóstico de "esquizofrênico-paranóico". Aqui recebeu o número de paciente 01662, e permaneceu por mais de 50 anos.
Em determinado momento, Bispo do Rosário passou a produzir objetos com diversos tipos de materiais oriundos do lixo e da sucata que, após a sua descoberta, seriam classificados como arte vanguardista e comparados à obra de Marcel Duchamp.
Entre os temas, destacam-se navios (tema recorrente devido à sua
relação com a Marinha na juventude), estandartes, faixas de mísses e
objetos domésticos. A sua obra mais conhecida é o Manto da Apresentação, que Bispo deveria vestir no dia do Juízo Final. Com eles, Bispo pretendia marcar a passagem de Deus na Terra.
Os objetos recolhidos dos restos da sociedade de consumo foram
reutilizados como forma de registrar o cotidiano dos indivíduos,
preparados com preocupações estéticas, onde se percebem características dos conceitos das vanguardas artísticas e das produções elaboradas a partir de 1960.
Utilizava a palavra como elemento pulsante. Ao recorrer a essa
linguagem manipula signos e brinca com a construção de discursos,
fragmenta a comunicação em códigos privados.
Inserido em um contexto excludente, Bispo driblava as instituições
todo tempo. A instituição manicomial se recusando a receber tratamentos
médicos e dela retirando subsídios para elaborar sua obra, e Museus,
quando sendo marginalizado e excluído é consagrado como referência da Arte Contemporânea brasileira.
Referências
- Almeida, Jane de; Silva, Jorge Anthonio. Ordenação e vertigem / Ordering and vertigo. São Paulo: CCBB/Takano, 2003.
- Burrowes, Patricia. O Universo segundo Arthur Bispo do Rosário.
- Hidalgo, Luciana. Arthur Bispo do Rosário O Senhor do Labirinto. Ed Rocco.
- Kato, Gisele. O artista redentor. São Paulo, Revista Bravo!, 2003.
- Lázaro, Wilson. (org.). Arthur Bispo do Rosário - Século XX. Cosac Naify.
- Seligmann-Silva, Márcio. Arthur Bispo do Rosário: a arte de enlouquecer os signos. Artefilosofia, nº 3, julho.2007, pp. 144–158. (Instituto de Filosofia, Artes e Cultura - IFAC-UFOP).
- Silva, Jorge Anthonio. Arthur Bispo do Rosário - Arte e loucura.
- Diversos. A vida ao rés-do-chão. Artes de Arthur Bispo do Rosário. Ed. Sete Letras.
- ↑ ARTHUR BISPO DO ROSARIO – BIOGRAFIA CLÍNICA (em português). Abpbrasil (20-10-2001). Página visitada em 05-07-2011.
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