Ganhar na loteria, arrumar um namorado, tomar uma cerveja gelada.
A felicidade pode estar em muitas coisas. Cada pessoa a vê
de um modo diferente. Mas a sua incessante busca é o
combustível de todos. Quem não quer ser feliz? No século
IV a.C., o filósofo Aristóteles já anunciava, no livro
Ética a Nicomaco, que a felicidade é a maior
meta do homem.
O psicanalista carioca Luiz Alberto Py considera a felicidade um estado interior. “Somos
felizes quando valorizamos o que temos em vez de sofrermos
com o que não temos”, resume. O psicanalista acredita
que os bons sentimentos devem ser privilegiados, treinados e
fortalecidos, como acontece com os músculos durante a
malhação.
“Mais importante é saber usufruir o tempo que temos para viver”, esclarece. Ele faz questão de diferenciar a efêmera alegria do Carnaval. “É uma festa em que as pessoas adiam os problemas para a Quarta-Feira de Cinzas. Sentem prazer, alegria, mas não exatamente felicidade”, analisa.
“Mais importante é saber usufruir o tempo que temos para viver”, esclarece. Ele faz questão de diferenciar a efêmera alegria do Carnaval. “É uma festa em que as pessoas adiam os problemas para a Quarta-Feira de Cinzas. Sentem prazer, alegria, mas não exatamente felicidade”, analisa.
As diferenças entre felicidade e sentimentos passageiros
como alegria, euforia e prazer rendem intenso debate. Ganhar
dinheiro, receber um presente ou uma nota alta na escola e
mesmo se esbaldar no Carnaval traz, normalmente,
alegria.
A alegria é fruto
de um momento específico de intenso prazer, a felicidade
deve ser compreendida como um sentimento intermitente, de
realização. Aos eternos insatisfeitos, que valorizam mais
o ter do que o ser, resta um rosário de lamentações. “As
pessoas se colocam num patamar muito elevado e reclamam.
Adotam muito o ‘se’: ‘Se eu tivesse chegado no horário,
teria sido o primeiro no vestibular’ ou: ‘Se ganhasse
mais, teria mais conforto’”, diz o psicanalista Jorge
Forbes, autor de Você quer o que deseja? (Ed.. Best
Seller). “A reclamação é sempre narcísica. É
normal querermos comprar e fazer tudo, mas, como isso é
impossível, alguns ficam mal-humorados”, completa.
Aimagem do
Brasil é de uma terra de pessoas alegres e festivas,
apesar das adversidades. “Antes de os portugueses
descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a
felicidade”, já dizia o escritor Oswald de Andrade em Manifesto antropofágico.
O antropólogo carioca Roberto da Matta lembra que esse
estereótipo vem dos tempos da colônia, sobretudo no Rio
de Janeiro, que recebeu a família imperial como se fosse
uma África submissa, com escravos que não se rebelavam. O
modelo se consolidou no pós-guerra, quando americanos e
europeus se encantaram com o harmonioso convívio étnico
brasileiro e puderam admirar a alegria desvencilhada do
progresso científico ou do desenvolvimento tecnológico.
Em muitos países, no entanto, impera a crença iluminista. Isso pode ser percebido no ranking mundial da felicidade feito em 2002 pela
revista trimestral francesa Globeco, dedicada a discutir a globalização.
Foram listados 60 países (80% da população
mundial), classificados a partir de uma curiosa combinação
de indicadores tão distintos quanto renda per capita, criminalidade,
produção de livros e discos, catástrofes naturais
e taxa de gás carbônico no ar. O estudo, dirigido pelo
francês Pierre Le Roy, alçou a Suécia à liderança,
seguida por Noruega, Finlândia, Islândia e Austrália.
Depois de morar cinco anos em Santos (SP), a norueguesa Clara
Karoliussen, 31 anos, voltou para a cidade de Trondheim, a
600 quilômetros de Oslo, com um marido brasileiro. Por
ela, ficaria no Brasil, onde, garante, era mais feliz.
Com três filhos, Clara tenta explicar o abismo que separa
as duas culturas. “A felicidade para o norueguês é
segurança. Ele pensa no futuro e não curte o presente. A
felicidade tem que ser merecida, uma conquista árdua.
Mas, como quase tudo lhe é dado de mão beijada –
educação, saúde etc. –, raramente sente o prazer dessa
conquista”, diz. Segundo ela, os brasileiros têm uma
atitude mais parecida com a da criança, que consegue ser
feliz hoje, mesmo sem saber do amanhã. “Os brasileiros
vivem uma alegria espontânea. E, por sofrerem tanto,
sabem quando algo deve ser comemorado”, acredita.
Como cita Clara, o sentimento de que tudo vem de mão beijada, a
consequente falta de estímulos e a exacerbação da
individualidade são elementos importantes para se
compreender o alto índice de suicídio apresentado na
Noruega e, talvez, em todos os países selecionados como
os mais felizes do mundo. Na Suécia, por exemplo, a cada
100 mil habitantes, 15 dão cabo da própria vida. Na
Noruega e na Finlândia, segundo e terceiro colocados no
ranking da felicidade, são 18 e 29 suicidas a cada 100 mil
habitantes, respectivamente. Já o Brasil, com tantas mazelas, está em
71º lugar nas estatísticas mundiais de suicídio, conforme
explica o psiquiatra Neury José Botega, professor da
Unicamp (Universidade de Campinas). “Não há números
exatos porque nem todas essas mortes são notificadas. De
qualquer modo, temos quatro a cada 100 mil habitantes no
Brasil. Na Hungria, são quase 40”, compara Botega.
FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/17739_DE+BEM+COM+A+VIDA
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