Seria impossível falar da obra de Jung sem mencionar a estreita relação com Freud e a influência da sua obra. Contudo, vale lembrar que, muito antes de conhecer Freud, Jung já se interessava pelas questões do inconsciente.
De acordo com Clarke (1992), quando os dois se conheceram, Freud já era muito respeitado e estava com 50 anos de idade, e Jung
era vinte anos mais novo. Entretanto, durante o período em que
mantiveram relações (1906-7913), nunca se estabeleceu uma qualidade de
professor e aluno entre eles.
Jung menciona, em suas Memórias (19630), que, desde o início de sua carreira, os trabalhos de Breuler, Janet e também de Freud o influenciaram e estimularam. Sobretudo as tentativas de Freud em busca do método de análise e de interpretação dos sonhos, uma vez que Jung percebia relações entre estas obras e suas próprias idéias.
Stevens (1990) ressalta que, ao mesmo tempo em que a amizade entre os dois estava se aprofundando, Jung possuía dúvidas a respeito do papel fundamental da sexualidade, atribuído por Freud, ao psiquismo humano. Contudo, Jung decidiu guardar para si tais questionamentos com medo de prejudicar o relacionamento emocional e profissional entre eles.
Entretanto, durante a viagem aos EUA, surgiram novas dificuldades relacionadas com os diferentes pontos de vista em relação á natureza do inconsciente. Aos poucos, Jung foi reconhecendo que sua visão era incompatível com a de Freud e, em 1912, publica a segunda parte do livro Metamorfose: símbolo da libido (publicado na Inglaterra com o título de Psicologia do inconsciente, atualmente com o título de Símbolos da transformação) com o objetivo de marcar o seu desligamento do movimento psicanalítico; romperá também, no ano seguinte, as relações pessoais com Freud.
Uma das principais divergências entre os dois está na questão da centralidade da sexualidade pra Freud, Jung coloca esta noção de forma mais abrangente; para este, a sexualidade desempenha um papel importante, contudo, não é a única causa de conflito e nem a única forma de expressão da totalidade psíquica.
Suas concepções de libido e de interpretação dos sonhos são mais amplas do que as sugeridas por Freud.
"Na perspectiva junguiana da linguagem do sonho é muito mais complexa e jamais monótona. Seus elementos não se deixam reduzir a uma significação única; São ricos de múltiplos sentidos, de numerosas valências. No sonho viaja-se da periferia ao centro da psique. Dos acontecimentos individuais pertencentes ao domínio do inconsciente pessoal, ao reino das imagens arquetípicas, patrimônio comum a todos os homens" (Silveira, 1978:122).
Podemos dizer, assim, que "o interesse comum pelos temas referentes ao inconsciente aproximou e uniu Freud e Jung; as diferenças de abordagem e temperamento os separou, mas a ciência contemporânea foi engrandecida pela colaboração entre dois dos mais importantes pensadores do século XX" (Penna, 1995:12).
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