1. DEFINIÇÃO
A doença de Parkinson (DP) ou Mal de
Parkinson, é uma doença degenerativa, crônica e progressiva, que acomete
em geral pessoas idosas. Ela ocorre pela perda de neurônios do SNC em
uma região conhecida como substância negra (ou nigra). Os neurônios
dessa região sintetizam o neurotransmissor dopamina, cuja diminuição
nessa área provoca sintomas principalmente motores. Entretanto, também
podem ocorrer outros sintomas, como depressão, alterações do sono,
diminuição da memória e distúrbios do sistema nervoso autônomo. Os
principais sintomas motores se manifestam por tremor, rigidez muscular,
diminuição da velocidade dos movimentos e distúrbios do equilíbrio e da
marcha.
2. RESUMO HISTÓRICO
No ano de 1817, um médico inglês chamado
James Parkinson, membro do Colégio Real de Cirurgiões, e homem bastante
culto para a sua época, publicou sua principal obra: Um ensaio sobre a
paralisia agitante, no qual descreveu os principais sintomas de uma
doença que futuramente viria a ser chamada pelo seu nome.
Charcot igualmente, desempenhou um papel decisivo na
descrição da doença, descrevendo a rigidez, a micrografia e a disartria,
e discordando de Parkinson quanto a presença de paralisia. Foi também o
responsável pela introdução da primeira droga eficaz.
Com relação aos fatos históricos relacionados com seu
tratamento, sabe-se que das várias tentativas do passado, drogas
anticolinérgicas derivadas da beladona, introduzidas por Charcot no
final do século passado, foram as primeiras que tiveram alguma eficácia
reconhecida. Contudo, apenas no final dos anos 50, observou-se um
progresso real, através de um estudo feito na Suécia onde ofereceu-se
levodopa para ratos intoxicados por reserpina que desenvolveram
parkinsonismo. Observou-se uma melhora expressiva da motricidade desses
ratos. A descoberta da levedopa foi o prenúncio da revolução observada
na década seguinte. No princípio dela, Ehringer e Hornykiewicz afirmaram
que o parkinsoniano devia-se à não-produção de dopamina pela substância
negra mesencefálica. Na segunda metade desta década, Cotzias e
Birkmayer, de modo independente, sugeriram o tratamento da doença de
Parkinson com a forma levógira da dopamina (levodopa). A introdução
desta droga provocou um impacto marcante, com radicais mudanças na vida
dos seus sofredores e influenciando inclusive o prognóstico até então
sombrio. Seres humanos petrificados e tremulantes nos seus leitos, sob
ação desta droga voltaram a usufruir de uma existência digna, fato que
foi muito bem exemplificado no filme "Tempo de Despertar", estrelado
pelo Robert de Niro.
3. CAUSAS:
Sabe-se que os sintomas da doença devem-se à
degeneração dos neurônios da substância negra, no entanto, na maioria
das vezes, é desconhecido o motivo que leva a essa degeneração.
A DP é apenas uma das formas, embora a mais
freqüente, de parkinsonismo. O termo parkinsonismo refere-se a um grupo
de doenças que apresentam em comum os mesmos sintomas, associados ou não
a outras manifestações neurológicas. A DP é também chamada de
parkinsonismo primário ou idiopático porque é uma doença para a qual
nenhuma causa conhecida foi identificada. Por outro lado, diz-se que um
parkinsonismo é secundário quando uma causa pode ser identificada ou
quando está associada a outras doenças degenerativas. Cerca de 2/3 de
todas as formas de parkinsonismo correspondem à forma primária.
O fator genético exerce influência, mas em números, é pouco representativo neste mal.
Os fatores que podem desencadear a síndrome parkinsoniana ou parkinsonismo, são:
a) Uso exagerado e contínuo de medicamentos. Um
exemplo de substância que pode causar parkinsonismo é a cinarizina,
usada freqüentemente para aliviar tonturas e melhorar a memória, a qual
pode bloquear o receptor que permite a eficácia da dopamina.
b) Trauma craniano repetitivo. Os lutadores de boxe,
por exemplo, podem desenvolver a doença devido às pancadas que recebem
constantemente na cabeça. Isso pode afetar o bom funcionamento cerebral.
c) Isquemia cerebral. Quando a artéria que leva
sangue à região do cérebro responsável pela produção de dopamina entope,
as células param de funcionar.
d) Freqüentar ambientes tóxicos, como indústrias de
manganês (de baterias por exemplo), de derivados de petróleo e de
inseticidas.
4. EXPLICAÇÃO SOBRE A SUBSTÂNCIA NEGRA:
O sistema nervoso é formado por células
(neurônios) que estão conectados entre si através de sinapses (espaços
intercelulares) entre seus prolongamentos (dentritos e axônios). A
disposição dos neurônios assemelha-se a uma rede, onde uma região pode
comunicar-se com outra através de neurotransmissores, que são
substâncias ou moléculas produzidas no corpo celular e transportadas
através do axônio até a sinapse. O neurotransmissor pode excitar
(ativar) ou inibir o neurônio subseqüente.
A substância negra mesencefálica é chamada assim
porque os neurônios localizados no mesencéfalo que a constituem contêm o
pigmento escuro melanina, o qual é produzido juntamente com a dopamina.
Dessa forma, em um corte do cérebro, esta região se apresentará como
uma mancha escura. A substância negra está conectada através de
sinapses, com outro grupo de neurônios que constituem os gânglios da
base.
Os gânglios da base são conjuntos de corpos neuronais
localizados no interior do hemisfério cerebral, cujos principais
componentes são o núcleo caudado, o putâmen, o globo pálido, o núcleo
subtalâmico e a própria substância negra. O núcleo caudado, o putâmen e o
globo pálido, podem ser chamados em seu conjunto como corpo estriado, e
estão intimamente relacionados entre si, participando do controle da
postura e do movimento. A dopamina produzida na substância negra
funciona como neurotransmissor inibitório no corpo estriado. Quando um
movimento é iniciado pelo córtex cerebral, os impulsos são transmitidos
para o corpo estriado e dali podem seguir dois caminhos. Quando o
movimento é desejado, os neurônios do corpo estriado aumentam a
atividade de neurônios talâmicos e do córtex cerebral, facilitando a
execução dos movimentos. No entanto, se o movimento for indesejado,
ocorre ativação dos neurônios da substância negra, que inibem as células
talâmicas e corticais, inibindo os movimentos. Na Doença de Parkinson,
há uma diminuição das concentrações de dopamina, por isso o corpo
estriado tornar-se excessivamente ativo, dificultando o controle dos
movimentos pela pessoa acometida.
5. SINTOMAS:
A progressão dos sintomas é usualmente lenta
mas a velocidade com que essa progressão se desenvolve é bastante
variável em cada caso. Os primeiros sintomas da DP têm início de modo
quase imperceptível e progridem lentamente o que faz com que o próprio
paciente ou seus familiares não consigam identificar o início preciso
das primeiras manifestações. O primeiro sinal pode ser uma sensação de
cansaço ou mal estar no fim do dia. A caligrafia pode se tornar menos
legível ou diminuir de tamanho, a fala pode se tornar mais monótona e
menos articulada. O paciente freqüentemente torna-se deprimido sem
motivo aparente. Podem ocorrer lapsos de memória, dificuldade de
concentração e irritabilidade. Dores musculares são comuns,
principalmente na região lombar.
Muitas vezes, amigos ou familiares são os primeiros a
notar as primeiras mudanças: um braço ou uma perna movimenta-se menos
do que o outro lado, a expressão facial perde a espontaneidade (como se
fosse uma máscara), diminui a freqüência com que a pessoa pisca o olho,
os movimentos tornam-se mais vagarosos, a pessoa permanece por mais
tempo em determinada posição e parece um tanto rígida.
À medida que a doença progride, aparecem outros
sintomas. O tremor é geralmente o primeiro a ser notado pelo paciente e
acomete primeiramente um dos lados, usualmente uma das mãos, mas pode se
iniciar em um dos pés. Segurar um objeto ou ler o jornal podem se
tornar atividades árduas. O tremor é mais intenso quando o membro
encontra-se em repouso ou durante a marcha e desaparece quando em
movimento. Para a maioria dos pacientes, o tremor é o principal motivo
que os leva a procurar pela primeira vez ajuda médica.
Os sintomas da doença de Parkinson variam de pessoa
para pessoa. Algumas pessoas podem apresentar sintomas graves, enquanto
outras apresentam apenas alguns sintomas leves. No início, os sintomas
da doença de Parkinson podem afetar apenas um lado do corpo. Mais tarde,
freqüentemente, ambos os lados são afetados. Em geral, os sintomas
mudam com o passar do tempo - A memória e o raciocínio são geralmente
afetados.
O diagnóstico de DP persiste sendo feito
essencialmente em bases clínicas. Tremor, rigidez, bradicinesia e
instabilidade postural de intensidades variáveis individualmente, são os
sinais e sintomas clássicos. Os sintomas são:
a) Tremor: a mão ou o braço treme. O tremor também
pode afetar outras áreas, como a perna, o pé ou o queixo. Esse tremor
pára durante o sono e diminui no movimento. Caracteristicamente ele
inicia assimetricamente, acometendo a extremidade de um dos membros
superiores à frequência de 4-5 ciclos por segundo. Pode ser comparado
com o movimento exibido por caixas de banco, quando estão contando
dinheiro.
b) Rigidez: acontece porque os músculos não recebem ordem para relaxar. Pode causar dores musculares e postura encurvada.
c) Bradicinesia: movimentos lentos. Iniciar
movimentos exige um esforço extra, causando problemas para levantar de
cadeiras e de camas. O andar pode limitar-se a passos curtos e
arrastados. Pessoas com esta doença às vezes sentem-se "congeladas",
incapazes de mover-se. As expressões faciais e o balançar os braços
enquanto caminha tornam-se mais vagorosos ou ausentes.
d) Alteração no equilíbrio: a pessoa anda com a
postura levemente curvada para frente, podendo causar cifose ou provocar
quedas (para frente ou para trás).
e) Voz: a pessoa passa a falar baixo e de maneira monótona.
f) Escrita: a caligrafia torna-se tremida e pequena.
g) Artralgia: será encontrada na imensa maioria dos
pacientes com DP que já desenvolveram algum grau de rigidez muscular.
Além disso, os pacientes com DP tendem a exteriorizar níveis de
osteoporose superiores àquela detectada em uma população de igual faixa
etária. Nestes pacientes, a melhor alternativa para minimizar os efeitos
da osteoporose, é a melhoria do seu status motor através terapia
anti-parkinsoniana apropriada.
h) Sistema Digestivo e Urinário: Deglutição e
mastigação podem estar comprometidas. Uma vez que os músculos utilizados
na deglutição podem trabalhar de modo mais lento, pode haver acúmulo de
saliva e alimento na boca fazendo o paciente engasgar ou derramar
saliva pela boca. Além disso, alterações urinárias e constipação
intestinal podem ocorrer pelo funcionamento inadequado do sistema
nervoso autônomo. Alguns pacientes apresentam certa dificuldade para
controlar o esfíncter da bexiga antes de uma micção iminente (urgência
urinária) enquanto que outros têm dificulade para iniciar a micção. A
obstipação intestinal, ou prisão de ventre, ocorre porque os movimentos
intestinais são mais lentos mas outros fatores tais como atividade
física limitada e dieta inadequada também podem ser responsáveis.
i) Determinados movimentos involuntários automáticos,
são gradualmente abolidos durante a evolução da DP. As pálpebras, por
exemplo, ficam indolentes, piscando cada vez menos.
j) Braços que não balançam ao deambular (andar):
resulta em uma marcha típica. No início da doença é comum que apenas um
braço se movimente enquanto o outro fica imóvel. Posteriormente, ambos
tornam-se imóveis.
k) Depressão e déficit cognitivo: A depressão é um
sintoma bastante freqüente e pode ocorrer cedo na evolução da doença,
mesmo antes dos primeiros sintomas serem notados. Provavelmente
relacionada à redução de um neurotransmissor chamado serotonina.
Alterações emocionais são comuns. Pacientes podem sentir-se inseguros e
temerosos quando submetidos a alguma situação nova. Podem evitar sair ou
viajar e muitos tendem a retrair-se e evitar contatos sociais. Alguns
perdem a motivação e tornam-se excessivamente dependentes de familiares.
Alterações da memória, geralmente na forma de "esquecimentos" ou
"brancos" momentâneos são comuns. O raciocínio torna-se mais lento e
pode haver dificuldades específicas em atividades que requerem
organização espacial. Entretanto, de modo geral, as funções intelectuais
e a capacidade de julgamento estão preservadas.
Um critério importante para se diferenciar a genuína
doença de Parkinson de outras formas de parkinsonismo, é a resposta a
levodopa. Salvo raras exceções, os indivíduos com DP responderão
favoravelmente ao medicamento, o que nem sempre ocorre no parkinsonismo
secundário. No entanto, a melhora do quadro clínico de um indivíduo na
fase inicial de DP, onde geralmente se observa apenas leve tremor
unilateral pode não ser verificada e não está indicada.
6. TRATAMENTO:
Podemos dividir as estratégias de tratamento
da DP em (1) medidas não-farmacológicas, (2) medidas farmacológicas e
(3) tratamento cirúrgico.
As medidas não-farmacológicas compreendem uma série
de hábitos e medidas de valor especial na DP por minimizar algumas de
suas complicações. Devemos deixar claro que estas medidas não atenuam a
gravidade da doença ou impedem sua progressão, mas mantém o indivíduo
melhor preparado para enfrentar as alterações orgânicas e psicológicas
decorrentes da consunção e insuficiência motora típicas desta
enfermidade. Tais medidas são: (i) a educação, (ii) o tratamento de
suporte, (iii) o exercício e (iv) nutrição.
O paciente precisa ser informado da natureza de sua doença, sua causa e a relação com o tratamento a ser instituído.
O suporte psicológico médico e familiar deve ser
estimulado. Metade dos pacientes com DP desenvolvem depressão, que será
tratada com anti-depressivos (preferencialmente os tricíclicos) e/ou
terapia de apoio. Outras alternativas valorosas são os grupos de apoio, o
aconselhamento financeiro (quando a enfermidade acomete o principal
responsável pelo orçamento familiar) e a terapia ocupacional.
Sabe-se que a DP não se restringe apenas a
transtornos da motricidade; alterações psíquicas decorrentes tanto da
dificuldade em se iniciar movimento, quanto das mudanças neuroquímicas
induzidas por deficiência de dopamina ou pela ação dos medicamentos
utilizados e pela nova visão que o paciente tem do meio, são
responsáveis pela grande prevalência de depressão reativa entre estes
indivíduos. Por estes motivos, não devemos delegar todas as tarefas de
suporte, inclusive psicológico, a outros profissionais e esquecer o
papel fundamental do médico. Uma sólida relação entre um profissional
seguro, confiante e empático, que demonstre estar efetivamente
preocupado com o paciente e aqueles que o cercam; animando, esclarecendo
e reconfortando durante as consultas, tem uma eficácia tão ou mais
poderosa que as drogas antidepressivas.
Por um outro lado, exercícios não impedem a
progressão da doença, mas mantém um estado de funcionamento muscular e
osteo-articular conveniente.Nós já sabemos que anos de evolução de
rigidez e bradicinesia produzem alterações patológicas ósseas
(osteoporose e artrose) responsáveis por uma incapacidade funcional
ainda mais limitante. Além disso, o bom impacto dos exercícios sobre a
disposição e o humor são pontos favoráveis a esta terapia.
Desnutrição e perda de peso são observados em grande
parcela dos pacientes. Nenhuma dieta especial é necessária nos quadros
leves e moderados, além do cuidado em se ter refeições saudáveis e
balanceadas, indistinguíveis das que seriam convenientes a todos nós.
Boas refeições, ricas em cálcio e fibras, produzem um melhor estado
orgânico, bem-estar geral, prevenção de osteoporose e de constipação
intestinal.
Na doença avançada, as proteínas ingeridas geram na
luz intestinal aminoácidos que competem com a absorção da levodopa. Esta
competição leva a uma absorção errática da l-dopa e níveis séricos
inconstantes, o que contribui para o agravo das flutuações motoras.
Neste estágio, dieta hipoproteica está indicada. Este programa alimentar
na verdade não diminui o aporte proteico, mas o concentra nas refeições
após as 18:00 horas. Assim, a dieta com baixo teor de proteínas ao
longo do dia não interfere na absorção de levodopa, e o equilíbrio
nutricional pode ser reestabelecido à noite.
Considerando as alternativas farmacológicas
disponíveis, pode-se afirmar que o arsenal medicamentoso
antiparkinsoniano da atualidade, limita-se as seguintes opções:
1. selegilina;
2. amantadina;
3. anticolinérgicos;
4. levodopa;
5. agonistas dopaminérgicos.
Quanto a levodopa, inicialmente frisamos que continua
sendo a principal forma de tratamento da doença de Parkinson
idiopática. Seu emprego associa-se a menor morbi-mortalidade, e
virtualmente todos os pacientes beneficiar-se-ão de seu uso. Por quase
trinta anos, tem sido administrada a milhões de pacientes com DP. No
princípio era empregada pura, e altas doses enterais eram necessárias
para que uma ínfima parcela atingisse o SNC. Além disso, a rápida
conversão periférica de l-dopa em dopamina pela dopa-descarboxilase,
resultava em desagradáveis efeitos colaterais, como náuseas, vômitos e
hipotensão ortostática. Porém, com o passar dos anos, descobriram-se
substâncias antagônicas de dopa-descarboxilase, permitindo que doses
menores fossem utilizadas e maior eficácia terapêutica obtida.
Inibidores de dopa-descarboxilase estão em voga desde há cerca de 30
anos, sendo mister reconhecer o papel histórico que tiveram na melhoria
da qualidade de vida dos pacientes com DP. Dois deles estão disponíveis
em produtos comerciais associados à levodopa e são oferecidos
mundialmente: carbidopa (Sinemet®) e benzerazida (Prolopa®).
Porém, a vulnerabilidade da levodopa fica patente
quando se contempla os graves sintomas neuro-psiquiátricos associados
com seu uso prolongado.
MANUSEIO DAS COMPLICAÇÕES RELACIONADAS AO USO CRÔNICO DE L-DOPA
O uso crônico de doses terapêuticas de
levodopa provoca, inevitavelmente, os efeitos colaterais: (i) flutuações
motoras, (ii) discinesias e (iii) distúrbios psiquiátricos. Estes
péssimos efeitos da terapia prolongada, geralmente remitem após
suspensão do medicamento ou redução da dose. Curiosamente, não há
evidências experimentais de verdadeira toxicidade por levodopa em
pesquisas in vivo. De fato, o que se tem notado é que este intrigante
fármaco possui propriedades químicas neuroprotetoras62. Entretanto, o
surgimento destes transtornos após períodos variáveis de tempo, é um
fato inequívoco e deve dar lugar a consideração sobre as vantagens da
continuidade da levodopoterapia.
TRATAMENTO CIRÚRGICO DA DOENÇA DE PARKINSON
A abordagem cirúrgica da doença de Parkinson
tem quase um século. Portanto, muito antes da introdução de medicação
dopaminérgica, cirurgias já eram executadas para tratar tremor, rigidez e
bradicinesia, com graus variáveis de sucesso.
O tratamento cirúrgico da DP pode ser dividido em
três categorias maiores: (i) técnicas lesionais, (ii) estimulação
cerebral e (iii) transplantes.
técnicas lesionais
1. A talamotomia é uma técnica indicada no tremor.
Pode proporcionar uma redução de 80% da intensidade do tremor, em
especial se este for predominante em um dimídio. As complicações incluem
apraxia do membro superior, disartria, disfagia, abulia 73, distúrbios
da fala e da linguagem, principalmente nas intervenções bilaterais 71.
2. A palidotomia estereotática do globo pálido
interno é o procedimento cirúrgico de escolha no tratamento de
discinesias induzidas por levodopa, promovendo uma notável melhora deste
sintoma. Há relatos de complicações como disfunção cognitiva, disfagia,
disartria, hemianopsia lateral homônima, hemiparesia transitória,
abscesso intracraniano e hemorragia subcortical e palidal.
estimulação cerebral profunda (ECP)
Há uma grande semelhança nos efeitos clínicos obtidos
com lesão cirúrgica e estímulo cerebral profundo. Tal fato sugere que a
estimulação elétrica crônica atue de forma a romper ou inibir a
atividade neuronal.
Além de ser um método seguro, a estimulação cerebral
profunda possui a vantagem de poder ser regulada ou mesmo suspensa, ao
contrário das técnicas lesionais. Da mesma forma, não impede que o
paciente possa futuramente obter proveito de novas abordagens.
O eletrodo, sustentado por uma bateria subcutânea que
dura de 3 a 5 anos, pode ser implantado no núcleo subtalâmico ou no
globo pálido interno. Há certa evidência de que a estimulação do núcleo
subtalâmico produza melhores resultados. Ao atenuar as discinesias, a
estimulação subtalâmica permite o aumento da dose de levodopa e melhorar
os sintomas parkinsonianos. Independentemente da ação da levodopa,
melhora da bradicinesia e do tremor pode ser observada 79-81. As
complicações encontradas são disartria e alterações do equilíbrio 82. O
alto custo desta forma de tratamento é um de seus principais fatores
limitantes. Além disso, a estimulação cerebral profunda é um método
recente e seus benefícios e riscos concretos ainda não foram
satisfatoriamente analisados.
transplante
O auto-transplante de células da medula adrenal, como
repositório da depleção dopaminérgica nigro-estriatal foi abandonado,
devido à indiferença de seus resultados, reflexo da curta sobrevivência
das células transportadas no núcleo caudado ou putâmen.
Uma alternativa recente muito mais atraente e que vem
obtendo resultados gratificantes é o alotransplante de células
medulares adrenais ou mesencefálicas de fetos, sendo o último o local
mais pesquisado.
FONTE: http://www.doencadeparkinson.com.br/resumodp.htm
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