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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Pesquisadores descobrem novo remédio à esquizofrenia

Atualizada às 10h27 de segunda-feira, 29 

O tratamento para a esquizofrenia ganhou um novo aliado nos últimos meses. Uma fórmula que usa uma substância tradicionalmente indicada para a hipertensão arterial sistêmica grave, o nitroprussiato de sódio, mostrou ação satisfatória sobre sintomas chamados de negativos e cognitivos. 
Esses sintomas são marcados pela diminuição da expressão afetiva, déficit cognitivo e depressão do esquizo-frênico. No entanto, ainda não havia medicamentos capazes de agir efetivamente sobre eles - os antipsicóticos, usados no tratamento da esquizofrenia, oferecem melhora nos delírios e nas alucinações, mas discretamente naquelas outras áreas.
O nitroprussiato de sódio tem ação de dilatação dos vasos sanguíneos, mas para a esquizofrenia demonstrou ter função de atuar no sistema nervoso central. Esse estudo promissor é resultado de uma parceria de pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), da Universidade de São Paulo (USP) e da Unidade de Pesquisa em Neuroquímica da Universidade de Alberta, do Canadá.
No total, foram três anos de testes em pacientes que estavam internados no Hospital das Clínicas, em Ribeirão Preto. As comparações eram feitas entre dois grupos: um recebia placebo e o outro, uma droga elaborada à base de nitroprussiato de sódio. O último apresentava resultados animadores por até 28 dias após a administração via intravenosa da medicação, e sem efeitos colaterais.
Um dos coordenadores do estudo é o psiquiatra e professor Jaime Hallak, da FMRP. A pesquisa agora se volta para a análise do uso por repetição dessa nova droga, que já demonstra estabilidade do paciente por até três meses, o que os pesquisadores envolvidos consideram uma esperança para outros estudos que levem até mesmo à cura da esquizofrenia.
A Sociedade Brasileira de Psiquiatra (SBP) define a esquizofrenia como uma “doença mental complexa e intrigante, cujas causas não são ainda totalmente conhecidas”. Também a considera uma doença grave, como muitas variáveis na manifestação do quadro, além de provocar grande comprometimento nas relações afetivas, sociais e profissionais, pois causa sofrimento ao esquizofrênico, sua família e seus amigos.
A doença tem como característica principal uma quebra brusca no desenvolvimento e contato com a realidade. As causas ainda não são certas, mas, como toda doença mental, pode ter como ponto de origem fatores genéticos e externos, informa a psiquiatra Claudiane Salles Daltio, uma das coordenadoras do Programa de Esquizofrenia (Proesq), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“Acredita-se hoje que o que acontece é um problema no desenvolvimento cerebral, mas isso ainda é vago. Aos fatores ambientais, associa-se à doença ao uso de drogas ou a algum problema no momento do parto, por exemplo”, diz.
Mudança de fase
A esquizofrenia é uma doença mental que se desencadeia no fim na adolescência e em jovens adultos. Uma pessoa que leva uma vida normal, de repente, fica retraída, descuida-se da própria higiene, busca o isolamento e passa a ter atitudes estranhas que fogem à rotina. “Esse período pode durar de seis meses a um ano, quando inicia o quadro com surto agudo”, diz o psiquiatra Itiro Shirakawa.
O psiquiatra infantil Gilberto Emílio Nogueira, de Rio Preto, explica que pessoas mais suscetíveis geneticamente à esquizofrenia podem apresentar o quadro mais cedo do que o esperado. Isso acontece quando o esquizofrênico vive em um ambiente com situações psicossociais estressantes.
Entre os exemplos, Nogueira cita a exclusão social, uma educação muito rígida e a existência de algum transtorno mental ou conflitos interpessoais na família, que podem ainda aumentar a frequência e duração das crises. “Quando está em crise, o paciente se expõe a situações de risco, como a possibilidade de suicídio, consumo de drogas e outros, ou apresenta um quadro grave de agressividade, sendo, às vezes, necessária a internação psiquiátrica de curta duração.”
Em geral, o tratamento é feito com medicamentos específicos, conta o psiquiatra Itiro Shirakawa, vice-presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). “A esquizofrenia é tratada com um grupo de antipsicóticos. Não são medicamentos que dopam, apenas controlam a alteração clínica, em doses que vão sendo adequadas a cada paciente”, diz.
Primeiros sinais
Sem marcadores biológicos capazes de indicar precocemente por meio de testes genéticos quem desenvolverá a esquizofrenia, é preciso muita atenção a alguns sinais. Mesmo na infância e adolescência é possível notar que o desenvolvimento social está regredindo.
“Na infância e adolescência, teremos uma predominância de isolamento social, distanciamento afetivo, mudanças bruscas do humor, queda no rendimento escolar, pensamentos delirantes, alucinações auditivas e dificuldades nos relacionamentos interpessoais”, informa o psiquiatra infantil Gilberto Emílio Nogueira.O diagnóstico na infância, porém, é muito raro, destaca Nogueira.
A dificuldade dá-se pelo fato de ser complicado para uma criança expressar o que ela pensa e sente. Os números mostram que há um caso para casa 10 mil crianças, na proporção de 1 menina para cada 2,5 meninos. “Há relatos de crianças diagnosticadas com três anos, mas tenho casos que iniciaram ao redor dos seis. Já a partir dos 12 anos, aumenta muito a manifestação até o início da fase adulta, vindo a estabilizar e se equivaler em ambos os sexos”, conta o psiquiatra infantil de Rio Preto.
Quanto mais cedo ocorrer a busca por ajuda psiquiátrica para o diagnóstico e início do tratamento, menos crises e menor duração elas terão.
Faltam vagas
A falta de vagas e a diminuição do número de leitos na região provocam filas de espera e um atendimento precário. Segundo o provedor do hospital psiquiátrico Adolfo Bezerra de Menezes, de Rio Preto, Grácio Tomaz Saturno, a demanda é muito maior. O provedor diz que um levantamento da regional de saúde de Rio Preto apontou que são necessárias mais 305 vagas para suprir o atendimento psiquiátrico na região.
O motivo pela direção contrária, segundo Grácio, é em razão de uma nova política de saúde mental do governo federal que está diminuindo as vagas nos hospitais psiquiátricos e até fechando alguns, como aconteceu com a unidade de Nova Granada. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde não se manifestou.
“Quando chegam pacientes esquizofrênicos em surto, eles são atendidos na emergência, que possui mais 11 leitos, e aguardam lá por 72 horas pela liberação de uma vaga. Mas, se não abre, o paciente volta para casa ou para a rua sem conseguir o atendimento completo que precisa”, conta Grácio.
O psiquiatra Itiro Shirakawa, vice-presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), diz que o tratamento público no Brasil não está adequado, o que vem provocando situações sérias de risco aos esquizofrênicos e à sociedade.
Para ele, o que acontece no momento é uma desassistên-cia, destacando que os Centros de Assistência Psicossocial (CAPs) não são suficientes para oferecer esse atendimento, pois “são equipamentos de reabilitação, não tratam os casos agudos”, diz.
FONTE: http://www.diarioweb.com.br/novoportal/Noticias/Saude/145460,,Pesquisadores+descobrem+novo+remedio+a+esquizofrenia.aspx

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