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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Famosos ajudam a combater estigma de doenças mentais.

 
 
Cristina Almeida
Especial para o UOL Ciência e Saúde
 
Um blog para mostrar que celebridades também sofrem de transtornos psiquiátricos. Essa é a novidade de um novo blog do site americano Psychcentral, considerado uma das mais respeitadas fontes online sobre o assunto pelo jornal The New York Times. Ao contrário do pode parecer, o novo endereço da web não pretende decifrar sintomas, nem explorar a vida privada dos artistas. O objetivo dos idealizadores é informar e, principalmente, educar a população para vencer o estigma das doenças mentais.
“Estigma é sinal de ignorância, e o apoio de pessoas famosas para superar esse tipo de barreira é um dever psicossocial”, afirma o psiquiatra e psicoterapeuta José Toufic Thomé, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria ( ABP) e presidente da Unidade Brasil da Rede Ibero-Americana de Eco-bioética – Cátedra Unesco de Bioética (São Paulo).
Celebridades nutrem os sonhos de fama e glória na população em geral. E sonhar com uma vida perfeita é considerado natural. Entretanto, diz Thomé, é preciso que as pessoas desenvolvam uma estratégia de autocrítica para entender que ser celebridade é representar um personagem. “Na intimidade, muitos levam uma vida sofrida. Para o público, seguem o roteiro que faz delas pessoas admiradas, desejadas, invejadas. E algumas precisam desse tipo de atenção para suprir o imenso vazio que sentem. O maior exemplo é Michael Jackson”.

Mito e realidade

Segundo o especialista, famosos já foram reconhecidamente identificados como personalidades narcísicas, isto é, indivíduos encantados pela própria imagem de perfeição. “Por isso, falar sobre dificuldades ou doenças pode quebrar o encanto do mito”. “O impulso narcísico é uma pulsão de morte”, explica o psiquiatra. “Não há vida quando crio um universo irreal para continuar a viver, tal é o nível do sofrimento que se tenta esconder. Então, calar sobre a realidade é a opção”.
Como é impossível exigir de uma celebridade que ela se apresente dando seu testemunho sobre assuntos relacionados à saúde mental, a decisão de revelar ao público os próprios problemas corresponderá ao nível de preparo e evolução de cada um.
“A disposição para se expor dessa maneira dependerá da sanidade ou insanidade com que a celebridade lida com o seu personagem. Pode até ser que ela use a oportunidade para dizer – eu também sou gente!”, comenta Thomé.
Mas se tiver coragem de falar abertamente, a celebridade se humaniza e presta um grande serviço à comunidade, além de se tornar um objeto de identificação mais forte. Quem vivencia um problema idêntico ou semelhante, imediatamente pensará que não é a única, e ainda pode se sentir estimulada a seguir em frente, porque seu artista preferido também o fez. Esse é um dos objetivos declarados do blog americano: fazer ver que todos são seres humanos, apesar da fama.

Ser frágil e forte

“Informar a existência da doença, declarar que necessita de ajuda é, muitas vezes, interpretado como fragilidade. Ser frágil, não significa ser fraco. Ao contrário. Ter a coragem de se assumir e falar claramente como as coisas estão é sinal de força. Isso funciona. O primeiro exemplo que me vem à cabeça é o ator Fábio Assunção”, fala Thomé.
“No caso das doenças mentais, é preciso que se saiba que ela é uma doença como outra qualquer. Qual a diferença entre ter que tomar insulina por toda a vida e tomar antidepressivos?”, conclui o psiquiatra.

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