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domingo, 16 de dezembro de 2012

Violência e doença mental



 
"A crença de que as doenças mentais estão associadas à violência é historicamente constante e culturalmente universal" J. Monahan
A opinião pública mais generalizada parece defender que existe uma relação entre violência e doença mental, esta percepção é baseada em factores culturais e pela excessiva dramatização de episódios de violência entre as pessoas com doença psiquiátrica feita pelos meios de comunicação.
O diagnóstico de doença mental evoca, na opinião pública a imagem de pessoa perigosa, violenta, imprevisível que pode a qualquer momento ter uma crise e causar danos nas pessoas.
Inúmeros estudos têm tentado avaliar a relação entre a doença mental e a violência / criminalidade.
Gillies (1976) na Escócia encontrou apenas 10% de doença psiquiátrica entre os 400 acusados de homicídio que examinou. 
Já Pertusson e Gudjonsson referiram 66% de homicidas com patologia mental em estudo retrospectivo de homicídios ocorrido nos anos 80 na Islândia. H. Heafner e W. Boek (1982) na Alemanha encontraram que não havia excesso de doentes mentais entre os criminosos violentos, Taylor e Gunn (1984) examinando detidos por crimes violentos em Inglaterra encontraram 37% de indivíduos com doença diagnosticavel.
 Swanson e col (1997) encontraram uma associação discreta entre doença mental e o risco de cometer crimes de violência. H. Steadman (1998) em N.York não encontrou diferença na prevalência de violência em doentes psiquiátricos sem abuso de substâncias, quando comparados com a população geral.
Uma grande parte dos estudos sociais e criminais sugere que criminalidade e doença mental estão fracamente associadas. A relação existente entre violência/crime e doença mental é modesta e confinada e subgrupos específicos. A grande maioria dos doentes não é violenta.
Mas como definiríamos doença mental?
Doença mental pode ser definida em termos de psicopatologia, Lewis sugeriu que a doença deveria ser caracterizada por evidente perturbação de funções parciais e do funcionamento geral, em psiquiatria estas funções referem-se à percepção, memória, aprendizagem, emoção e outras funções psicológicas.
Perante estas dificuldades muitos psiquiatras diagnosticam doença mental se existem: -delírios, alucinações, severas alterações do humor, ou outra perturbação grave das funções psicológicas. Seriam assim a esquizofrenia, as doenças afectivas e outras psicoses, separando a deficiência mental e distúrbios da personalidade da doença mental
Quase todos os estudos parecem apontar para dois factores invariavelmente associados à violência: o abuso de álcool e drogas e o distúrbio de personalidade anti-social
Assim as "doenças" mais frequentemente relacionadas com violência são os distúrbios da personalidade, as dependências de álcool e drogas, e a deficiência mental.
Existe alguma evidência de associação entre violência e psicose especialmente nos casos de ideação paranóide mas somente uma pequena minoria de todos os doentes que praticam actos violentos são psicóticos e uma vasta maioria de pessoas gravemente doentes não são mais perigosos do que os membros da população geral.
Importa enfatizar que a violência entre os doentes com diagnóstico de esquizofrenia está associada com alguns traços clinicamente avaliáveis como: história passada de violência, abuso de álcool ou outras drogas, não adesão ao tratamento.
Os doentes maníacos podem ter episódios de irritabilidade e agressão que pode levar a actos violentos raramente severos.
Os estudos clínicos apontam para números reduzidos de deprimidos entre os homicidas e o homicida muitas vezes comete suicídio a seguir ao crime.
Os pequenos roubos em lojas aparecem referidos em doentes com depressão mas também na mania aguda ou crónica na esquizofrenia e nos dependentes de álcool e drogas.
Deficiência mental, alcoolismo e psicose têm sido diagnosticados nos indivíduos que cometeram crimes de fogo posto.
Há uma associação próxima entre crime e distúrbio da personalidade sobretudo, distúrbios anti-sociais, e na maior parte destes doentes os resultados dos tratamentos psiquiátricos são pouco satisfatórios.
O abuso do álcool também aparece relacionado com actos violentos e o consumo de outras drogas leva a que os indivíduos possam cometer crimes contra pessoas e bens principalmente para poderem pagar as drogas.
Na violência doméstica contra as mulheres encontram-se patologias como doença afectiva, ciúme mórbido e os hábitos alcoólicos.
Os quadros psiquiátricos onde mais comummente podemos encontrar comportamento agressivo são:
  • Distúrbio explosivo da personalidade
  • Distúrbio anti-social da personalidade
  • Distúrbio borderline da personalidade
  • Psicose
  • Episódio Maníaco
A experiência clínica mostra que nos doentes com esquizofrenia e agressividade os anti psicóticos, típicos e atípicos, são agentes eficazes. Também a violência nos doentes bipolares costuma responder ao tratamento.
Nos doentes com distúrbios da personalidade, doença cerebral orgânica e deficiência mental existe maior probabilidade de persistir o comportamento violento.
O comportamento violento entre pessoas com doença mental severa causa preocupação pública e é reconhecido pelos clínicos como relacionado com recaídas da doença, reinternamentos e resultados pobres dos tratamentos. 
Os atos violentos graves praticados por doentes psiquiátricos são estatisticamente raros, mas ainda assim o potencial para violência em pessoas com doenças severa, persistente e não tratada, provoca medo público e impede a aceitação e inclusão das pessoas com doença mental na comunidade. O risco de violência aumenta o medo e o estigma associado à doença mental.
Estudos recentes mostram que as pessoas que fizeram tratamento por doença mental não são mais violentas do que a população geral. 
Os doentes mentais aparecem como responsáveis por 4% dos actos de violência, o que é uma taxa baixa. 90% das pessoas que sofrem de doença Psiquiátrica são membros da sociedade produtivos e não violentos. Os doentes mentais não são mais violentos do que qualquer outra pessoa, e é mais provável que sejam vítimas de crimes do que os pratiquem.
Os doentes mentais não estão entre os grupos mais "perigosos"de uma sociedade e isso deve ser clarificado. No entanto deve ser sublinhada a importância de serem fornecidos os cuidados adequados e específicos, no âmbito psiquiátrico, àqueles que deles necessitam tendo em especial atenção os pacientes avaliados como violentos.


Bibliografia:
  • Gillies H. Homicide in the West of Scotland.Br Journal of Psychiatry1976; 128:105-27
  • Gudjonsson GH. Homicide in the nordic countries. Acta Psych Scan 1990; 82:49-54.
  • Monahan J. Mental disorder and violent behavior: perceptions and evidence. Am. Psychol 1992;47: 511-21.
  • Gelder M., Gath D ,Mayou R ,Cowen P . Oxford Textbook of Psychiatry 1996
  • Pearson et al. A study of violent behavior among in-patients in a psychiatric hospital. Br J Psychiahy1986; 149:232-5, 1986.
  • Swartz MS, Swanson JW, Hiday VA et al: Violence and severe mental illness: the effects of substance abuse and non adherence to medication. Am J Psychiatry 1998; 155: 226-231.
  • Taylor PJ;Gunn J. Violence and psychosis : risk of violence among psychotic men. Br Med J 1984;288:1945-9

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