A síndrome de Tourette ou síndrome de la Tourette, também referida como SGT ou ST, é uma desordem neurológica ou neuroquímica caracterizada por tiques, reações rápidas, movimentos repentinos (espasmos) ou vocalizações
que ocorre repetidamente da mesma maneira com considerável frequência.
Esses tiques motores e vocais mudam constantemente de intensidade e não
existem duas pessoas no mundo que apresentem os mesmos sintomas. A
maioria das pessoas afectadas é do sexo masculino.
A doença foi descrita pela primeira vez em 1825, pelo médico francês Jean Itard. Mais tarde, em 1885, Gilles de la Tourette publicou um relato de nove casos da doença, que denominou maladie des tics convulsifs avec coprolalie ("doença dos tiques convulsivos com coprolalia"). Posteriormente a doença foi renomeada "doença de Gilles de la Tourette", por Charcot, o influente diretor da Salpêtrière.
O início da síndrome
geralmente se manifesta na infância ou juventude do indivíduo,
eventualmente atingindo estágios classificados como crônicos. Porém, no
decorrer da vida adulta, frequentemente, os sintomas vão aos poucos se
amenizando e diminuindo. Mesmo assim, até hoje ainda não foi encontrada
uma cura para a Tourette. Tratamentos médicos existem para amenizar os
sintomas, porém, o consenso entre os profissionais da área é de que os
tratamentos precisam ser individualizados por causa das sempre presentes
reações adversas aos medicamentos.
Os tiques podem se manifestar em qualquer parte ou conjunto de partes
do corpo (barriga, nádegas, pernas, braços etc.), mas tipicamente eles
ocorrem no rosto e na cabeça - no rosto, como caretas repetidas, e na
cabeça como um todo, como movimentos bruscos, repetidos, de lado a lado
etc. A principal comorbidade é o transtorno obsessivo-compulsivo
(TOC), prevalente em aproximados 50% dos portadores. Os comportamentos
obsessivo-compulsivos estão intimamente ligados, tanto do ponto de vista
genético quanto do ponto de vista fenomenológico (Robertson &
Yakely, 2002). Outros sofrimentos psíquicos que se têm mostrado
abundantes são os distúrbios do sono, a ansiedade e a depressão.
Pesquisas têm levantado a possibilidade de que essas alterações possam
fazer parte dos próprios subtipos da ST (Robertson & Yakely, 2002).
Bastos e Vaz apresentam outras características psicológicas verificadas:
"Outros aspectos psicodinâmicos e comportamentais relativamente
comuns na ST, como os comportamentos opositivos, agressivos,
regressivos, a forma como está se dando a liberação dos impulsos, a
capacidade de autorregulação e autocrítica, a capacidade e estado de
adaptação, a capacidade de tolerância à tensão e ansiedade, a capacidade
de concentração no que se está fazendo, a liberação dos impulsos e
instintos mais primitivos, a liberação das reações emocionais
compatíveis com explosividade, os indicadores de falta de integração e
organização, a labilidade do controle emocional
e impulsividade, os indicadores de carência afetiva, a necessidade de
contato humano e de ausência de repressão, podem ser constatados nos
protocolos da técnica de Rorschach, e isto aparece de forma abundante na literatura sobre este teste" (Bastos & Vaz, 2009).
Um aspecto que merece ênfase ao se tentar explicar ou compreender
essa síndrome é que os sintomas ocorrem involuntariamente. Raramente uma
pessoa que sofre da síndrome consegue controlar um mínimo de seus
tiques e jamais por prolongados períodos de tempo. Assim como o ser
humano não consegue viver por muito tempo com os olhos abertos, pois seu
corpo reage de forma natural, inconsciente, para que seus olhos
pisquem, dessa mesma forma se manifestam os sintomas da síndrome de
Tourette no indivíduo por ela afetado.[4]
Infelizmente a reação de muitas pessoas desinformadas perante manifestações da síndrome de Tourette é aquela de fobia
ao diferente. Ainda mais: às vezes, a reação é de reprovação. Isso
ocorre especialmente quando a pessoa afetada pela síndrome de Tourette
manifesta sintomas de coprolalia.
A coprolalia enquadra aqueles indivíduos que, além de outros sintomas
de Tourette, veem-se obrigados a repetir palavras obscenas e/ou
insultos. Obviamente as consequências desse tipo de comportamento
geralmente se traduzem em diferentes graus de desvantagens no âmbito
social.
Os critérios diagnósticos oferecidos pelo DSM-IV-TR são:
- Múltiplos tiques motores e um ou mais tiques vocais em algum momento durante a doença, embora não necessariamente ao mesmo tempo (um tique é um movimento ou vocalização súbita, rápida, recorrente, não rítmica e estereotipada).
- Os tiques ocorrem muitas vezes ao dia (geralmente em ataques) quase todos os dias ou intermitentemente durante um período de mais de um ano, sendo que durante esse período jamais existe uma fase livre de tiques superior a 3 meses consecutivos.
- A perturbação causa acentuado sofrimento ou prejuízo significativo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
- O início dá-se antes dos 18 anos de idade.
- A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por exemplo, estimulantes) ou a uma condição médica geral (por exemplo, doença de Huntington ou encefalite pós-viral) (DSM-IV-TR, 2002, p.101).
A mais antiga referência conhecida à síndrome de la Tourette é de 1489 e aparece no livro Malleus maleficarum
("martelo da bruxa"), de Jakob Sprenger e Heinrich Kraemer, onde é
descrito o caso de um padre cujos tiques seriam supostamente
relacionados à possessão demoníaca .
O primeiro caso da síndrome de la Tourette foi identificado em 1825 por Jean Itard,
médico francês, que descreveu os sintomas da Marquesa de Dampierre, uma
aristocrata francesa que se notabilizou por proferir palavras obscenas
publicamente, no meio de conversações. Décadas depois, já no final do século XIX, Jean-Martin Charcot confiou ao neurologista Georges Gilles de la Tourette, o estudo de pacientes do Hospital da Salpêtrière, visando definir uma doença distinta da histeria e da coreia. Em 1885, Gilles de la Tourette, a partir da descrição do caso da Marquesa de Dampierre, feita por Itard, publicou um relato sobre nove pacientes (Étude sur une affection nerveuse), e concluiu que seria necessário definir uma nova categoria clínica. A esta, Charcot chamou "doença de Gilles de la Tourette".
Durante um século, não se conseguiu explicar ou tratar os tiques característicos da síndrome. A abordagem psiquiátrica foi privilegiada ao longo do século XX.
A possibilidade de que as perturbações motoras, características da
síndrome de la Tourette, pudessem ser de origem orgânica só foi
considerada a partir de 1920, quando uma epidemia de encefalite, entre 1918 e 1926 desencadeou, na sequência, um aumento importante dos casos de distúrbios motores e tiques.
Durante os anos 1960 e 1970, a abordagem psicanalítica foi contestada após a descoberta do haloperidol, que permite atenuar os tiques. A virada ocorreu em 1965, quando Arthur K. Shapiro,
considerado como o precursor da pesquisa moderna no tratamento de
tiques, publicou um artigo criticando a abordagem psicanalítica, depois
de ter tratado um paciente, portador de síndrome de la Tourette, com
haloperidol.
A partir dos anos 1990,
adota-se uma abordagem mais refinada, e a doença é geralmente
considerada como uma combinação de vulnerabilidade biológica em
interação com fatores ambientais. Em 2000, a Associação Americana de Psiquiatria publica o DSM-IV-TR, modificando o texto do DSM-IV.
A partir de 1999, importantes descobertas ocorrem no campo da genética, da neuroimagem e da neurofisiologia.
Muitas questões permanecem ainda sem resposta sobre a melhor maneira de
caracterizar a síndrome de la Tourette e sobre o grau de proximidade
com outros transtornos dos movimentos ou com transtornos psiquiátricos. Os dados epidemiológicos ainda são insuficientes, e os tratamentos disponíveis ainda oferecem riscos e nem sempre são bem tolerados pelo organismo.
FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADndrome_de_Tourette
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