Atualizada às 10h27 de segunda-feira, 29
O tratamento para a esquizofrenia ganhou um novo aliado nos últimos
meses. Uma fórmula que usa uma substância tradicionalmente indicada para
a hipertensão arterial sistêmica grave, o nitroprussiato de sódio,
mostrou ação satisfatória sobre sintomas chamados de negativos e
cognitivos.
Esses sintomas são marcados pela diminuição da expressão
afetiva, déficit cognitivo e depressão do esquizo-frênico. No entanto,
ainda não havia medicamentos capazes de agir efetivamente sobre eles -
os antipsicóticos, usados no tratamento da esquizofrenia, oferecem
melhora nos delírios e nas alucinações, mas discretamente naquelas
outras áreas.
O nitroprussiato de sódio tem ação de dilatação dos vasos
sanguíneos, mas para a esquizofrenia demonstrou ter função de atuar no
sistema nervoso central. Esse estudo promissor é resultado de uma
parceria de pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
(FMRP), da Universidade de São Paulo (USP) e da Unidade de Pesquisa em
Neuroquímica da Universidade de Alberta, do Canadá.
No total, foram três anos de testes em pacientes que estavam
internados no Hospital das Clínicas, em Ribeirão Preto. As comparações
eram feitas entre dois grupos: um recebia placebo e o outro, uma droga
elaborada à base de nitroprussiato de sódio. O último apresentava
resultados animadores por até 28 dias após a administração via
intravenosa da medicação, e sem efeitos colaterais.
Um dos coordenadores do estudo é o psiquiatra e professor Jaime
Hallak, da FMRP. A pesquisa agora se volta para a análise do uso por
repetição dessa nova droga, que já demonstra estabilidade do paciente
por até três meses, o que os pesquisadores envolvidos consideram uma
esperança para outros estudos que levem até mesmo à cura da
esquizofrenia.
A Sociedade Brasileira de Psiquiatra (SBP) define a esquizofrenia
como uma “doença mental complexa e intrigante, cujas causas não são
ainda totalmente conhecidas”. Também a considera uma doença grave, como
muitas variáveis na manifestação do quadro, além de provocar grande
comprometimento nas relações afetivas, sociais e profissionais, pois
causa sofrimento ao esquizofrênico, sua família e seus amigos.
A doença tem como característica principal uma quebra brusca no
desenvolvimento e contato com a realidade. As causas ainda não são
certas, mas, como toda doença mental, pode ter como ponto de origem
fatores genéticos e externos, informa a psiquiatra Claudiane Salles
Daltio, uma das coordenadoras do Programa de Esquizofrenia (Proesq), da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“Acredita-se hoje que o que acontece é um problema no
desenvolvimento cerebral, mas isso ainda é vago. Aos fatores ambientais,
associa-se à doença ao uso de drogas ou a algum problema no momento do
parto, por exemplo”, diz.
Mudança de fase
A esquizofrenia é uma doença mental que se desencadeia no fim na
adolescência e em jovens adultos. Uma pessoa que leva uma vida normal,
de repente, fica retraída, descuida-se da própria higiene, busca o
isolamento e passa a ter atitudes estranhas que fogem à rotina. “Esse
período pode durar de seis meses a um ano, quando inicia o quadro com
surto agudo”, diz o psiquiatra Itiro Shirakawa.
O psiquiatra infantil Gilberto Emílio Nogueira, de Rio Preto,
explica que pessoas mais suscetíveis geneticamente à esquizofrenia podem
apresentar o quadro mais cedo do que o esperado. Isso acontece quando o
esquizofrênico vive em um ambiente com situações psicossociais
estressantes.
Entre os exemplos, Nogueira cita a exclusão social, uma educação
muito rígida e a existência de algum transtorno mental ou conflitos
interpessoais na família, que podem ainda aumentar a frequência e
duração das crises. “Quando está em crise, o paciente se expõe a
situações de risco, como a possibilidade de suicídio, consumo de drogas e
outros, ou apresenta um quadro grave de agressividade, sendo, às vezes,
necessária a internação psiquiátrica de curta duração.”
Em geral, o tratamento é feito com medicamentos específicos, conta o
psiquiatra Itiro Shirakawa, vice-presidente da Associação Brasileira de
Psiquiatria (ABP). “A esquizofrenia é tratada com um grupo de
antipsicóticos. Não são medicamentos que dopam, apenas controlam a
alteração clínica, em doses que vão sendo adequadas a cada paciente”,
diz.
Primeiros sinais
Sem marcadores biológicos capazes de indicar precocemente por meio
de testes genéticos quem desenvolverá a esquizofrenia, é preciso muita
atenção a alguns sinais. Mesmo na infância e adolescência é possível
notar que o desenvolvimento social está regredindo.
“Na infância e adolescência, teremos uma predominância de isolamento
social, distanciamento afetivo, mudanças bruscas do humor, queda no
rendimento escolar, pensamentos delirantes, alucinações auditivas e
dificuldades nos relacionamentos interpessoais”, informa o psiquiatra
infantil Gilberto Emílio Nogueira.O diagnóstico na infância, porém, é
muito raro, destaca Nogueira.
A dificuldade dá-se pelo fato de ser complicado para uma criança
expressar o que ela pensa e sente. Os números mostram que há um caso
para casa 10 mil crianças, na proporção de 1 menina para cada 2,5
meninos. “Há relatos de crianças diagnosticadas com três anos, mas tenho
casos que iniciaram ao redor dos seis. Já a partir dos 12 anos, aumenta
muito a manifestação até o início da fase adulta, vindo a estabilizar e
se equivaler em ambos os sexos”, conta o psiquiatra infantil de Rio
Preto.
Quanto mais cedo ocorrer a busca por ajuda psiquiátrica para o
diagnóstico e início do tratamento, menos crises e menor duração elas
terão.
Faltam vagas
A falta de vagas e a diminuição do número de leitos na região
provocam filas de espera e um atendimento precário. Segundo o provedor
do hospital psiquiátrico Adolfo Bezerra de Menezes, de Rio Preto, Grácio
Tomaz Saturno, a demanda é muito maior. O provedor diz que um
levantamento da regional de saúde de Rio Preto apontou que são
necessárias mais 305 vagas para suprir o atendimento psiquiátrico na
região.
O motivo pela direção contrária, segundo Grácio, é em razão de uma
nova política de saúde mental do governo federal que está diminuindo as
vagas nos hospitais psiquiátricos e até fechando alguns, como aconteceu
com a unidade de Nova Granada. Procurada pela reportagem, a assessoria
de imprensa do Ministério da Saúde não se manifestou.
“Quando chegam pacientes esquizofrênicos em surto, eles são
atendidos na emergência, que possui mais 11 leitos, e aguardam lá por 72
horas pela liberação de uma vaga. Mas, se não abre, o paciente volta
para casa ou para a rua sem conseguir o atendimento completo que
precisa”, conta Grácio.
O psiquiatra Itiro Shirakawa, vice-presidente da Associação
Brasileira de Psiquiatria (ABP), diz que o tratamento público no Brasil
não está adequado, o que vem provocando situações sérias de risco aos
esquizofrênicos e à sociedade.
Para ele, o que acontece no momento é uma desassistên-cia,
destacando que os Centros de Assistência Psicossocial (CAPs) não são
suficientes para oferecer esse atendimento, pois “são equipamentos de
reabilitação, não tratam os casos agudos”, diz.
FONTE: http://www.diarioweb.com.br/novoportal/Noticias/Saude/145460,,Pesquisadores+descobrem+novo+remedio+a+esquizofrenia.aspx