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terça-feira, 22 de maio de 2012

Transtorno de Personalidade Borderline


A característica principal do Transtorno de Personalidade Borderline traduz-se num padrão de comportamento intenso mas extremamente confuso e desorganizado. Aqueles que sofrem do transtorno de personalidade borderline são indivíduos que afastam aqueles de quem mais precisam. Paradoxalmente, ao tempo que precisam do afeto e da companhia dessas pessoas, são capazes de afastá-las de forma cruel e, muitas vezes, assustadora. São muito exigentes de atenção e são excessivamente manipuladoras, embora nunca o admitam. Borderlines têm profundos traços de masoquismo e sadismo e, de forma geral, são como crianças em um corpo de adulto, não tolerando quaisquer limites. Muito imaturos emocionalmente, são impacientes, não sabem esperar, suas recompensas devem ser sempre imediatas, não toleram frustrações e tendem a colocar a culpa sempre em outros por suas próprias falhas. Isto provavelmente acontece porque borderlines geralmente foram crianças privadas de uma necessidade básica, possivelmente foram negligenciadas emocionalmente em alguma etapa de sua vida psíquica, o que, por sua vez, ocasionou marcas profundas e indeléveis em sua personalidade. Tais marcas podem advir por conta de inúmeros eventos de caráter traumático, como, por exemplo, a separação dos pais, abusos sexuais na infância, violência física e até a perda precoce de um ente querido. Partindo desse pressuposto, pode-se dizer que o desenvolvimento emocional do borderline estacionou drasticamente, antes de alcançar a fase do pleno amadurecimento psicológico. Em suma, são pessoas que crescem e envelhecem fisicamente, mas emocionalmente continuam sendo crianças egoístas e, infelizmente, muito problemáticas.
Indivíduos borderlines podem ser pessoas que cresceram com um grande sentimento de não ter recebido atenção suficiente. Eles geralmente agem como crianças revoltadas, e buscam caminhos para procurar essa falta de atenção em suas relações; porém, esses caminhos são essencialmente imaturos e anormais. Frequentemente, na amnese, é achada uma carência afetiva (exemplo: ausência do pai), maus tratos, abuso sexual ou negligência emocional.
Os diferentes traumas na infância geram um sentimento crônico de vazio e rejeição, incorporando-se na personalidade borderline que é vivenciada como uma dor dilacerante. O borderline é extremamente intolerante às rejeições e outras frustrações comuns no cotidiano de todos. A dor pela falta de amor é intensamente sentida em indivíduos borderlines, o que pode estimular o processo auto e hetero destrutivo. Por isso, muitas vezes o borderline torna-se um indivíduo aparentemente rebelde e com um instinto vingativo contra os maus tratos passados. Os borderlines são pessoas com memória muito exacerbada para eventos negativos: não são capazes de perdoar, remóem coisas do passado e vivem e revivem intensamente um sofrimento desproporcional aos fatos porque apresentam um juízo de valor muito rígido. Por isso tudo, são pessoas facilmente vingativas, rancorosas, que, em momentos de ira intensa, podem oscilar entre um comportamento explosivo ou friamente vingativo, passando bruscamente do papel de vítimas injustiçadas para o de verdadeiros vilões sanguinários e cruéis que não medem esforços para cometer ações maldosas em busca de vingança. Interiormente, eles acreditam estar corretos em suas atitudes e não entendem por que as outras pessoas os olham com espanto e indignação após tais comportamentos. No fundo, são muito imaturos emocionalmente e — embora não demonstrem — facilmente frágeis.
O borderline também é, essencialmente, insaciável. Em termos de busca de atenção, eles sempre querem mais do que realmente têm. Por mais que as pessoas lhe dêem atenção, eles estão a exigir muito mais do que recebem. Talvez porque quando crianças não tiveram sua necessidade de atenção e afeto suficientemente preenchida. Para o borderline, toda a atenção do mundo não é suficiente. Inclusive, eles tendem a ser "paranóicos", exigentes e desconfiados sempre de que os outros não lhe dão importância, mesmo que isso não seja a realidade. Eles, sem querer, distorcem-na, e acabam por tendenciar tudo para um lado "ruim" e enxergar somente o lado negativo ou das pessoas ou das situações com que se defrontam, acreditando, por exemplo, que as outras pessoas não lhe dão atenção, ou que de repente mudaram de comportamento e por isso são más, merecendo assim, punições e vinganças. Borderlines costumam ver e achar coisas inexistentes no comportamento de outras pessoas, o que causa sempre reações exageradas e tempestades emocionais. Uma "mudança" quase imperceptível no comportamento de uma pessoa aos olhos de outros, para o borderline é um enorme motivo para se desesperar e acreditar que a pessoa não gosta mais dele. Por isso, o borderline é excessivamente possessivo, acreditando que a pessoa pertence apenas a ele e a mais ninguém. Ninguém mais merece atenção a não ser ele. Caso contrário, ele perceberá qualquer simples atitude de distração ou enfado do próximo como rejeição, o que o fará dar início a uma série de comportamentos extremos que se traduzem em atitudes perigosas tanto para si quanto para os que estão ao seu redor, causando medo e espanto às outras pessoas.
Limítrofes são pessoas com instabilidade emocional, ou seja, aquelas que não conseguem manter equilíbrio emocional em situações de tensão ou estresse. Elas frequentemente mudam de humor, emoções e conduta conforme o contexto que lhe for apresentado. Via de regra, têm baixa capacidade de julgamento e usualmente têm reações grosseiras, acompanhadas muitas vezes de ansiedade. Podem ser pessoas rebeldes ou totalmente tímidas. Essas pessoas podem confundir carência emocional com paixão. Transferem para relacionamentos amorosos a sua instabilidade emocional. Muitas vezes tornam-se os causadores de brigas excessivas, têm extremo sentimento de posse e profunda carência afetiva. O borderline vê o outro como se ele tivesse nada menos que a obrigação de estar ali apenas para prover aquilo de que ele necessita. Além disso, ele tende a acreditar que o outro parceiro tem de estar todo o tempo com ele, e têm a obrigação de não deixá-lo sozinho. Quando o parceiro tem de ir viajar ou quando cancela um encontro, facilmente o borderline se enfurece ou entra em pânico, pois sente-se facilmente rejeitado. Essa tendência do limítrofe se sentir facilmente ferido ou agredido (pequenos estressores são capazes de deixá-lo odiável) faz com que ele frequentemente entre em brigas ou confusões no ambiente intrafamiliar. Borderlines não têm controle de si mesmos, por isso facilmente demonstram irritabilidade e raiva em variadas situações triviais, e outras reações desproporcionais que vão desde a amargura, maus tratos ao próximo e grosseria até xingamentos e violência consumada. Entretanto, é interessante notar que, embora eles demonstrem esse comportamento rebelde em várias situações, em outras, podem, pelo contrário, exibir total controle. Portanto, são pessoas totalmente imprevisíveis. Em geral, tais conflitos são frutos de explosões em situações contornáveis aos olhos do observador, mas que o borderline não consegue evitar.
Limítrofes são pessoas que passam seu tempo a tentar controlar mais ou menos emoções que elas não controlam realmente. São pessoas que, diga-se de passagem, têm duas vidas. Uma vida quando estão na sociedade e outra vida de comportamentos muito diferentes quando estão a sós. Sua capacidade de esconder o transtorno faz com que sejam vistos, superficialmente, como se não tivessem nada, entretanto suas vidas são sofríveis e um verdadeiro inferno. Pessoas com o transtorno oscilam sempre entre dois extremos: um comportamento adulto e um comportamento infantil; entre a crueldade e a bondade.
Esses indivíduos são árduos manipuladores. Alguns psiquiatras e psicólogos dizem que borderlines são "pacientes impossíveis", porque, frequentemente, são manipuladores, pessoas que buscam atenção, perturbam e irritam, além de não terem capacidade suficiente para controlar suas condutas. Agridem a eles mesmos e aos demais que tentam ajudá-los. Em suas relações iniciais (exemplo: terapia), por causa da grande desconfiança que eles mantêm, as palavras com frequência não são usadas para comunicar ou exprimir sentimentos. O que existe são as manipulações, os testes, os controles etc. Eles tendem a defender-se de sentimentos, emoções e lembranças e facilmente testam suas relações através de manipulações. Parece que o borderline está sempre urdindo testes e manipulações, a fim de testar as outras pessoas, como elas reagirão a tais testes, lançando mão de estratégias como agressividade, brigas, chantagens, como para ver se elas o abandonarão por tais razões. Esses testes, então, são a forma de os limítrofes analisarem as pessoas ao seu redor e terem a certeza de que não há jeito de aparecer alguma ameaça de abandono por parte delas.

 Vazio e intolerância às rejeições

O borderline, tipicamente, é intolerante às rejeições sentimentais. Isto quer dizer que qualquer movimento diferente da outra pessoa, percebido pelo borderline, significa que o outro não gosta mais dele, que não lhe quer mais, ou que irá abandoná-lo. Uma simples contrariedade partindo da pessoa por qual o borderline mantém um vínculo afetivo importante, é visto como um sinal de "não", frustração e abandono, mesmo que isto não seja verdade. Inclusive, o borderline costuma "ver coisas" onde, na realidade, não existem. Exemplo de ocasião típica: o borderline vê-se idealizado e apaixonado por uma pessoa. O limítrofe faz um convite para esta pessoa. A outra pessoa diz que, embora queira muito, não pode em tal data, pois inevitavelmente irá viajar. Isto basta para que o borderline entre em uma série de conflitos, mudando drasticamente de humor e comportamento. Para o borderline, isso significa que a outra pessoa não quer sair com ele; significa que o outro o rejeitou, que o odeia e, portanto, sente-se profundamente ferido e desprezado. Esse sentimento de rejeição é tão forte no indivíduo borderline que o faz ter uma crise emocional intensa por um motivo visto como "banal" e comum para os outros. Aos olhos do observador, essa situação é fácilmente contornável, uma vez que resolveria apenas marcar o encontro para outro dia; entretanto, para o borderline isto é visto de maneira totalmente distorcida, sente-se rejeitado encarando a situação como frustração intensa e sinal de que a outra pessoa definitivamente não gosta dele. Então, drasticamente ele muda: passa do amor para o ódio do outro, torna-se agressivo, raivoso, odiável, prometendo maus tratos e vingança. Por dentro corrói-se de decepção, dor e desespero, pois acredita (erroneamente) ter sido fortemente rejeitado. Isso, então, faz com que fique vulnerável a atos autoagressivos e manipulações. Para as outras pessoas, tudo isso é visto como tempestade em copo d'água, extremismo e exagero, entretanto, para o borderline a situação foi uma grande prova de frustração, uma rejeição que implica que a outra pessoa o odeia. Como é perceptível, o indivíduo com TPB tem muito medo de ser rejeitado por quem ama, mas a forma como demonstra esse medo é dissimulada: demonstra através da agressividade e raiva. Na realidade, eles não conseguem admitir esse medo e acabam por demonstrar toda a intolerância de abandono através do ódio, rebeldia, depressão, chantagens, manipulações e diversos comportamentos que trazem sérios riscos a si próprio e à outra pessoa.
Como o portador do distúrbio é excessivamente exagerado, extremista e não tem controle de suas emoções, essa intolerância totalmente desproporcional às rejeições e abandono muitas vezes fazem com que — antes do indivíduo passar por um psiquiatra — termine em casos de polícia. No entanto, obviamente, é importante notar que a maioria dos indivíduos que padecem do distúrbio não terminem em casos assim, porém, não se pode negar que uma parcela desses pacientes podem cometer, em situações extremas, algum tipo de crime relacionado às separações sentimentais. Quase sempre pessoas que cometem algum tipo de extremismo em relação a uma decepção amorosa (não conseguir admitir o término do casamento, por exemplo) podem possuir traços que sugerem um possível portador do transtorno de personalinade borderline. No entanto, deve-se ressaltar que a maioria dos borderlines não são capazes de cometer atitudes extremas hetero-agressivas e sim o oposto: nos bordelines com características mais leves do distúrbio, eles têm mais facilidade em se auto-agredir do que agredir a outros. Porém, nos casos em que a severidade do transtorno é alta e não há tratamento adequado, pode-se verificar uma probabilidade maior de um portador do distúrbio cometer — por puro descontrole emocional — algum tipo de situação hetero-agressiva, principalmente se houver também características psicopáticas no paciente.
O paciente borderline para viver em paz precisa encontrar um objeto protetor que nunca o deixe. Para isso, eles testam tais "objetos" (as pessoas) para poderem acreditar nisso. Tais testes são manipulações, maus tratos, discussões etc. como forma de que isso atesta que, mesmo através de tais caminhos, o borderline nunca será abandonado. Obviamente, isto traz à tona a grande questão da tolerância das pessoas "alvo" do borderline, afinal, dificilmente as pessoas em sua volta têm tamanha paciência para tais manipulações. O limítrofe parece estar sempre insatisfeito e precisando de mais e mais porque sente um vazio irreparável, um nada, um buraco, uma frustração contínua. Portanto, são pessoas que nunca estão satisfeitas. Exigem demais dos outros, mas nunca se satisfazem, inclusive, não retribuem, demonstrando uma grande ingratidão.
Para eles, é como se eles não existissem, sem uma estrutura externa. Facilmente sentem-se irreais ou inexistentes. Com seu amante, podem estar em plena euforia; porém, quando este demonstra qualquer contrariedade às expectativas do borderline, facilmente passam de um humor eufórico para raivoso com manipulações e esforços excessivos para evitarem ser rejeitados. Se "abandonados", do humor raivoso decaem para a depressão. Seus pensamentos e atos autodestrutivos aumentam de intensidade. Podem fazer tentativas suicidas, sentir que nada mais é real (despersonalização e desrealização), entre outros comportamentos extremos.
Borderlines sentem que estão sempre com um grande sentimento crônico de vazio. Tal sentimento constantemente os incomoda e tendem a achar sempre uma forma de preenchê-lo, mas descrevem que esse sentimento nunca desaparece. Borderlines sentem tudo com uma alta intensidade, sendo que para eles, tudo faz mal, tudo os agride e machuca. Não sabem se proteger, ou ao menos, acreditam não saber. Eles ainda têm sentimentos de ser uma eterna "vítima", incapaz de aceitar suas próprias responsabilidades. São pessoas que não têm uma noção clara de sua identidade. Na realidade, eles não têm uma identidade bem formada, assim, precisam do apoio de outra identidade, causando assim um grande medo à perda e rejeição de tal identidade cujo borderline o considere. A visão que eles têm de si mesmo se caracteriza por uma visão flutuante e pouco constante. Isso contribui para a grande instabilidade que circula em suas vidas. Quase sempre eles dizem não ter certeza de nada e não sabem o que são ou como é sua personalidade. Eles têm frequentes "crises de identidade", por vezes acreditando que sua personalidade é irreal, falsa ou copiada. Podem ser considerados indecisos e "de lua", pois são pessoas que dizem ou fazem uma coisa, mas em seguida mudam de idéia ou opinião drasticamente. Seus gostos são muito instáveis, podem gostar de uma coisa, para em seguida enjoar da mesma. Sua identidade, orientação sexual e a visão de si mesmos também assim são baseados. Eles se vêem como estranhos, sem amor e sem doçura. São indivíduos que são escravos das suas próprias emoções.
Em um relacionamento íntimo, o borderline exige atenção exclusiva e constante, alguém forte que amenize seu vazio. Quando isso acontece, ele se sente confortável e tranquilo, contudo, teme o abandono do ser amado e o inferniza constantemente com medo de que isso realmente se concretize. No momento em que o borderline se vê incompreendido ou ameaçado pelo objeto amado, ele pode ter respostas agressivas. Isso geralmente surge em situações de cólera intensa ou misturada com explosões súbitas do humor depressivo, revelando gestos e comportamentos a fim de estabelecer um controle sobre o ambiente e as pessoas de tais situações, provocando no outro um sentimento de culpabilidade e remorso.[40]
O borderline demonstra um grande medo de ser abandonado ou rejeitado e por isso está sempre a tentar achar uma forma para que isso não aconteça. Alguns evitam começar relacionamentos, especialmente pelo medo de ser rejeitado ou abandonado, depois. Quando em algum relacionamento íntimo, este medo é acompanhado caracteristicamente de esforços frenéticos para evitá-lo. Podem fazer manipulações emocionais, especificamente chantagens, como ameaças ou tentativas de suicídio. Eles podem demonstrar explosões de raiva que terminam frequentemente em auto-agressões, como auto mutilar-se, ou até mesmo hétero agressões. O medo de ser abandonado é tão enorme nessas pessoas que casualmente sofrem de dissociações, têm distorções da realidade como ter idéias paranóides ou alucinações e, no extremo, praticar impulsivamente o suicídio completo. Além disso, por conta do suposto abandono ou rejeição (real ou imaginado) vindo da pessoa amada, da grande idealização/paixão, eles passam rapidamente para a grande desvalorização/ódio do outro, pelo fato de ter sido "rejeitado". Contudo, é notável também que a volta da pessoa ocasione a remissão de tais sintomas e manipulações. No entanto, eles têm tanto medo da perda que acabam por ser muito possessivos, ciumentos, sem se darem conta que todo esse comportamento prejudica e assusta as pessoas. De maneira geral, o transtorno de personalidade borderline é um dos principais distúrbios associados ao suicídio e automutilação. Eles podem tomar muitos medicamentos de uma vez só, com ou sem intenção de suicídio, abusar de drogas e bebidas, auto mutilar-se fisicamente, colocar-se em risco, entre outros atos impulsivos com notável tendência autodestrutiva.
O limítrofe é tão intolerável às frustrações que suas rupturas e decepções sentimentais sempre terminam em depressão profunda, conduta violenta, tentativas de suicídio ou autoagressão e, ocasionalmente, param no hospital ou até mesmo polícia. Eles têm intensos temores de se sentirem rejeitados ou abandonados, sendo que trazem consigo um sentimento de que sem o outro não podem dar continuidade à vida. Tais decepções amorosas são muito intensas, dolorosas e insuportáveis em borderlines. Eles sentem um intenso sentimento de vazio e um grande medo de fundir-se ou desaparecer. Entretanto, essas características típicas borderlines não são reveladas abertamente. Eles nunca admitem que sentem medo de serem rejeitados pela pessoa amada: demonstram sempre através da agressividade, raiva, ódio e manipulações.
Por todos esses motivos, é muito comum o borderline ser possessivo e controlador. Pessoas muito dependentes, influenciáveis e sugestionáveis, como a personalidade histriônica e dependente facilmente sofrem num relacionamento com um borderline, por exemplo.

Desregulação emocional e relacionamento familiar

O indivíduo borderline é geralmente visto como "genioso", temperamental, "de lua" e pessoas que facilmente se embravecem. Caracteristicamente, têm dificuldades no controle das emoções e podem ter uma convivência em grupo particularmente complicada. Eles exigem toda a atenção do mundo para si e facilmente são tomados pelas emoções. Podem arranjar conflitos com namorados e familiares com grande demonstração de ciúmes, possessividade e medo de serem abandonados. E ainda com tanta exigência de atenção, armam confusão com notáveis explosões de raiva como agressividade, ironia, xingamentos e até demonstrações físicas de violência. Por isso, podem viver a criar casos com pessoas de sua intimidade.
Pessoas com esse distúrbio, de maneira geral, são superficialmente adoráveis e simpáticos. Porém, com pessoas de sua grande intimidade (ex.: familiares) eles são vistos como irritantes, agressivos, mal-humorados, rebeldes. Tanto que o ambiente intrafamiliar é muitas vezes marcado por brigas e conflitos constantes.
Esses indivíduos não conseguem manter um bom relacionamento entre seus familiares íntimos que convivem dia-a-dia com ele (ex.: pais e irmãos). Por vezes, o ambiente é repleto de discórdias sendo que estes últimos também são classificados hora como bons, hora como maus. A imprevisibilidade e instabilidade típica de limítrofes contribuem para a geração de conflitos intrafamiliar. Essas pessoas que convivem com o indivíduo percebem tais características, como humor instável com demonstração de incapacidade de controlar a raiva (ex.: mau humor frequente, mau gênio, sarcasmo, amargura, agressividade constante). Borderlines também podem ser tidas como pessoas incapazes de demonstrar gratidão, de interessar-se por si mesmo e pelos outros. Os outros, assim como a pessoa que o criou (ex: mãe, pai), podem ser sentidos como estranhos que têm apenas a função de suprir e prover o que ele espera.
A dor física bem como as discussões podem ser formas de aliviar a tensão interna que se alastra no interior do indivíduo limítrofe. Por isso, o borderline se acalma após uma briga com familiares. Enquanto depois da discussão todos ficam mal, como ele descarregou sua tensão, ele age como se nada de importante houvesse acontecido e tende a esperar que os outros reajam assim também.
As pessoas de sua intimidade, facilmente apelidam limítrofes como estressados, pessoas "de lua", de mau gênio e imprevisíveis. A convivência diária com borderlines pode ser de extrema dificuldade. Ao longo de um dia, eles podem mudar de humor várias vezes. Podem ser tidos como aqueles que de manhã estão bem, à tarde de sentem-se raivosos, e à noite depressivos, por exemplo. Como se sentem irritadiços por motivos banais, podem tratar hora bem, hora mal aqueles que convivem com ele, sendo que os conviventes não conseguem entender exatamente o motivo que causou a mudança radical de humor e conduta do borderline. Portanto, medo, repulsa e raiva são emoções frequentes que borderlines produzem em pessoas de sua grande intimidade. Familiares sempre percebem que são pessoas que têm facilidade em demonstrar agressividade, sendo que dificilmente conseguem controlar tais hostilidades — perceptíveis através de demonstração de mau humor, agressividade constante, amargura persistente e até ataques de rebeldia ou violência.
Apesar disso, quase sempre, socialmente essas características não são momentaneamente percebidas. Pelo contrário, suas relações podem ser superficiais, assim, demonstram ser adoráveis, educados e simpáticos. Contudo, tais qualidades perdem a força conforme suas relações se tornam íntimas. Muitas vezes, superficialmente, pessoas que não conhecem profundamente o indivíduo borderline podem duvidar e não acreditar quando familiares, por exemplo, relatam o comportamento irritadiço e anormal que o paciente exibe.

Instabilidade

O perfil geral do transtorno também inclui uma inconstância invasiva do humor, das relações interpessoais, da conduta (comportamento) e da identidade, que pode levar a períodos de dissociação. São pessoas muito instáveis em todos os aspectos de sua vida; seus relacionamentos íntimos são muito caóticos, com tendência a terminar abruptamente de forma explosiva, pois eles são marcados por períodos de grande idealização e grande desvalorização, esforços exagerados para evitar a perda, chantagens emocionais e possessividade. A instabilidade emocional também contribui para relacionamentos instáveis. O humor do borderline pode ser muito lábil, alternando diariamente entre períodos de depressão profunda, euforia, irritabilidade (não necessariamente nessa ordem) e ansiedade. A inconstância também é intensa na própria percepção de si mesmo, nas atitudes, opiniões e até na sexualidade.
O paciente borderline apresenta em todos os aspectos de sua vida a "difusão de identidade" que pode ser descrita como a recusa em considerar outros tempos e outras diferentes situações, dando prioridade à situação presente e atitudes imediatas. Seria como se tivessem uma "amnésia" das situações e atitudes anteriores. Assim, forma-se a instabilidade entre os extremos “bons e maus” (8 ou 80, branco ou preto, mas nunca o meio-termo). Os indivíduos limítrofes tendem a caracterizar uma pessoa, objeto ou circunstância apenas pelo presente, como se não existisse o passado ou o futuro, nem outros tempos ou situações diferentes. Por exemplo, o borderline ao perceber que a pessoa amada está com ela, ele tende a classificá-la como "ótima", ideal e sente-se fortemente apaixonado e feliz. No entanto, se a outra pessoa anuncia que tem de ir embora, por exemplo, o paciente rapidamente passa da grande idealização ("ótima") para a grande desvalorização ("péssima"), desprezando a história em que passaram. Se o cuidador retorna, novamente a pessoa é passada do extremo "péssima" para "ótima". Isto evidencia a grande instabilidade entre os extremos cujos borderlines sofrem. É assim, também, que outras pessoas, objetos e circunstâncias são analisados por limítrofes, sempre oscilando entre o "bom" e o "mau", conforme o presente imediato, deixando de lado o passado, situações remotas e diferentes. Exemplificando, de modo geral, a borderline é aquela jovem que valoriza demais o namorado. Contudo, por menor que seja a contrariedade, já acha que ele não presta mais. Também acontece quando a limítrofe liga para a amiga. Só porque esta não pôde atendê-la naquela hora, a borderline já acredita que não é amada e depois agride a amiga de não dar devida importância a ela.
De forma geral, borderlines estão sempre no extremo e fazem análise extrema das situações externas. Eles passam facilmente do "eu te amo" para o "eu te odeio" e seu pensamento é sempre o branco ou preto, mas nunca o cinza. Suas opiniões em relação aos outros, são assim baseadas também, alternando drasticamente entre pessoas "maravilhosas" e pessoas "terríveis", por isso a frustração é frequente porque o portador do transtorno faz idealizações das pessoas e circunstâncias e estão sempre procurando o "perfeito" e ideal. Quando suas expectativas não são correspondidas, eles passam drasticamente do perfeito para o terrível. Tudo torna-se monstruoso, mau, péssimo. Portanto, as próprias idealizações desses indivíduos trazem ainda mais enorme instabilidade para eles. Mas caracteristicamente eles têm baixa tolerância às frustrações, porque são emocionalmente hipersensíveis a qualquer estímulo estressante, reagindo sempre de maneira exagerada, com grande dificuldade em controlar fortes emoções.
Por causa da tendência em completamente idealizar ou completamente desvalorizar pessoas, lugares e objetos, os portadores da personalidade limítrofe por vezes podem fazer um mau julgamento de outras pessoas fazendo-se assim se envolver em relações extremamente prejudiciais, que levam a sucessivas crises emocionais.
Para se entender a causa da instabilidade do portador de personalidade limítrofe, há de se entender que existe no borderline um mecanismo denominado "cisão". Dividem as pessoas como totalmente boas ou totalmente más. Totalmente monstruosas ou totalmente perfeitas. Não existem o meio-termo e a neutralidade, sendo para o borderline, não há "dois lados da mesma moeda". Em outras palavras, normalmente toda pessoa, objeto ou ambiente possui um lado bom e lado ruim, ao mesmo tempo. Todos têm seu lado positivo e negativo, ninguém é totalmente perfeito ou totalmente ruim. No entanto, para o borderline esse equilíbrio entre o bom e o mau de um mesmo objeto não existe. Ou é totalmente ideal, ou totalmente terrível. Então, esses indivíduos, de maneira geral, trazem consigo sempre grande instabilidade em seus relacionamentos. Apesar da dificuldade em nutrirem confiança por outros, quando eles se apaixonam por alguém, podem referir-se a tal pessoa como "perfeita": tudo a respeito dela é ótimo, bom, bonito e ela merece todo carinho e romantismo do mundo, tratando-na como um verdadeiro deus. No entanto, qualquer deslize (real ou imaginado) percebido pelo borderline, eles podem passar rapidamente para o "terrível": tudo a respeito do outro é monstruoso, mau, péssimo, odiável, ridículo e merece ser tratado como um demônio e ser punido por isso. Então, podem demonstrar humor seco, grosseiro e raivoso, com comportamento impulsivo e agressivo (ex.: dizer que odeia; demonstrar agressividade, tratar cruelmente a pessoa etc.). Se percebem uma ameaça de rejeição ou abandono por parte da outra pessoa, passam a fazer esforços frenéticos para evitá-los. Tais esforços são tão extremos que às vezes cometem atos muito impulsivos, levados por emoções como a raiva. Por exemplo, podem mentir, fingir passar mal ou ficar doentes, acidentar-se propositalmente, auto mutilar-se, ameaçar suicídio, prender a pessoa, chantagear, agredir e até mesmo perseguir o outro (stalker), entre outros atos extremos. Exatamente por isso, às vezes, os borderlines podem terminar em caso policial, porque são eles que muitas vezes são donos de tais esforços frenéticos e comportamentos excessivamente exagerados que envolvem sentimentalmente outra pessoa. Esse mecanismo extremista explica por que borderlines conseguem tratar excessivamente bem alguém, para num piscar de olhos, tornar-se demasiadamente cruel.
Em um relacionamento íntimo, o borderline demonstra grande necessidade de ajuda por causa de sua depressão e por conta de maus tratos passados, contudo, ao tempo que se mostram depressivos e dependentes de cuidados, de repente, podem maltratar cruelmente a outra pessoa sem o mínimo de remorso, porque acreditam estar sempre certos em suas atitudes. As outras pessoas que são sempre as erradas, as culpadas.
Os relacionamentos do borderline bem como comportamentos e sua personalidade em geral não são duradouros. É notável nesses indivíduos constante instabilidade nos seus relacionamentos. Eles podem demonstrar profundos sentimentos de apego e desapego fácil e ambivalente. Ao passo que se sentem sós, desejam muito a presença do outro, de repente, quando esta presença se concretiza, podem achar que estão muito próximos e invadindo sua privacidade. Diga-se de passagem que o borderline de fato constrói o lema "eu te odeio - não me deixe". Parceiros afetivos que se relacionam com limítrofes vivem em constante confusão e se assustam com as relações caóticas típicas do borderline. Isso acontece porque limítrofes idealizam e se desapontam a todo tempo. Eles conseguem passar rapidamente do amor para o ódio em questão de segundos. Pessoas que mantêm relacionamento com um indivíduo emocionalmente instável, hora podem se sentir sufocados de tanto romantismo e exigência de atenção, bem como excessivas manipulações. De repente, podem duvidar do sentimento do borderline que demonstra grande ternura, para em seguida, demonstrar frieza, raiva e crueldade.
Suas opiniões e idéias são facilmente instáveis e contraditórias. Podem dizer com convicção "sim", para em seguida, dizer "não", gostando assim de algo, para facilmente odiá-lo ou vice-versa. Isso também acontece em relação à carreira profissional e sua orientação sexual. Estão constantemente mudando em relação ao que pensam e fazem, e o que irão exercer profissionalmente. Sua identidade sexual é frequentemente marcada por dúvidas e mudanças constantes ou até adeptos à bissexualidade. Por vezes, definem-se a si próprios como "inexistentes" pois não sabem quem são, do que gostam. Quando estão convictos de algo, de repente, vêem-se cercados por dúvidas contrárias novamente, por isso, a indecisão nessas pessoas é comum. De maneira geral, são pessoas que não conseguem ficar estáveis. Por isso, são intolerantes à monotonia e rotinas, facilmente contrariando regras, bem como desistindo ou desanimando facilmente de atividades rotineiras ou que exigem certa monotonia.
Borderlines não têm persistência o bastante para continuar um projeto, tarefa ou objetivo. Eles tendem a iniciar, porém, dificilmente terminam. Enjoam, desanimam ou desgostam facilmente. Por isso, a vida do limítrofe é uma instabilidade contínua, sejam em seus projetos, relacionamentos, preferências ou comportamentos. O borderline não é capaz de se ligar por muito tempo a coisa alguma que não seja, de fato, algo de seu total interesse. Por isso também dificilmente mantêm um relacionamento por muito tempo, um objetivo constante, um gosto ou preferência interna estável. Na realidade, a inconstância é a palavra chave da vida do borderline.
Limítrofes estão sempre à beira entre o amor e o ódio. Eles tendem a idealizar as pessoas por qual querem como seus cuidadores, contudo, não percebem que o perfeito não existe, por isso estão sempre insatisfeitos porque facilmente acham "defeitos" nas pessoas por quais gostariam de vê-las como perfeitas. A pessoa "ideal" parece sempre depender do que o borderline necessita. Caso a pessoa negue, ignore tal necessidade, ou frente a recusas, o borderline rapidamente passa do amor para o ódio. Por exemplo, é o caso da paciente que quer ouvir apenas as coisas que deseja, pelo terapeuta. Quando o terapeuta diz coisas na qual ela não deseja, rapidamente o terapeuta é passado drasticamente para um "monstro" que merece ser tratado cruelmente. Isto mostra que borderlines mudam de um extremo ao outro, por pouquíssimas coisas.
O extremismo nesses indivíduos é muito marcante: quando alguém é amado por ele, a pessoa merece ser tratada de forma especial, carinhosa e muito querida. Quando alguém é odiado pelo borderline, a pessoa merece vingança, ódio e infinitas crueldades. Em suma, a pessoa amada é vista como um deus, e a pessoa odiada, como o demônio. A vida do limítrofe também é dividida entre boa e má. Péssima ou ótima. Mas nunca o neutro ou meio-termo. Nunca reconhecem a neutralidade das outras pessoas e circunstâncias.
O fato de borderlines serem extremistas faz com que tenham visões assim extremistas até mesmo de seus objetivos e futuro. Quando consegue iniciar um projeto (estudos para o vestibular, emprego, entre outros planos em longo prazo), ele é frequentemente presunçoso: sua meta é ser reconhecido ou nada valerá a pena. Como em geral, não vai ser reconhecido imediatamente, ele abandona a tarefa prematuramente, sem se quer terminá-lo. Tal atitude por recompensa apenas imediata, com desprezo à paciência de esperar, torna-o frequentemente paralisado e sem objetivos concretos. As tarefas do dia-a-dia também assim são raciocinadas. Quando a recompensa não é imediata, eles abandonam tal projeto ou têm dificuldade em começá-la, dando uma errônea imagem de "preguiçosos" ou "fracassados".
Em geral, as pessoas que se relacionam superficialmente ou que estão apenas no início de um relacionamento com um borderline, não fazem idéia das perturbações e relações caóticas com que vão ser recebidos em tais relacionamentos. No entanto, os indivíduos com o transtorno de personalidade limítrofe necessitam de muita ajuda e apoio, embora possam fazer de suas relações um verdadeiro "inferno". Eles não têm esse comportamento de forma proposital, pois é notável que sejam pessoas muito perturbadas emocionalmente. A pessoa que está com o borderline tem de estar ciente de que está diante de um grave transtorno, uma patologia dilacerante tanto para o próprio enfermo quanto para os familiares e pessoas próximas.

Narcisismo e agressividade

Os borderlines têm dificuldade em avaliar as consequências de seus atos e de aprender com a experiência e, então, erram e repetem o erro, nunca aprendendo. São indivíduos tão exigentes e imprevisíveis que assim tendem a afastar todos aqueles que o cercam. Além disso, são pessoas que não têm necessidade, eles têm urgência. Não sabem adiar e não aguentam esperar.
Eles também tendem a funcionar muito mal, conforme o estresse. Quanto mais estressados e pressionados, mais pioram os sintomas. Eles sempre tendem a contornar a situação e colocam a culpa em outros, seja por suas deficiências, decepções, responsabilidades ou problemas. Também vivem da gratificação, especificamente a imediata e geralmente querem ser livres para fazerem o que quer. Porém, ao mesmo tempo desejam ter atenção. Na verdade, são eternas crianças em um corpo de adulto, por isso aparentam estar se fazendo de "vítima".
"Eu os agrido, vocês me devem, vocês precisam fazer tudo por mim e eu nada por vocês" é frequentemente um lema em mente dos borderlines. Quase nunca eles se importam com as necessidades alheias, porque tendem a priorizar as suas. Acusam de forma egoísta e injusta que seus pais deveriam gastar mais dinheiro com o indivíduo borderline, do que com eles próprios, por exemplo. Ou então exigem toda a atenção, paciência e carinho para si mesmos ("Você tem que me tratar sempre bem.") e pouco retribuem ("Eu te maltrato, mas você não pode me maltratar, apenas me dar carinho e apoio."). Isto evidencia um "quê" de egoísmo típico traço narcisista no paciente borderline, por isso tem dificuldade em perceber o lado do outro, ou de distinguir o rosto do outro, só conseguindo visualizar suas próprias necessidades. Interesses genuínos são raros. Se, por acaso, suas necessidades são ignoradas, borderlines sentem-se profundamente irritados por não terem sido levados em conta. Segundo Kernberg, é a difusão de identidade responsável por tais percepções empobrecidas. Como o próprio borderline não tem uma identidade bem definida, obviamente, eles têm grande dificuldade em enxergar o outro, afinal, não consegue enxergar-se com precisão. Por causa dessa dificuldade em enxergar o outro, o borderline pode ser notavelmente difícil em ter amigos ou namorados, ou então, mantê-los. Ele se aborrece com facilidade com qualquer assunto que não lhe diga a respeito, necessitando sempre ser o centro de tudo. Como nem sempre isso ocorre, ele se irrita excessivamente podendo causar sérios prejuízos em tais relacionamentos.
Apesar do histriônico desejar também ser sempre os centros das atenções, a grande diferença, é que quanto tudo gira em seu redor, ele sente sua carência afetiva momentaneamente preenchida, nada mais lhe falta. Nesse caso, a outra pessoa existe e é levada em conta a sua existência. Quanto ao borderline, seu vazio é momentaneamente preenchido, entretanto, a outra pessoa existe apenas para satisfazê-lo naquele instante.[40]
Limítrofes são pacientes que têm uma grande incapacidade em haver relações humanas "normais" e dão a aparência de não se ressentir com as emoções de outros humanos. Eles irritam-se facilmente por coisas banais. Por isso, apesar do borderline conseguir demonstrar certa "normalidade" em várias situações triviais, eles exibem escandalosamente a incapacidade em controlar sua raiva (ex.: acessos de mau humor por ter que esperar a ser atendido no hospital. Ou tratar grosseiramente o médico). Em suma, eles reagem normalmente até o momento em que seu humor radicalmente muda.
Borderlines podem demonstrar com frequência mau humor e agressividade, especialmente com pessoas íntimas. Porém, geralmente saem de seus ataques de raiva como se nada tivesse acontecido, e não conseguem entender por que o outro ficou magoado, demonstrando assim uma dificuldade em compreender a realidade e os sentimentos alheios. Eles sempre tendem a achar que têm a razão de tudo e facilmente exprimem um bloqueamento na interpretação dos sentimentos de outras pessoas.
Quando o borderline crê ter sido tratado de maneira injusta (que seja real ou não), ele reage agressivamente e impulsivamente. Às vezes, muitos gestos de outras pessoas são interpretados falsamente ou qualificadas como hostis. Esses indivíduos têm dificuldade em interpretar justamente o comportamento de outros. Sua percepção sobre outros é muito instável e distorcida sempre para desconfianças. Acreditam que as outras pessoas não são nada confiáveis e são especialmente maldosas.
Pelas outras pessoas, erroneamente o borderline é classificado como "mimado", rebelde, estressado, louco ou apenas o "seu modo de ser". Contudo, seu "modo de ser", na realidade, é um modo de ser doentio.
O borderline tem dificuldade em relação a limites. Ele não conhece limite e necessita de limite para se sentir seguro, entretanto, ele torna-se agressivo ou violento caso uma oposição frontal venha ao encontro dele. Quase nunca colocar limites nesses pacientes serve como uma atitude significativa, porque eles tendem a entender isto de forma errada, como uma atitude de rejeição. Os limites podem e devem ser colocados, mas com muita cautela, para que eles não se sintam ameaçados e maltratados.
Nas relações íntimas, borderlines podem ser francamente insuportáveis, irritantes ou assustadores. Ao tempo que se mostram carentes de afeto, com grande necessidade de apoio e cuidado, podem se mostrar muito manipuladores e irritantes. Facilmente tornam-se embravecidos e sua afetividade é marcada por ansiedade, raiva ou depressão, sendo que tais emoções não são dissimuladas. Demonstram agressividade ou raiva intensa inadequadamente. Por trás dessa rebeldia, escondem um medo profundo de serem rejeitados. Eles necessitam da outra pessoa a todo instante, podendo parecer egoístas porque se comportam como só estão ao lado de alguém, para receber cuidado e afeto, sem se importar se suas manipulações e maus tratos estão a prejudicar ou não o outro. Na realidade, esses indivíduos raramente experimentam emoções genuínas, por vezes sentem um vazio afetivo, sendo que a raiva é a emoção mais sentida nessas pessoas. Contudo, quando sentem emoções plenamente razoáveis, tendem a proteger-se delas. Muitas vezes evitam ou negam sentimentos com medo de terem alguma frustração e machucar-se mais ainda. Podem, ainda, tentar defender-se e dissimular sentimentos e contorná-los, demonstrando frieza ou desprezo, entretanto, por dentro, corroem-se de decepção e medo de serem rejeitados. Assim, suas vidas tornam-se mais instáveis, porque tendem a mudar de amizades, grupos, cidades etc. que consideram "ameaçadoras".
Em relação ao relacionamento familiar, o borderline exige demais da sua família que pode, com razão, cansar-se das suas exigências e das suas agressões.
O borderline pode se tornar agressivo quando contrariado. Como é uma pessoa sensível e perspicaz, ele saberá como agredir, conseguirá escolher pontos vulneráveis dos circunstantes. A tendência da família e pessoas de sua intimidade, nesse momento, será considerá-lo manipulador, agressivo, esperto, capaz de grandes atrocidades. No entanto, na realidade, o borderline é por si uma pessoa frágil e delicada, mas que, sem querer, demonstra o contrário. Ele agride por total desespero. Sua violência, geralmente, ocorre com mais frequência quando se sente rejeitado, incompreendido ou contrariado.
O borderline submete seus familiares a algumas torturas, exigindo e agredindo, embora com isso estejam apenas tentando reviver experiências passadas na quais a relação entre ele e seu cuidador não foi capaz de lhe proporcionar boas condições emocionais. Em geral, o borderline tenta refazer o caminho não realizado no início de sua vida, com as mesmas pessoas (pai, mãe ou outros responsáveis, por exemplo) que não foram capazes de fazê-lo anteriormente.
Como o borderline tem a tendência de não enxergar o outro, vinculando-se apenas a seus interesses mais imediatos, às vezes ele pode tomar atitudes pouco recomendáveis com seus familiares e pessoas íntimas. Eles podem trair, mentir, criticá-los, pôr sempre a culpa em outros, colocá-los em situação financeira difícil, esconder, querer destruir o que o outro possui, querer se vingar e muitas outras coisas do gênero. São atitudes ditas sociopáticas (ou psicopáticas), que menos do que punição, exigem compreensão para não mais se repetirem. Contudo, a família quase sempre não entende isto, sendo assim uma tarefa difícil de convencer a família que o borderline, assim como sociopatas, dificilmente aprende com seus erros e punições. Para eles, raramente castigos e punições funcionam. Pelo contrário, tais punições são seguidas de mais agressividade e raiva, por parte dos borderlines, que entendem isso como rejeição. Não que o borderline não precise de limites destas atitudes. Por causa de seu narcisismo, ele considera muito justo que tudo seja para uso próprio, que tudo esteja voltado para ele. É claro, entretanto, que ele tem de saber o quão importante é reconhecer que é impossível ele continuar a ter atitudes egoístas, essencialmente porque tais atitudes afastam as pessoas das quais ele tanto necessita.
No entanto, o borderline não somente agride os outros, como também se auto-agride. Frequentemente a auto-agressão ocorre de forma manipulativa, para causar no outro um sentimento de culpa e arrependimento. A automutilação é uma das principais características do transtorno. Tais atitudes impulsivas podem ser vistas por inúmeras formas e são tidas como triplo sentido: ao tempo que significam desespero, depressão e dor emocional atenuada com a dor física, a automutilação pode ser uma forma de conseguir atenção, bem como culpar pessoas à sua volta, em momentos de raiva. Alguns atos autodestrutivos usados por borderlines pode ser: cortar-se, queimar, arranhar, bater-se, cutucar-se, roer unhas, além de abusar de medicamentos, expor-se a acidentes e situações perigosas, não se importar com sua saúde expondo-se a doenças. Pode ocorrer também abuso de substâncias psicoativas, café, ingestão de doces em exagero, dirigir imprudentemente, dormir em excesso e praticar sexo inseguro. Gastar dinheiro sem controle, comer compulsivamente, roubar utensílios de pouco valor monetário (cleptomania) entre outros comportamentos prejudiciais a si próprio também podem ocorrer. Engajam-se em tais atitudes para se libertarem de sentimentos crônicos de vazio, mas causam grande arrependimento após cumprir essas ações. Às vezes, as outras pessoas podem perceber ou questionar-se sinais evidentes de automutilação em borderlines (ex.: vários arranhões percebidos no braço, hematomas ou cortes). Mas via de regra, eles tendem a apresentar argumentos implausíveis ou pouco explicativos em relação a tais ferimentos, com medo de que descubram seu comportamento autodestrutivo. Pessoas com o distúrbio, também pode haver períodos em que se isolam socialmente.

Desconfiança e histeria

Eles estão sempre a reclamar de algo, talvez querendo manter um cuidador perto de si, mas não têm capacidade o suficiente para nutrir uma relação saudável e estável. Para isso, eles são vistos como exímios manipuladores com tendência a manter perto de si a qualquer custo outra pessoa que seja sua "cuidadora". Isso pode ser conseguido de várias maneiras como já citadas, entre elas, ficar doente emocional ou fisicamente é frequente. Primordialmente, mostram-se aparentemente normais a fim de conseguir um vínculo. Entretanto, acabam por criar sérias confusões, mas sempre tendem a se fazer como as vítimas injustiçadas. Assim como pessoas portadoras do transtorno de personalidade histriônica, limítrofes podem glorificar doenças podendo estar cronicamente doentes (ex.: depressão, gripes que não saram, novos sintomas que sempre aparecem sem causa aparente, queixas hipocondríacas etc.).
Indivíduos limítrofes também têm alta probabilidade às dissociações, histeria e podem ter problemas com amnésia, frequentemente com falhas de memória. Eles também têm grande taxa de desenvolvimento ao transtorno dissociativo de identidade (personalidade múltipla), isto é, quando um indivíduo eclode mais de uma personalidade para lidar com as situações estressantes. Esses pacientes apresentam comumente um quadro conhecido como despersonalização ou desrealização. Nesta ocasião, o borderline — geralmente após algum evento que causa angústia e frustração — pode sentir-se como irreal, inexistente. Quando estão numa crise de despersonalização, o indivíduo é tomado por sensações gravemente perturbadoras como ter a sensação de que o mundo em sua volta não é real — nem eles próprios — e de que tudo parece um sonho. Podem sentir-se anestesiados, como se estivessem a ver suas próprias vidas num filme — ou seja, do lado de fora. Também podem sentir-se fora de seus corpos sendo que esta sensação de irrealidade é tão conturbada que, muitas vezes, os levam a cometer atitudes "automáticas" impulsivamente. Nesses casos, o borderline pode ter um comportamento autodestrutivo para certificar-se de que ele é real e está vivo. Geralmente, essas crises de desrealização são precedidas por rejeições sentimentais ou ameaças de abandono (reais ou imaginadas) percebidas pelo borderline sendo que a volta da pessoa amada muitas vezes ocasiona a remissão desses sintomas de irrealidade.
Às vezes, o comportamento de alguns borderlines pode demonstrar como obtinham carinho e consideração, em épocas remotas (especificamente quando crianças). Por isso, eles podem ocasionalmente mostrar um comportamento francamente sedutor para conseguir cuidado, alternando drasticamente, após a intimidade, o papel entre o sedutor e o vingador de maus tratos passados.
Essas pessoas podem mostrar-se simpáticas socialmente, mas em geral, as relações interpessoais desses indivíduos podem ser escassas. Principalmente porque borderlines têm dificuldade em nutrir confiança em relação aos outros, por vezes são desconfiados e têm reações paranóides. Podem ter certeza que existem conspirações contra eles, que estão a enganá-los ou criticá-los, ou que estão querendo passá-lo para trás; em suma, para o borderline ninguém é digno de confiança e em momentos de grande estresses essas características tornam-se exacerbadas. Essas ideações paranóides ocasionam no borderline um gatilho para explosões de agressividade e mau gênio, uma vez que o paciente acredita com veemência que as outras pessoas são inconfiáveis. Portanto, as outras pessoas ficam sem entender exatamente o que causou no borderline uma crise de raiva e agressividade súbita. O limítrofe costuma enxergar mentiras, traições e paranóias em lugares e pessoas nas quais, na realidade, não existem. Por exemplo: num relacionamento íntimo, o borderline é frequentemente aquele indivíduo que simplesmente por ver o parceiro conversar com outra pessoa acredita que está a ser traído, demonstrando explosões súbitas de mau gênio, cólera e ciúmes patológico. Portanto, eles acabam por mostrar emoções totalmente desproporcionais à realidade porque são pessoas excessivamente inseguras e com grande dificuldade em confiar no outro. Portanto, a possessividade e o ciúmes patológico são sintomas muito comuns entre pacientes portadores da personalidade borderline. Essa insegurança somada às ideações paranóides causam sentimentos de ciúmes intenso por situações triviais que seriam toleradas normalmente por uma pessoa equilibrada emocionalmente. Sendo assim, suas relações geralmente são superficiais e recheadas de desconfianças. Esses indivíduos sempre estão a esperar dos outros apenas crueldades, traições e frustrações, como se as outras pessoas fossem sempre maldosas e traíras. Quando estabelecem um relacionamento mais íntimo, esse comportamento anormal fica exageradamente evidente.

Reatividade do humor e impulsividade

Borderlines têm frequentemente flutuações do humor intensas, imprevisíveis e constantes. De manhã, podem ver a vida como muito aceitável. À tarde, bruscamente sentem um grande vazio com intensa vontade de se suicidar. E, à noite, radicalmente seu humor novamente muda e sentem uma grande ansiedade com desejo compulsivo de se acabar em guloseimas, por exemplo.
A impulsividade no borderline sempre está relacionada à desesperança, falta de apoio, intensa sensação de rejeição e vazio, o que leva, no desespero, por atos impulsivos autodestrutivos.
O borderline é confundido com frequência com quadro maníaco por conta do humor instável. Isto ocorre porque ele pode apresentar-se acelerado ou animado, por estar apaixonado por alguém e sendo correspondido, se sentindo amado, por exemplo. Angustiado ou delirante, também se encontra acelerado. De outro lado, pode tornar-se lento e excessivamente depressivo num piscar de olhos. Nestes casos, a confusão com uso de drogas ou bebidas alcoólicas também é frequente. Contudo, ele pode passar da animação para a depressão rapidamente, sempre dependendo das circunstâncias a que esteja submetido. Portanto, a grande diferença básica do indivíduo borderline com o portador da doença bipolar é exatamente duas características principais: diferente do bipolar, o borderline apresenta variações do humor e emoções muito mais rápidas que o bipolar. Enquanto o borderline oscila várias vezes num dia só sempre dependendo de circunstâncias externas e frustrações, o bipolar apresenta seu mesmo estado afectivo durante maior tempo — num dia o bipolar está bem mas no dia seguinte torna-se depressivo sem motivo algum. O borderline caracteristicamente tem seu humor ligado sempre às frustrações, conquistas e situações externas, por isso seu humor tem reatividade mais intensa. Enquanto o bipolar independe de situações externas — com ou sem frustrações ou conquistas, o bipolar continuará no seu mesmo estado afetivo, sem ter um motivo concreto para isto.
Além disso, frequentemente a depressão e o transtorno afetivo bipolar são confundidos com a desordem borderline de personalidade. Contudo, talvez uma das principais diferenças seja que além de todos os outros sintomas típicos de limítrofes, tanto a depressão unipolar como a da bipolaridadade, se caracterizam por sensação de culpa, inferioridade, sem um motivo concreto para este estado de ânimo. Enquanto isso, a depressão do borderline se caracteriza essencialmente em razão de um vazio existencial, um buraco nunca preenchido, uma vida sem sentido, do tédio diante de seus objetivos e idéias de fracassos de frustração em relação a ideais não atingidos. Na depressão, o sentimento de inferioridade e culpa estão sempre presentes. No borderline, esses sentimentos são inexistentes e são substituídos por raiva constante. Como o borderline também pode se sentir muito angustiado, podendo passar dias e anos na cama, isso frequentemente é confundido ainda mais com a depressão (uni ou bipolar). Outra diferença importante entre os transtornos é que como o borderline precisa sempre de uma pessoa consigo que lhe minimize o sentimento de vazio, quando uma pessoa significativamente importante está presente, o limítrofe permanece tranquilo, enquanto sente que a presença do outro está evidente e cuja sensação de abandono está ausente. Diferente do depressivo ou bipolar que tendo ou não uma pessoa consigo, continuará a sentir-se depressivo, triste e mal-humorado.

FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_de_personalidade_lim%C3%ADtrofe

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