A anencefalia é uma malformação rara do tubo neural, caracterizada pela ausência parcial do encéfalo e da calota craniana, proveniente de defeito de fechamento do tubo neural nas primeiras semanas da formação embrionária.
Ao contrário do que o termo possa sugerir, a anencefalia não
caracteriza casos de ausência total do encéfalo, mas situações em que se
observam graus variados de danos encefálicos. A dificuldade de uma
definição exata do termo "baseia-se sobre o fato de que a anencefalia
não é uma má-formação do tipo 'tudo ou nada', ou seja, não está ausente
ou presente, mas trata-se de uma má-formação que passa, sem solução de
continuidade, de quadros menos graves a quadros de indubitável
anencefalia. Uma classificação rigorosa é, portanto quase que
impossível".
Na prática, a palavra "anencefalia" geralmente é utilizada para caracterizar uma má-formação fetal do cérebro. Nestes casos, o bebê pode apresentar algumas partes do tronco cerebral funcionando, garantindo algumas funções vitais do organismo.
Trata-se de patologia letal. Bebês com anencefalia possuem
expectativa de vida muito curta, embora não se possa estabelecer com
precisão o tempo de vida que terão fora do útero. A anomalia pode ser
diagnosticada, com certa precisão, a partir das 12 semanas de gestação,
através de um exame de ultra-sonografia, quando já é possível a visualização do segmento cefálico fetal. [carece de fontes]
O risco de incidência aumenta 5% a cada gravidez subsequente.
Inclusive, mães diabéticas têm seis vezes mais probabilidade de gerar
filhos com este problema. Há, também, maior incidência de casos de
anencefalia em mães muito jovens ou nas de idade avançada. Uma das
formas de prevenção mais indicadas é a ingestão de ácido fólico antes e durante a gestação.
Embriologia
A anencefalia é um dos três principais defeitos do tubo neural (DTN). Os outros são a encefalocele e a mielomeningocele. Os defeitos do tubo neural resultam de uma falha no fechamento do tubo neural que ocorre entre 25 e 27 dias após a concepção.
Epidemiologia
Nos Estados Unidos, a anencefalia ocorre em 1 a cada 10.000 nascimentos. A malformação é mais comum em meninas,
brancos e em mães nos extremos de idade. A taxa de anencefalia em
nascidos vivos provavelmente subestima a real taxa de ocorrência da
doença, pois diversos casos de aborto espontâneo são causados por fetos
afetados que não chegam a receber o diagnóstico.
A prevalência ao nascimento diminuiu nos Estados Unidos após a suplementação obrigatória de alimentos com ácido fólico, que iniciou em janeiro de 1998.
Sinais e sintomas
Um recém-nascido com anencefalia geralmente é cego, surdo,
inconsciente e incapaz de sentir dor. Embora alguns indivíduos com
anencefalia possam nascer com um tronco encefálico, a falta de um cérebro funcionante descarta a possibilidade de vir a ter consciência e ações reflexas, como a respiração e respostas aos sons ou toques.
Diagnóstico
A anencefalia frequentemente pode ser diagnosticada no pré-natal através de um exame de ultrassom.
O diagnóstico ultrassonográfico tem alta acurácia e é baseado na
ausência do cérebro e da calota craniana. Outra característica que pode
ser observada na ultrassonografia é a polidramnia, que ocorre em até 50% dos casos durante o 2º e 3º trimestres de gestação devido à menor deglutição do feto.
A dosagem de alfafetoproteína (AFP) sérica materna e o ultrassom fetal são úteis para rastreio de defeitos do tubo neural como espinha bífida ou anencefalia.
Às vezes a anencefalia não é diagnosticada, pois o feto acaba
evoluindo para aborto espontâneo. Em outros, principalmente em mulheres
que não têm acesso ao pré-natal, a doença é diagnosticada apenas durante
o parto.
Prognóstico
Não existe cura ou tratamento padrão para a anencefalia e o
prognóstico para estes pacientes é a morte. A maioria dos fetos não
sobrevivem ao nascimento, o que corresponde a 55% dos casos não
abortados. Quando a criança não é um natimorto (nasce sem vida), ela
geralmente morre de parada cardiorrespiratória em poucas horas ou dias após o nascimento.
Entretanto, já existiram casos relatados de anencefalia que os pacientes sobreviveram até 2 anos após o nascimento.
Interrupção da gravidez
A interrupção da gravidez, também conhecida como aborto terapêutico, é permitida em casos de anencefalia em diversos países.
O Brasil
autorizou em 2012 a realização do aborto terapêutico para fetos com
anencefalia. Até então, grávidas com fetos com anencefalia precisavam de
autorização judicial para realizar o aborto.
Segundo grupos contrários à manutenção da vida do feto com anencefalia, a interrupção da gravidez nestes casos diferiria do aborto
por interromper o desenvolvimento de um feto que inevitavelmente
morreria durante este processo, ou logo após o parto, enquanto o aborto
interromperia o desenvolvimento de um bebê normal.
A interrupção da gravidez seria um processo semelhante, neste caso, a
tirar a vida de uma pessoa em estado terminal, a qual sabe-se que
inevitavelmente irá morrer, mais cedo ou mais tarde - no caso da
anencefalia, provavelmente muito cedo.
Essa visão é, entretanto, contestada por grupos contrários ao aborto,
que alegam que toda vida tem valor, independente de seu tempo de
duração.
Um estudo realizado na Alemanha,
onde o aborto terapêutico é permitido, demonstrou que as mães optam
menos pela interrupção da gravidez em casos de anencefalia do que em
casos de síndrome de Down
(trissomia do 21) (5.642 abortos em 6.141 diagnósticos pré-natais de
trissomia do 21 = 91,9%; 483 abortos de 628 casos de anencefalia =
76,9%; 358 abortos de 487 casos de espinha bífida = 73,5%).
Referências
- ↑ Comitato nazionale per la bioetica. "Il neonato anencefalico e la donazione di organi". 21 giugno 1996. p. 9. Relatório do Comitê Nacional de Bioética Italiano - 21 de junho de 1996. Versão em português: http://www.providaanapolis.org.br/cnbport.htm
- ↑ Quem é o anencéfalo?
- ↑ Anvisa - "Farinha terá ácido fólico para combater anencefalia em bebês"
- ↑ U.S. National Library of Medicine.
- ↑ Timson, J.. (1970-02-05). "The sex ratio in anencephaly". Genetica 41 (1): 457–465. DOI:10.1007/BF00958926.
- ↑ Joó JG, Beke A, Papp C, et al.. (2007). "Neural tube defects in the sample of genetic counselling". Prenat. Diagn. 27 (10): 912–21. DOI:10.1002/pd.1801. PMID 17602445.
- ↑ Cedergren M, Selbing A. (2006). "Detection of fetal structural abnormalities by an 11-14-week ultrasound dating scan in an unselected Swedish population". Acta obstetricia et gynecologica Scandinavica 85 (8): 912–5. DOI:10.1080/00016340500448438. PMID 16862467.
- ↑ Anencephaly Information Page: National Institute of Neurological Disorders and Stroke (NINDS). Página visitada em 2008-05-08.
- ↑ Kinsman, SL; Johnston, MV. In: SL. Nelson Textbook of Pediatrics. 18th ed. Philadelphia, PA: Saunders Elsevier, 2007. ISBN 1-4377-0755-6
- ↑ Estadão online - Menina com anencefalia morre após 1 ano e 8 meses
- ↑ Estadão - Bebê "anencéfalo" morre após 1 ano e 8 meses
- ↑ Aborto de feto anencéfalo é motivo de divergências em audiência
- ↑ ‘Todos morrem’. Ciência Hoje (13 de julho de 2011). Página visitada em 13 de julho de 2011. "Para Gollop, é fundamental que as pessoas saibam separar o joio do trigo. Para efeitos bioéticos e legais, ressaltou, a suspensão de partos no caso de fetos anencéfalos nada tem a ver com o aborto que, por definição, é a interrupção de uma gestação viável. A anencefalia, que consiste na ausência total ou parcial do encéfalo e da caixa craniana, “é incompatível com a vida, não há qualquer chance de sobrevivência; todos morrem”, enfatizou o médico, apresentando dados para embasar sua convicção.[...] A interrupção da gravidez em caso de anencefalia dos fetos é permitida em quase todo o mundo – na Europa, Canadá, China, Cuba, Japão, Índia, Estados Unidos, Rússia, Israel e na maioria dos países da Ásia. As exceções são, segundo Gollop, Irlanda, Malta e parte importante da América Latina, África e dos países islâmicos."
- ↑ Aborto de feto anencéfalo é motivo de divergências em audiência
- ↑ Wolfgang Lenhard: Der Einfluss pränataler Diagnostik und selektiven Fetozids auf die Inzidenz von Menschen mit angeborener Behinderung. In: Heilpädagogische Forschung. Band 29, 2003, S. 165–176. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Anencefalia
Nenhum comentário:
Postar um comentário