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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

De bem com a vida


Ganhar na loteria, arrumar um namorado, tomar uma cerveja gelada. A felicidade pode estar em muitas coisas. Cada pessoa a vê de um modo diferente. Mas a sua incessante busca é o combustível de todos. Quem não quer ser feliz? No século IV a.C., o filósofo Aristóteles já anunciava, no livro Ética a Nicomaco, que a felicidade é a maior meta do homem.
 O psicanalista carioca Luiz Alberto Py  considera a felicidade um estado interior. “Somos felizes quando valorizamos o que temos em vez de sofrermos com o que não temos”, resume. O psicanalista acredita que os bons sentimentos devem ser privilegiados, treinados e fortalecidos, como acontece com os músculos durante a malhação. 
 “Mais importante é saber usufruir o tempo que temos para viver”, esclarece. Ele faz questão de diferenciar a efêmera alegria do Carnaval. “É uma festa em que as pessoas adiam os problemas para a Quarta-Feira de Cinzas. Sentem prazer, alegria, mas não exatamente felicidade”, analisa.
As diferenças entre felicidade e sentimentos passageiros como alegria, euforia e prazer rendem intenso debate. Ganhar dinheiro, receber um presente ou uma nota alta na escola e mesmo se esbaldar no Carnaval traz, normalmente, alegria.
A alegria é fruto de um momento específico de intenso prazer, a felicidade deve ser compreendida como um sentimento intermitente, de realização. Aos eternos insatisfeitos, que valorizam mais o ter do que o ser, resta um rosário de lamentações. “As pessoas se colocam num patamar muito elevado e reclamam. Adotam muito o ‘se’: ‘Se eu tivesse chegado no horário, teria sido o primeiro no vestibular’ ou: ‘Se ganhasse mais, teria mais conforto’”, diz o psicanalista Jorge Forbes, autor de Você quer o que deseja? (Ed.. Best Seller). “A reclamação é sempre narcísica. É normal querermos comprar e fazer tudo, mas, como isso é impossível, alguns ficam mal-humorados”, completa.
Aimagem do Brasil  é de uma terra de pessoas alegres e festivas, apesar das adversidades. “Antes de os portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade”, já dizia o escritor Oswald de Andrade em Manifesto antropofágico. O antropólogo carioca Roberto da Matta lembra que esse estereótipo vem dos tempos da colônia, sobretudo no Rio de Janeiro, que recebeu a família imperial como se fosse uma África submissa, com escravos que não se rebelavam. O modelo se consolidou no pós-guerra, quando americanos e europeus se encantaram com o harmonioso convívio étnico brasileiro e puderam admirar a alegria desvencilhada do progresso científico ou do desenvolvimento tecnológico. 
Em muitos países, no entanto, impera a crença iluminista. Isso pode ser percebido no ranking mundial da felicidade feito em 2002 pela revista trimestral francesa Globeco, dedicada a discutir a globalização. Foram listados 60 países (80% da população mundial), classificados a partir de uma curiosa combinação de indicadores tão distintos quanto renda per capita, criminalidade, produção de livros e discos, catástrofes naturais e taxa de gás carbônico no ar. O estudo, dirigido pelo francês Pierre Le Roy, alçou a Suécia à liderança, seguida por Noruega, Finlândia, Islândia e Austrália.
Depois de morar cinco anos em Santos (SP), a norueguesa Clara Karoliussen, 31 anos, voltou para a cidade de Trondheim, a 600 quilômetros de Oslo, com um marido brasileiro. Por ela, ficaria no Brasil, onde, garante, era mais feliz. Com três filhos, Clara tenta explicar o abismo que separa as duas culturas. “A felicidade para o norueguês é segurança. Ele pensa no futuro e não curte o presente. A felicidade tem que ser merecida, uma conquista árdua. Mas, como quase tudo lhe é dado de mão beijada – educação, saúde etc. –, raramente sente o prazer dessa conquista”, diz. Segundo ela, os brasileiros têm uma atitude mais parecida com a da criança, que consegue ser feliz hoje, mesmo sem saber do amanhã. “Os brasileiros vivem uma alegria espontânea. E, por sofrerem tanto, sabem quando algo deve ser comemorado”, acredita.
Como cita Clara, o sentimento de que tudo  vem de mão beijada, a consequente falta de estímulos e a exacerbação da individualidade são elementos importantes para se compreender o alto índice de suicídio apresentado na Noruega e, talvez, em todos os países selecionados como os mais felizes do mundo. Na Suécia, por exemplo, a cada 100 mil habitantes, 15 dão cabo da própria vida. Na Noruega e na Finlândia, segundo e terceiro colocados no ranking da felicidade, são 18 e 29 suicidas a cada 100 mil habitantes, respectivamente. Já o Brasil, com tantas mazelas, está em 71º lugar nas estatísticas mundiais de suicídio, conforme explica o psiquiatra Neury José Botega, professor da Unicamp (Universidade de Campinas). “Não há números exatos porque nem todas essas mortes são notificadas. De qualquer modo, temos quatro a cada 100 mil habitantes no Brasil. Na Hungria, são quase 40”, compara Botega.
FONTE:  http://www.istoe.com.br/reportagens/17739_DE+BEM+COM+A+VIDA

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