Apesar do número expressivo de autistas e esquizofrênicos em todo o
mundo, cerca de 140 milhões de pessoas, segundo Organização Mundial de
Saúde, os doentes ainda não contam com uma rede de apoio adequada ao
tratamento, afirmam especialistas e entidades. No Piauí, a precariedade
no diagnóstico e administração das doenças provoca o agravamento dos
sintomas e do convívio social e familiar, diz o psiquiatra e presidente
da Associação Psiquiátrica do Piauí, Ediwyrton Freitas Barros.
Médico relata falhas no apoio aos esquizofrênicos no
Piauí (Foto: Viviana Braga/G1)
Piauí (Foto: Viviana Braga/G1)
De acordo com ele, do ponto de vista médico, os tratamentos para
autismo e esquizofrenia avançaram consideravelmente nas últimas décadas.
O problema, segundo ele, passa pelo fator educação e estrutura. "As
complicações iniciam dentro da própria família. Boa parte delas têm
dificuldade para identificar os sintomas no paciente, o que acaba
retardando o tratamento. Além disso, mesmo após o diagnóstico dos
transtornos, não só os doentes, como seus familiares, necessitam de um
apoio técnico para saber como lidar com o problema", explica.
Barros afirma que o autismo faz parte de um grupo de síndromes -
Transtorno do Espectro Autista (TEA) - que envolve o próprio autismo e a
Síndrome de Asperger. Nesses casos, as principais características são a
dificuldade de comunicação e interação visual, intolerância a mudanças
ambientais e comportamentais, abstração e, em alguns casos,
agressividade. "O autismo se manifesta já na infância e perdura por toda
vida. Além disso, predomina em bebês do sexo masculino", esclarece.
Ainda de acordo com o psiquiatra, a esquizofrenia prevalece em adultos
jovens e tem como principais sintomas a perda do contato com a
realidade, mania de perseguição e as alucinações visuais e auditivas.
Atendimento precário
Há 12 anos inserida na vida daqueles que convivem com o autismo, a Associação dos Amigos dos Autistas no Piauí (AMA) vem exercendo apoio e suporte técnico para educação e tratamento de autistas. A instituição assiste 111 pessoas é a única com atendimento especializado em autismo no estado.
Atendimento precário
Há 12 anos inserida na vida daqueles que convivem com o autismo, a Associação dos Amigos dos Autistas no Piauí (AMA) vem exercendo apoio e suporte técnico para educação e tratamento de autistas. A instituição assiste 111 pessoas é a única com atendimento especializado em autismo no estado.
No entanto, segundo Rozália Sousa, diretora pedagógica da AMA, a
estrutura está longe de ser a ideal. "O quesito saúde tem sido o maior
obstáculo no tratamento dos alunos matriculados na AMA. Hoje contamos
com o apoio de apenas um psicólogo. Além disso, a própria estrutura
física da nossa sede não contribui no processo de desenvolvimento dos
alunos", diz.
Sede da AMA no Piauí enfrenta dificuldades estruturais (Foto: Viviana Braga/G1)
A AMA é uma entidade filantrópica mantida através de parceiras com a
Secretaria Estadual de Educação, Secretaria de Educação do Município de
Teresina, Secretaria Municipal do Trabalho, Cidadania e de Assistência
Social, o Programa Mesa Brasil e doações. Apesar das dificuldades, a
instituição já obteve resultados positivos no tratamento de autistas.
"Muitos dos que já passaram por aqui conseguiram se inserir nas escolas e
ter um convívio social adequado para seu desenvolvimento. Imagine se
contássemos com todo apoio e estrutura necessários para o
desenvolvimento deles", afirma Rozália.
Com relação o tratamento dos casos de esquizofrenia, a falta de
estrutura é a mesma, afirma o médico Ediwyrton Barros. Segundo ele, não
há, no estado, uma rede de apoio ideal para atendimento. Com isso,
muitos não procuram o tratamento e nem sequer identificam a doença.
"Teresina tem apenas quatro Centros de Atenção Psicossocial (CAPs),
quando, pela quantidade de habitantes, o ideal seria ao menos oito. Além
disso, há uma certa resistência das pessoas em procurar a ajuda de um
psiquiatra. Não é fácil aceitar o diagnóstico de um transtorno como
esse, por isso a importância do apoio tanto ao paciente quanto a
família", diz.
É essa dificuldade de tratamento, diagnóstico e convívio pela qual
passa a família da funcionária pública R.M.F.O, de 50 anos, desde que
seu irmão mais novo foi diagnosticado como esquizofrênico, há 17 anos. A
familiar, que prefere não ser identificada, conta que tudo começou
quando F.J.C.F.J tinha 25 anos.
Segundo ela, a doença se agravou quando o irmão disse ser perseguido
por um monge suicida, que pedia para que ele também se matasse. "Foi
nesse momento que nossa preocupação aumentou e decidimos levá-lo a um
médico porque tínhamos medo que ele se suicidasse", diz. Com a ajuda de
um profissional foi possível identificar o transtorno, que começou a ser
tratado com medicação. "Nessa época ele melhorou bastante, mas logo que
teve esse avanço, passou a recusar os remédios", explica.
Hoje, com 42 anos, F.J.C.F.J. não tem amigos e vive isolado em casa.
"Ele tem emprego, conseguiu se formar em Direito, mas a vida social se
resume apenas as horas em que está no trabalho", conta.
Tratamento proporciona qualidade de vida
De acordo com Barros, embora a cura da esquizofrenia e do autismo ainda não seja algo vislumbrado pela ciência, com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado é possível ter qualidade de vida.
De acordo com Barros, embora a cura da esquizofrenia e do autismo ainda não seja algo vislumbrado pela ciência, com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado é possível ter qualidade de vida.
"Obviamente que o resultado do tratamento vai depender muito do grau da
doença no paciente, de quando e como a mesma foi diagnosticada e
tratada. Mas vale ressaltar que há casos de autistas que têm atividade
intelectual excepcional. O mesmo acontece com os esquizofrênicos, onde
podemos citar como exemplo o caso do matemático John Nash - retratado no
filme Uma Mente Brilhante - que chegou a ganhar o prêmio Nobel de
Economia”.
FONTE: http://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2012/11/autistas-e-esquizofrenicos-sofrem-com-tratamento-precario-no-piaui.html
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