Angélica M Claudino, Antonio Carlos Correia e Mário DML Mateus
 Nos casos em que 
outras medidas não se impõem pela gravidade dos sintomas, e respeitadas 
as condições de redução de riscos, a abordagem verbal 
deve ser sempre a primeira escolha com objetivo de colher informações, 
avaliar o estado mental e, nos casos indicados, será a única intervenção 
adotada. 
Deixar que o paciente fale numa 
atmosfera de aceitação e tolerância, sem confrontação 
ou recomendações que possam ser sentidas como provocação, 
e manter uma atitude empática, geralmente favorecem um alívio 
da pressão dos impulsos e promovem maior colaboração do 
paciente. A abordagem verbal ou intervenção psicológica 
tem lugar nos casos em que transtornos de personalidade são considerados 
como diagnóstico mais provável e também nos casos de transtornos 
de ansiedade, desde que sintomas muito intensos não estejam presentes. 
Contenção 
física 
Pacientes extremamente agitados 
ou descontrolados podem precisar de contenção física com 
a finalidade de evitar danos à integridade física da equipe, de 
outros pacientes e de si próprios, além de danos materiais. 
Em alguns casos, a contenção 
física promove por si só alívio na sintomatologia do paciente. 
Se a medida é inevitável, cinco pessoas da equipe devem se aproximar 
simultaneamente do paciente, uma para cada membro do corpo e uma para segurar 
a cabeça e proceder à contenção no leito com faixas 
e material apropriado. 
Cada membro é preso à maca ou à 
cama por ataduras protegidas por algodão ortopédico ou faixas 
especiais; um lençol pode ser torcido como uma corda e usado para restringir 
o tronco, se necessário, como alças de uma mochila (nunca sobre 
o peito, restringindo os movimentos respiratórios). Se o paciente estiver 
cuspindo um lençol sobre parte do rosto deverá ser o suficiente. 
A equipe deve ser treinada para a contenção, de modo a agir coordenadamente 
e da maneira mais calma e silenciosa possível. Apenas uma pessoa deve 
falar, explicando o procedimento ao paciente e pedindo sua colaboração, 
mesmo que esse aparente não estar compreendendo o que ocorre ou não 
queira colaborar. 
O paciente contido deve ser observado 
continuamente pela equipe de enfermagem e reavaliado pelo médico num 
intervalo máximo de uma hora para se determinar a continuidade ou não 
da contenção. Caso esta se mostre necessária, visitas freqüentes 
devem verificar o estado geral do paciente, com especial atenção 
à sua perfusão periférica. 
O uso da medicação psicotrópica nesses casos pode prejudicar 
a sua avaliação e evolução, devendo, portanto, ser 
evitado sempre que possível. 
Uso da medicação 
Tranqüilização 
rápida 
Pacientes agitados com transtornos 
psicóticos não costumam se aliviar com uma abordagem verbal exclusiva. 
A tranqüilização rápida é um procedimento que 
utiliza medicamentos com o objetivo de diminuir o grau de agitação 
e de ansiedade de pacientes com sintomas psicóticos como esquizofrênicos 
e maníacos. Pode ser usado para outros quadros de agitação 
nas situações de emergência, desde que se assegure que não 
há risco de complicação para o paciente (descartando-se, 
por exemplo, causas orgânicas). 
A via de administração 
oral deve ser oferecida sempre que existir alguma possibilidade, mesmo precária, 
de diálogo com o paciente, pois a aplicação de injetáveis 
em pacientes agitados pode levar a acidentes, e a dor e o medo da injeção 
podem levar o paciente a exacerbar sua agitação. A efetividade 
da via oral (VO) é a mesma da intramuscular (IM), porém diversos 
autores sugerem a utilização de doses de 1,5 a 2 vezes mais altas 
do medicamento VO em relação a dose IM. 
Alguns pesquisadores preconizam 
o uso isolado de benzodiazepínicos com resultados semelhantes. O médico 
deve atentar para o risco de depressão respiratória decorrente 
do usode doses repetidas de benzodiazepínicos e estar preparado para 
manobras de reanimação caso se mostrem necessárias. 
Outra consideração 
importante é que o diazepam tem absorção irregular pela 
via IM, devendo-se dar preferência para a administração 
VO. As administrações via endovenosa de neurolépticos ou 
benzodiazepínicos devem ser utilizadas com grande cautela e monitoração 
da pressão arterial e do padrão respiratório. 
Outras intervenções 
com medicação 
Para todas as categorias diagnósticas, 
nos casos em que a agitação é grave, o médico deve 
sempre considerar o uso de medicamentos como medida auxiliar de controle da 
sintomatologia. 
Pacientes com transtornos psicóticos, 
que já utilizaram medicação neuroléptica tradicional 
em episódios anteriores, podem se beneficiar do acetato de zuclopentixol, 
um neuroléptico com ação sedante na forma de uma solução 
oleosa de liberação lenta, cuja ação inicia-se de 
duas a três horas após o início do tratamento e dura até 
três dias. Utiliza-se uma ampola de 50 mg/1 ml, intramuscular. 
O comportamento agressivo de 
pacientes com transtornos de personalidade pode ser minorado com o uso de neurolépticos 
como a clorpromazina na dose de 25 mg, por via IM, numa situação 
de urgência, ao lado da intervenção psicológica. 
Referências 
- Dubin WR, Weiss KJ, Dória JM. Pharmacotherapy of Psychiatric Emergencies. J Clin Psychopharmacology 1986;6(suppl 4):210-22.
- Ellison JM, Hughes DH, White KA. An emergency Psychiatry Update. Hosp Commun Psychiatry 1989;40(Suppl 3):250-60.
- Greenblat DJ, Raskin A. Benzodiazepines. New indications Psychopharmacol Bull 1986;22:77-87.
- Jobe TH, Winer JA. O paciente violento. In: Flaherty JA, Channon RA, Davis JM et al, eds. Psiquiatria, diagnóstico e tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas; 1990.
- Solano OA, Sadow T, Ananth J. Rapid tranquilization: a reevaluation. Neuropsychobiology 1989;22:90-6.
- Tardiff KJ. Violência. In: Talbott JA, Hales RE, Yudofsky SC, eds. Tratado de Psiquiatria. Porto Alegre: Artes Médicas; 1992.
 
 FONTE: http://www.unifesp.br/dpsiq/polbr/ppm/atu2_03.htm

 
 
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