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terça-feira, 4 de junho de 2013

A doença de Machado-Joseph (DMJ)




1 – História

A doença de Machado-Joseph (DMJ) é uma doença hereditária de conhecimento recente. A primeira descrição oficial data de 1972, tratava-se de uma família Luso-americana, descendente de Guilherme Machado, que nasceu em São Miguel e emigrou com os filhos para o Massachusetts, daqui o nome Machado. No mesmo ano, em descendentes de José Tomás, originário da ilha das Flores, foi descrita uma doença semelhante (descoordenação motora).
Na Nova Inglaterra também foram encontradas pessoas com sintomas semelhantes aos diagnosticados na DMJ, mas com suficientes diferenças tendo sido atribuído outro nome.
 Em 1976 na Califórnia, foi descrita outra família açoriana (descendentes da família Joseph), com uma outra doença neurológica. Era a família de António Jacinto Bastiana, nascido na Ilha das Flores em 1815 e emigrado para São Francisco em 1845, falecendo em 1870, deixando sete filhos, quatro dos quais viriam a ser afetados como ele pela doença. Hoje são conhecidos mais de 600 descendentes seus na Califórnia, muitos dos quais afetados pela doença. Muitas outras famílias açorianas afetadas emigraram para os EUA. Da ilha de São Miguel sobretudo para a Nova Inglaterra e ilha das Flores principalmente para a Califórnia.
Em 1978, nas Flores e São Miguel, foram encontradas as primeiras 15 famílias que partilhavam muitas das características das doenças descritas anteriormente. Conclui-se então que se tratava da mesma doença, com uma variabilidade clínica muito grande, à qual deram o nome de Doença de Machado-Joseph

2 – Clínica

Esta doença pertence ao grupo das degenerescências cerebelosas (coordenação das vias motoras principais, modulando toda a atividade voluntária), implicando alterações na fala, gestos, equilíbrio e marcha. Assim, o doente apresenta ataxia cerebelosa (descoordenação dos movimentos e da fala), oftalmoplegia externa progressiva (limitação do olhar vertical para cima) e sinais piramidais/espasticidade (reflexos exagerados), a que se adicionam em alguns doentes um síndrome extrapiramidal (posturas e movimentos anômalos de torção) ou síndrome periférico (atrofias musculares). 
Com o evoluir da doença todos os doentes desenvolvem dificuldades de deglutição. Os doentes da DMJ não têm qualquer deterioração mental e muitas vezes apresentam por exemplo incontinência que resulta das dificuldades de locomoção e não da doença em si. Para esta doença ainda não há tratamento, mas pode-se melhorar a qualidade de vida dos doentes tratando algumas das várias complicações.

3 – Genética (localização e identificação do gene)

A DMJ é uma doença hereditária, e de transmissão autossômica dominante, pelo que a probabilidade de um filho ou irmão de um portador carregarem essa doença é de 50%. Como doença hereditária nasce-se carregando o gene com alteração (mutação do gene). Em 1994 descobriu-se que o gene mutante estava localizado no cromossoma 14 do cariótipo humano.
As repetições inferiores a 40 repetições de GAC (trinucleótico)é para sujeitos não afetados e repetições acima de 68repetições de GAC é para sujeitos afetados.
Sabe-se ainda que quanto maior for a expansão do tripleto CAG menor é a idade de início da doença.

4 – Epidemiologia

A distribuição geográfica da doença é irregular. No entanto nos Açores predomina em duas ilhas - São Miguel e Flores. Em São Miguel há um grande foco, na Bretanha, onde, entre outras, existe a família Machado. Outros focos são a Povoação e Água de Pau. Os doentes que residem em Ponta Delgada pertencem a famílias originárias de outros pontos da ilha ou até de outras ilhas. Até 1996, não se conhecia ninguém infectado em São Maria e São Jorge.

5 - Teste Predictivo

A investigação da doença tem-se desenvolvido bastante desde a descoberta da mutação, permitindo uma melhor compreensão dos mecanismos de ação da mutação e por ventura o eventual tratamento. Em termos práticos pode-se efetuar o teste preditivo por detecção direta da mutação nos indivíduos em risco para a DMJ; ou seja, estes indivíduos podem antecipar, se o desejarem, o diagnóstico do seu estado de portador ou não portador da mutação e por conseguinte se poderão ou não vir a ser doentes. Existe ainda um programa de aconselhamentos Genético da DMJ, cujo principal objetivo é o aconselhamento genético dos indivíduos em risco que pretendem conhecer do seu estado de portador do gene mutantes e assegurar o apoio médico e psicológico que lhe permite adaptar-se o melhor possível a esse novo estatuto.

Bibliografia:

Lima, M.. 1996. Doença de Machado-Joseph nos Açores: Estudo Epidemiológico,
Biodemográfico e Genético (tese de doutoramento), Universidade dos Açores, Ponta Delgada.
Jorge Sequeiros, edição, 1996. O Teste Predictivo da Doença de Machado-Joseph. UnIGENe, IBMC.

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