Distimia ou Transtorno Distímico é uma forma crônica de depressão, cuja gravidade costuma ser menor do que a Depressão Maior. Em benefício de melhor entendimento, felizmente parece haver um consenso de que o chamado Transtorno Depressivo Maior, a Distimia e algumas Disforias
(rebaixamentos do estado de humor) transitórias seriam manifestações de
um mesmo processo patológico, o qual resulta em sintomas depressivos.
Tal variedade de estados de humor deprimido compartilha os mesmos
sintomas, responde aos mesmos medicamentos antidepressivos e podem ser
abordados por técnicas psicoterapêuticas similares.
Geralmente o paciente com Distimia costuma ter o humor algo depressivo a maior parte do tempo, mas não expressivamente depressivo como acontece na Depressão Maior.
Pode apresentar inquietação, ansiedade e sintomas neurovegetativos,
como por exemplo, queixas digestivas, cardiocirculatórias, musculares,
dor de cabeça. É muito marcante nos distímicos a tendência em dedicar
pouco tempo para atividades de lazer, valorizando em excesso atividades
produtivas. Outros sintomas que chama a atenção é a tendência à
irritabilidade, ironias, crises de raiva e excesso de críticas.
É certo entender a Distimia como uma síndrome depressiva de grau leve ou moderado, cujos sintomas são persistentes e cuja prevalência é maior do que a Depressão Maior.
Os critérios oficiais para diagnóstico de distimia foram estabelecidos pela primeira vez na terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Psiquiátrica Americana (DSM.III), em 1980.
Os critérios oficiais para diagnóstico de distimia foram estabelecidos pela primeira vez na terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Psiquiátrica Americana (DSM.III), em 1980.
Depois da classificação do DSM.III a Distimia tornou-se um
termo popular para definir o rebaixamento do humor, tanto nos Estados
Unidos quanto em outros países cientificamente alinhados, como o Brasil.
Na Europa, entretanto, o termo Distimia em si enfrenta resistência, principalmente na Inglaterra, onde tal conceito está diluído dentro do diagnóstico de Depressão Menor e Depressão Ansiosa, as quais representam um grupo de transtornos comumente encontrados na prática médica geral.
Os estudos epidemiológicos mais recentes mostram que existe uma comorbidade elevada na Distimia, de forma que mais de 2/3 dos pacientes apresentam também Depressão Maior, Abuso de Substância ou algum Transtorno de Ansiedade junto com a Distimia.
Resumindo, Distimia é um transtorno depressivo do humor, tem
natureza crônica, se inicia insidiosamente desde a infância ou
adolescência e não tem sintomas graves o suficiente para ser
diagnosticada como Depressão Maior, ou seja, o transtorno é considerado como uma depressão de baixa intensidade, flutuante e duradoura.
Alguns pacientes distímicos, de fato, não se queixam propriamente de
tristeza, entretanto, queixam muito apropriadamente de falta de alegria
de viver: “- doutor, eu não estou com tristeza, mas também não sinto alegria ou prazer com nada”.
Além disso, os próprios distímicos manifestam grande preocupação com
sua inadequação. Quer dizer, eles mesmos sabem que são “chatos” e
lamentam por isso.
Muitas pessoas com Distimia relatam que estiveram deprimidas
durante toda a sua vida e acabam tendo uma concepção existencial
deturpada pelo mau humor crônico. Geralmente elas se auto-definem como
tristes ou "na fossa", mas geralmente são definidas pelas outras como
mal humoradas, amargas, irônicas e implicantes. Embora a Distimia seja considerada menos grave que a Depressão Maior,
suas conseqüências podem ser graves e incluem prejuízo grave do
desempenho familiar, social e profissional, aumento de sintomas físicos e
doenças psicossomáticas e aumento do risco de desenvolver Depressão Maior.
Em geral esses pacientes costumam ser tensos, rígidos e resistentes
às sugestões de terapia. Como freqüentemente eles podem ser sarcásticos,
rabugentos, exigentes e queixosos, não é raro que o médico de outras
especialidades sinta-se irritado com eles. Apesar disso, o funcionamento
social das pessoas com Distimia é relativamente estável e
muitas delas investem sua energia fortemente no trabalho, desprezando
quase totalmente o prazer, as atividades familiares e sociais. (Akiskal, 1999)
A prevalência da Distimia na população geral é assustadora. Alguns autores cogitam ser aproximadamente de 3 a 6% da população geral os portadores de Distimia
(Seretti, 1999 – Akiskal, 1994 – Avrichir, 2002), sendo um dos quadros
clínicos mais comumente encontrados na prática médica. Em relação à
distribuição da Distimia entre homens e mulheres, o transtorno é
relativamente mais freqüente em mulheres, embora não tanto como acontece
na Depressão Maior, onde a proporção é de 2:1.
A despeito da imensa população de distímicos, esses pacientes não
procuram ou relutam muito em procurar tratamento específico para a
questão emocional, apesar de se manterem sempre muito queixosos e
insatisfeitos com a vida. Trata-se de uma alteração afetiva bastante
incômoda, não só do ponto de vista emocional, fazendo sofrer o paciente
e, comumente, quem com ele convive, como também do ponto de vista
orgânico, se manifestando por inúmeros sintomas físicos, os quais acabam
fazendo com que os pacientes procurem os médicos com queixas vagas e
mal definidas, tais como mal-estar, letargia e fadiga.
Por outro lado, se os distímicos relutam em procurar ajuda
psiquiátrica, a maioria deles procura médicos de outras especialidades e
geralmente eles não serão diagnosticados corretamente (Akiskal, 2001).
Por causa disso, inúmeros exames de laboratórios são inutilmente
solicitados, inúmeras consultas a especialistas são marcadas, muitos
medicamentos são inutilmente consumidos.
Provaveis causasOs mecanismos neuropsiquiátricos envolvidos na Distimia
ainda não foram claramente esclarecidos, entretanto, já se pode falar
em alterações nos sistemas neuroendócrinos, principalmente no eixo
hipotálamo-hipófise-suprarrenal e hipotálamo-hipófise- tireoidiano, tal
como acontece nas doenças depressivas em geral.
De fato, os dados do eletroencefalograma (EEG) durante o sono e as
anormalidades nos testes dos neuro-hormônios TRH-TSH das pessoas
distímicas mostram os mesmos padrões neurofisiológicos encontrados no Transtorno Depressivo Maior, reforçando assim a natureza constitucional do transtorno (Akiskal, 1994).
O envolvimento dos sistemas de alguns neurotransmissores e
neuroreceptores, tal como também acontece nas doenças depressivas em
geral, pela resposta positiva aos medicamentos que aumentam a
disponibilidade de serotonina, noradrenalina e dopamina.
A causa da Distimia, como tantos outros quadros afetivos, é
multifatorial. Entre esses múltiplos fatores destacam-se a
hereditariedade, predisposição biológica, traços de temperamento,
estressores vivenciais, entre outros. Eventos de vida estressantes na
infância podem ter um papel importante no perfil afetivo distímico do
adulto, segundo alguns pesquisadores (Hayden, 2001 - Lizardi, 2000).
A grande taxa de comorbidade com outras doenças psiquiátricas (cerca
de 77% dos distímicos terão comorbidades psiquiátricas)25 torna ainda
mais importante o diagnóstico da distimia para o manejo adequado das
psicopatologias comórbidas.
Tratamento clínicoA
psicoterapia é um importante componente do tratamento. Em geral a
terapia cognitiva comportamental tem demonstrado ser eficaz no
tratamento de distimia. A terapia cognitiva comportamental deve ser
planejada para ser realizado por um tempo limitado, cujos objetivos
principais é fazer o paciente reconhecer as circunstâncias que levam à
depressão e estruturar a uma resposta emocional adequada.
Sobre o uso de medicamentos, existe evidência científica comparando o uso de antidepressivo e o uso placebo para o tratamento medicamentoso da Distimia. Estudos mostram que 50 a 60% dos pacientes com distimia respondem ao tratamento com antidepressivos (Williams , 2000). Atualmente o tratamento considerado mais eficaz é aquele que associa o uso de medicamentos com psicoterapia, principalmente a terapia da linha cognitiva comportamental.
Sobre o uso de medicamentos, existe evidência científica comparando o uso de antidepressivo e o uso placebo para o tratamento medicamentoso da Distimia. Estudos mostram que 50 a 60% dos pacientes com distimia respondem ao tratamento com antidepressivos (Williams , 2000). Atualmente o tratamento considerado mais eficaz é aquele que associa o uso de medicamentos com psicoterapia, principalmente a terapia da linha cognitiva comportamental.
De fato, os antidepressivos são eficazes no tratamento em curto prazo
da distimia (Lima, 1999). Entre os antidepressivos indicados para o
tratamento da Distimia sugerem-se os serotoninérgicos, não só
pela eficácia terapêutica, como pela maior tolerabilidade. As doses
geralmente são as habituais, sem nenhuma evidência de que doses maiores
sejam necessárias.
Apesar dos resultados dos antidepressivos serem satisfatórios em
curto prazo, isto é, em no máximo 12 semanas, deve-se considerar a
natureza crônica da Distimia. Isso quer dizer que há
possibilidades do mesmo perfil distímico voltar depois de algum tempo da
interrupção da medicação. Isso é um dos motivos pelos quais a
psicoterapia tem fundamental importância. Espera-se que depois de 12
meses de tratamento medicamentoso juntamente com psicoterapia, o
paciente tenha adquirido uma nova atitude emocional não patogênica.
Ballone, GJ - Distimia, in. PsiqWeb, Psiquiatria Geral, disponível na Internet em http://www.psiqweb.med.br/, 2011.
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