O Transtorno de Personalidade Esquizotípica (Schizotypal personality disorder) é um transtorno de personalidade
caracterizado pela dificuldade em manter relacionamentos saudáveis,
fortes crenças no sobrenatural inapropriadas a seu contexto social,
pensamentos e percepções não compartilhados socialmente, desconfiança e
medo mesmo sem evidências de ameaça e hábitos excêntricos.
Os portadores deste transtorno muitas vezes creem ter habilidades extrassensoriais
ou que eventos mundiais estão relacionados a eles de alguma forma
importante. Eles, algumas vezes, se empenham em comportamento excêntrico
e têm dificuldades em se concentrar por longos períodos de tempo. Suas
conversas geralmente são excessivamente elaboradas e difíceis de
acompanhar.
Causas
Teoria genética
Embora listado no Eixo II da última edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
(DSM-IV-TR) - o guia americano amplamente usado por médicos à procura
de um diagnóstico de doenças mentais, o transtorno de personalidade
esquizotípica é geralmente compreendido como um transtorno do espectro
da esquizofrenia. Estatísticas de indivíduos contendo este transtorno são muito maiores naqueles aparentados com portadores de esquizofrenia
do que em portadores de outras doenças mentais ou mesmo em famílias sem
nenhuma delas. Tecnicamente falando, o transtorno de personalidade
esquizotípica é um "fenótipo estendido" que ajuda os geneticistas a
rastrear a transmissão genética ou familiar dos genes que estão
implicados na esquizofrenia.
Existem vários estudos demonstrando que indivíduos com transtorno de
personalidade esquizotípica obtém resultados de maneira parecida àqueles
com esquizofrenia
em uma larga variedade de testes neurofisiológicos. Déficits cognitivos
em pacientes com transtorno de personalidade esquizotípica são muito
semelhantes, só que mais moderados, àqueles com esquizofrenia.
Aspectos Sociais / Ambientais
Pessoas com transtorno de personalidade esquizotípica, assim como pacientes com esquizofrenia,
podem ser bem sensíveis a críticas pessoais e hostilidade, e existem
evidências que atualmente sugerem que certos modos de educação familiar,
separação precoce, e negligência infantil podem levar ao
desenvolvimento de traços esquizotípicos.
As crenças delirantes e paranoicas variam muito dependendo do
ambiente e devem ser analisadas dentro do contexto sociocultural do
indivíduo. É comum que sejam sobre teorias de conspiração sobre o
governo, alienígenas e/ou facções políticas, porém é comum também que
envolvam questões religiosas como demônios, espíritos, divindades e
poderes sobrenaturais.
Quando envolve questões religiosas só é
considerada um transtorno quando não sejam socialmente compartilhadas e
causem prejuízo e sofrimento significativos a si mesmo ou sejam
violentos em relação a outros. O tratamento deve ser voltado não a
eliminar a crença, e sim em minimizar o prejuízo, sofrimento, violência
relacionados às ideias delirantes.
O diagnóstico é baseado nas experiências reportadas pelo paciente, como também marcadores do transtorno observados por um profissional da saúde mental. A lista de critérios, que precisam ser alcançados para o diagnóstico, está descrita no DSM-IV.
- Critérios do DSM-IV
A última versão do DSM define o transtorno de personalidade esquizotípica
como: "um padrão invasivo de déficits sociais e interpessoais, marcado
por agudo desconforto e reduzida capacidade para relacionamentos
íntimos, além de distorções cognitivas ou perceptivas e comportamento
excêntrico, que começa no início da idade adulta e está presente em uma
variedade de contextos".
Os critérios são (pelo menos cinco):
- Ideias de referência (excluindo delírios de referência);
- Crenças bizarras ou pensamento mágico que influenciam o comportamento e são inconsistentes com as normas da subcultura do indivíduo (por ex., superstições, crença em clarividência, telepatia ou "sexto sentido"; em crianças e adolescentes, fantasias e preocupações bizarras);
- Experiências perceptivas incomuns, incluindo ilusões somáticas;
- Pensamento e discurso bizarros (por ex., vago, circunstancial, metafórico, superelaborado ou estereotipado);
- Desconfiança ou ideação paranóide;
- Afeto inadequado ou constrito;
- Aparência ou comportamento esquisito, peculiar ou excêntrico;
- Não tem amigos íntimos ou confidentes, exceto parentes em primeiro grau;
- Ansiedade social excessiva que não diminui com a familiaridade e tende a estar associada com temores paranóides, ao invés de julgamentos negativos acerca de si próprio;
- Critérios do CID-10
O CID-10 da Organização Mundial de Saúde define o transtorno de personalidade esquizotípica como transtorno esquizotípico, na categoria F21. - e de forma semelhante ao DSM-IV (com a diferença que no CID-10 é classificado como transtorno mental associado com a esquizofrenia, ao invés de um transtorno de personalidade como no DSM-IV, que é algo controverso).
Segundo o CID-10, são necessários pelo menos 4 destes sintomas,
manifestados por um período de pelo menos dois anos, contínua ou
repetidamente (e o paciente nunca deve preencher os critérios para algum
transtorno na categoria F20, de esquizofrenia):
- Afeto inapropriado ou restrito, o indivíduo parece frio e indiferente;
- Comportamento ou aparência estranhos, excêntricos ou peculiares;
- Relacionamento pobre com outros e uma tendência ao retraimento social;
- Crenças estranhas ou pensamento mágico influenciando o comportamento e inconsistente com normas subculturais;
- Suspeita ou ideias paranoides;
- Ruminações sem resistência interna, muitas vezes com conteúdo dismorfofóbico, sexual ou agressivo;
- Experiências perceptivas incomuns, incluindo ilusões somato sensórias (corporais) ou outras, despersonalização ou fuga de realidade;
- Pensamento vago, circunstancial, metafórico, super elaborado ou muitas vezes estereotipado, manifesto por fala estranha ou de outros modos, sem incoerência grosseira;
- Episódios ocasionais transitórios quase psicóticos com ilusões intensas, alucinações auditivas ou outras e ideias semelhantes a delírios, geralmente ocorrendo sem provocação externa;
Exclui: Síndrome de Asperger e Transtorno de personalidade esquizóide. Não ocorre exclusivamente durante o curso de Esquizofrenia, Transtorno do Humor Com Aspectos Psicóticos, outro Transtorno Psicótico ou um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento.
O transtorno de personalidade esquizotípica segue um curso crônico
com flutuações de intensidade. Ocasionalmente, ela evolui para esquizofrenia franca. Não há um indício definido, e sua evolução e curso são usualmente aqueles de um transtorno de personalidade.
- Orientações Diagnósticas
Este diagnóstico não é recomendado para uso geral porque não é claramente demarcado seja da esquizofrenia
simples ou dos transtornos de personalidade esquizóide ou paranóide. Se
o termo é utilizado, três ou quatro características listadas acima
devem estar presentes, de maneira contínua ou episódica, por pelo menos 2
anos. O indivíduo nunca deve ter preenchido os critérios para esquizofrenia. Um histórico de esquizofrenia em parentes de primeiro-grau reforça o diagnóstico mas não é um pré-requisito.
- Comorbidades comuns
É comum que também ocorra simultaneamente com sintomas de outros transtornos de personalidade como o transtorno de personalidade esquiva, transtorno de personalidade paranóide e transtorno de personalidade borderline.
Prevalência
O transtorno de personalidade esquizotípica ocorre em 3% da população geral e é um pouco mais comum em homens.Caso não seja tratado, o distanciamento social tende a aumentar, a
habilidade de se comunicar adequadamente diminuem, as alucinações podem
se tornam mais frequentes e cada vez mais ameaçadoras passando a ser
caracterizado como esquizofrenia.
Frequentemente eles buscam terapia para transtornos afetivos, ansiosos ou sociais, sendo o mais comum depressão maior (cerca de 30 a 50% dos casos).
O terapeuta não deve desafiar e contrariar diretamente as crenças e
pensamentos socialmente inadequados. Primeiro ele deve oferecer um
ambiente acolhedor, solidário e dar atenção ao cliente procurando
estabelecer um sentimento de confiança e segurança, pois trata-se de um
indivíduo que carece de um sistema adequado de apoio social e
normalmente não consegue estabelecer interações sociais saudáveis por
causa de ansiedade extrema e por possuir pouca experiência formando
amizades duradouras.
Muitas vezes o paciente relata sensação de ser "diferente" e não se
"encaixar" com os outros com facilidade, geralmente por causa de suas
crenças e hábitos não compartilhados socialmente. A terapia é difícil e
os resultados demoram a aparecer.
Treinamento de habilidades sociais e outras abordagens
comportamentais que enfatizam a aprendizagem das noções básicas das
relações sociais e interações sociais podem ser benéficas. Deve-se
ensinar o paciente a questionar suas próprias crenças e a buscar
evidências sólidas para sustentá-las.
Para isso o terapeuta pode se
mostrar interessado e disposto a acreditar nas mesmas crenças do
paciente desde que ele produza evidências, estimulando-o assim a fazer
testes de realidade e questionando de forma educada se aquelas
evidências são a explicação mais provável ou se existem outras
possibilidades e explicações possíveis. Terapia em grupo pode ser útil
para estimular o treino de habilidades sociais, porém a desconfiança e
suspeitas podem tornar ajuda em grupo e dinâmicas ineficientes ou até
prejudiciais.
Durante períodos estressantes em que ocorram alucinações e delírios
constantes, indicando excesso de estimulação neurológica por neurotransmissores, antipsicóticos podem servir para estabilizar o sistema dopaminérgico. Antidepressivos
também podem ajudar a controlar a ansiedade, desânimo, melhorando o
humor e assim diminuir a frequência de pensamentos desagradáveis
recorrentes e incontroláveis de medo e angústia.
FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_de_personalidade_esquizot%C3%ADpica
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