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domingo, 8 de abril de 2012

História da Psiquiatria

Casos de perturbações mentais estão registrados por toda a História e são, desde as épocas mais remotas, citados por historiadores, poetas, pintores, escultores e médicos.

Apenas para citar algumas figuras históricas conhecidas, temos os exemplos dos Imperadores Romanos Calígula e Nero, os reis franceses Clóvis II e Carlos VI, este último chamado de Carlos, o Louco, o qual acreditava ser feito de vidro e que inseria pequenas hastes de ferro em suas roupas a fim de prevenir que se partisse em pedaços. Eduard Einstein, filho do renomado físico Albert Einstein,  o lendário bailarino ucraniano Vaslav Nijinsky, e o prêmio Nobel de Economia John Forbes Nash Jr,  sofriam de Esquizofrenia.
O famoso pintor holandês Vincent Van Gogh (1853-1890), durante seu breve período de vida, sofria de crises de instabilidade de seu humor. Diversos historiadores afirmam que Van Gogh sofria "ataques epilépticos" o que para alguns seria o resultado do uso frequente de bebidas contendo absinto (Artemisia absinthium), substância que era utilizada para modificar a atividade cerebral e assim "estimular" atividades artísticas. Houve diversas tentativas de estabelecer um diagnóstico de certeza para a doença de Vincent Van Gogh, o que tentou-se fazer através da análise de seus escritos. Atualmente, o mais aceito dos prováveis diagnósticos atribuídos a Vincent Van Gogh é o Transtorno do Humor Bipolar, levando-se em consideração os estados depressivos por que passava, alternados de episódios eufóricos (ou maníacos) que lhe faziam mergulhar em um estado de humor de grande energia e paixão. Van Gogh cometeu suicídio aos 37 anos de idade.

Há registros de que em civilizações muito antigas, como Babilônia e Egito, havia indivíduos, muitos deles sacerdotes, os quais descreveram alguns transtornos mentais, mesclando explicações místico-religiosoas em suas descrições. Os egípcios pelo seu conhecimento em anatomia humana, adquirido pelo hábito de embalsamar cadáveres, produziram escritos destacando o papel do cérebro e do útero na origem de transtornos mentais, sendo o termo histeria (de hysteros, útero) utilizado até mesmo em nossos dias. Na Grécia, algumas doenças mentais eram vistas como sendo vinganças dos deuses, porém com o materialismo grego, passou a atentar mais detalhada e profundamente para aspectos naturais como sendo causadores de doenças mentais, e nessa época foram inaugurados tratamentos médicos para alguns transtornos, dos quais não participava a mitologia grega. Empédocles (séc V A.C.) foi um desses precursores. Hipócrates (460-377 A.C), por muitos chamado de o pai da medicina, foi o primeiro a afirmar que a Epilepsia era uma doença cerebral, e, sabiamente, dizia que a cura das doenças se dá com a participação principal da própria natureza, sendo os médicos apenas auxiliares para os processos de cura. Para ele o cérebro era o órgão central e principal do corpo humano, de onde provinham os pensamentos e as emoções.

Os seguidores de Hipócrates parecem ter sido os primeiros a produzir uma classificação das doenças mentais. Porém, durante o período medieval consta, segundo alguns autores, que prevaleciam as explicações místico-religiosas para a origem de transtornos mentais. E a Inquisição da Igreja Católica Romana torturava e queimava doentes mentais em fogueiras sob a alegação de que necessitavam de ser destruídos, pois estariam possessos por demônios. E as supostas possessões teriam se iniciado por algum envolvimento deliberado desses doentes com o Diabo.

O primeiro grande passo para o progresso científico da Psiquiatria ocorreu apenas no século XVIII, com os estudos do médico francês Philippe Pinel, o qual instituiu reformas humanitárias para o cuidado com os doentes mentais.

No século XIX, Dorothea Dix lutou por melhoras nas condições dos locais que abrigavam doentes mentais.

O médico alemão Emil Kraepelin foi o primeiro a subdividir as Psicoses em dois grupos: A Psicose Maníaco-Depressiva e a Esquizofrenia.

No caminho do grande desenvolvimento científico do século XIX, a medicina se firmou como uma ciência. A psiquiatria veio a se firmar como ciência médica algumas décadas mais tarde. A psiquiatria acompanhou, em ritmo mais lento do que outras especialidades, o desenvolvimento da Medicina como ciência. Porém, devido ao complexo objeto da Psiquiatria, a mente humana, houve uma mescla temporária científico-filosófica da Psiquiatria com a Psicologia, esta última surgida da filosofia em meados do século XIX.

Porém, devido ao papel do médico morávio Sigmund Freud, a Psicologia foi procurando nas décadas seguintes a instituição de um modelo próprio, o qual, em nossos dias, encontra-se nitidamente isolado da Medicina Psiquiátrica, estando a Psicologia definitivamente entendida como fazendo parte das ciências humanas, diferentemente da Medicina, a qual pertence às ciências naturais. Contudo grande parte dos psicólogos e mesmo alguns psiquiatras hesitam e evitam apontar a natureza filosófica da psicanálise, mesmo tendo sido um médico, Freud, seu fundador.

Sigmund Freud enfatizava uma visão interpretativo-explicativa para desordens do comportamento, frequentemente apontando para algum acontecimento da infância do indivíduo.

Em 1910 foi formada a Associação Internacional Psicanalítica tendo Jung como seu presidente. Porém a harmonia do movimento durou pouco tempo. Entre 1911 e 1913 Jung e Adler formaram suas próprias escolas psicanalíticas em protesto contra a ênfase de Freud sobre a sexualidade infantil e o Complexo de Édipo, embora toda a estrutura básica fundamental da psicanálise permanece, até hoje, sendo freudiana.

Devido às influências de Freud e Jung, a maioria dos psicólogos passou a reconhecer a existência de diversas escolas psicanalíticas, o que acabou por se transformar em um enorme grupo de correntes em psicologia psicanalítica, onde, hoje, muitos livros e cursos de psicologia ou defendem de modo radical alguma dessas correntes ou se limitam a apresentar todos os tipos de teorias até hoje construídas, numa seqüência linear sem nenhuma coerência aparente. Tais acontecimentos vieram a influenciar notavelmente a Psiquiatria, isto, porém, até o advento dos psicofármacos.

Interessantemente, foi um psicanalista Wilhelm Stekel, quem declarou a inexistência do inconsciente, e as teorias interpretativo-explicativas de Freud são consideradas ultrapassadas por muitos médicos psiquiatras de nossos dias. Este fato se dá, em enorme medida, pelos modernos conhecimentos neuroquímicos do cérebro e pela revolução no tratamento das patologias mentais após o surgimento, em meados do século XX, de medicamentos psicotrópicos de eficácia incontestável. Cai, assim por terra, a poderosa corrente psicanalítica radical dos seguidores de Freud e Jung, a qual experimentou grande popularidade na década de setenta, tendo influenciado a sociedade em praticamente todo o mundo. E esta influência se deu, sobretudo pela televisão e pelo cinema, onde se pode citar o cineasta Woody Allen que fazia apologia da psicanálise.

Irônica e curiosamente, o próprio Woody Allen declarou, em 2002, que suas produções contêm muito de ficção e pouco de realidade, e que quase nada de suas sessões de psicanálise que mostrou nas telas têm a ver com sua própria pessoa. Afirmou ainda, categoricamente, que seus “grilos” mentais não têm origem em traumas da infância:

“Minha mãe sempre disse que nos primeiros quatro anos de vida fui uma criança adorável. Aí mudei. Mas não existiram circunstâncias dramáticas nesse período. É um mistério. Atribuo essa mudança a uma imprevista tomada de consciência sobre a morte, algo de que nunca me recuperei”, disse. (Jornal Estado de São Paulo/08/11/02).

Paralelamente à ascendência, apogeu e declínio da Psicanálise, a Psiquiatria continuou a seguir seu rumo no sentido de seu firme e irreversível lugar entre as especialidades médicas, seguindo o modelo das ciências naturais. Hoje a Psiquiatria já habita seu próprio território no mundo da Medicina: a Ciência Psiquiátrica.

(Texto atualizado em 31/01/09)

Para referência de citação de fonte:
"Dr Adnet - História da Psiquiatria/Em:www.dradnet.com/"

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