Pessoas
explosivas, teatrais, sistemáticas, meticulosas, obsessivas, cismadas,
muito emotivas e outros tipos difíceis de conviver sugerem,
intuitivamente para todos nós, tratar-se de uma maneira de SER assim e
não de ESTAR assim. Ao longo da vida essas pessoas podem melhorar,
através de muito empenho e vontade de morrer melhor do que nasceram.
Outras estacionam, petrificadas para sempre, sofrendo e fazendo sofrer.
Henri
Ey considera algumas pessoas portadoras de um Ego Patológico,
caracterizando não apenas uma maneira de ESTAR no mundo, mas sobretudo,
uma maneira de SER no mundo. Karl Jaspers afirma serem anormais as
personalidades que fazem sofrer, tanto a pessoa quanto quem a rodeia.
Para Jaspers, as personalidades anormais representam variações
não-normais da natureza humana, as quais podem perfeitamente ser
entendidas como Transtornos de Personalidade (TP).
Diz
a CID.10 que os transtornos de personalidade são estados e tipos de
comportamentos característicos que expressam maneiras da pessoa viver e
de estabelecer relações consigo mesma e com os outros. São distúrbios da
constituição e das tendências comportamentais – continua dizendo a
CID.10 – não diretamente relacionados a alguma doença, lesão, afecção
cerebral ou a outro transtorno psiquiátrico. Isso tudo quer dizer que a
pessoa simplesmente é desse jeito e será sempre assim.
Habitualmente
os transtornos da personalidade se acompanham de sofrimento e de
comprometimento no desempenho global da pessoa. Aparecem precocemente
durante o desenvolvimento individual sob a influência de múltiplos
fatores, sejam constitucionais, sociais ou existenciais. Depois de
solidificado este conjunto de traços pessoais, tal como uma
personalidade normal, persistirá indefinidamente.
Entretanto,
dependendo da cognição, juízo crítico, conhecimento e disposição ao
entendimento, tais estados supostamente pétreos podem seguir por
caminhos mais favoráveis e de menor sofrimento, tanto para a pessoa
deles portadora, quanto dos demais à sua volta. Sabendo lidar com essa
questão a pessoa poderá se adaptar perfeitamente à sua maneira de ser,
poderá disciplinar pulsões, esquemas de pensamentos, impulsos
específicos desses transtornos, e tal manejo poderá ser de tal forma
eficiente que a qualidade da vida emocional será muito melhorada.
De
fato, o que denomina, classifica ou dá o nome ao transtorno da
personalidade é a predominância de determinados traços, os quais todos
nós os temos em dose diminuta. Todos temos algo de histéricos, uma
pitada de paranóia, traços de ansiedade, e assim por diante. Entretanto,
no transtorno da personalidade tais traços são predominantes e dominam
tiranamente a maneira de ração dessas pessoas de forma a causar
sofrimento (na pessoa e/ou naqueles próximos) e comprometer o
desempenho.
Antes
que alguém possa contestar esses conceitos alegando tratar-se de uma
ânsia da psiquiatria em classificar pessoas, recordamos o que foi dito
no capítulo sobre Temperamento e Caráter; as classificações sobre tipos
de temperamento dizem respeito à forma da personalidade e não ao
conteúdo psíquico e vivencial da pessoa. Quer dizer, as classificações
descrevem maneiras do indivíduo ser e de reagir à sua vida, ou seja,
COMO é funcionalmente esse indivíduo. Os conteúdos vivenciais definem
QUEM é essa pessoa.
A
Organização Mundial de Saúde (OMS) trata do assunto sob o titulo de
Transtornos da Personalidade e de Comportamento, especificando-os nos
códigos F60 até F69 na CID-10. A OMS descreve tais transtornos da
seguinte maneira:
“Estes tipos de condição abrangem padrões de comportamento permanentes e profundamente arraigados no ser que se manifestam como respostas inflexíveis a uma ampla série de situações pessoais e sociais. Elas representam desvios extremos ou significativos do modo como o indivíduo médio, em uma dada cultura, percebe, pensa, sente e, particularmente, se relaciona com os outros”.
Quando a OMS diz “...permanentes e profundamente arraigados no ser...”
ela quer dizer que se trata de uma característica definitiva. Uma
pessoa obsessiva, meticulosa, perfeccionista e rígida com problemas de
adaptação, por exemplo, pode mudar sua maneira de ser para melhor
refazendo algumas crenças pessoais e atitudes comportamentais no sentido
de construir melhor relação consigo mesma, com os outros e com a vida,
embora continue sendo menos obsessiva, menos meticulosa, menos
perfeccionista e menos rígida. Acontecendo assim a pessoa deixará de ter
um transtorno de personalidade para ter apenas traços obsessivos,
traços perfeccionistas e assim por diante.
As
características de personalidade por si só não caracterizam um
Transtorno de Personalidade, elas são os traços, ou seja, padrões
duradouros de percepção, relação e pensamento acerca do ambiente e de si
mesmo, e são exibidos numa ampla faixa de contextos sociais e pessoais
importantes. É somente quando as características de personalidade são
inflexíveis e desadaptadas, causando um comprometimento significativo no
desempenho da pessoa é que elas podem constituir-se em Transtornos da
Personalidade.
Os
Transtornos de Personalidade, ainda segundo a CID-10, são condições do
desenvolvimento da personalidade que aparecem na infância ou
adolescência e continuam pela vida adulta. Esta condição constitucional e
biológica de desenvolvimento diferencia o Transtorno da Alteração
da Personalidade. A Alteração da Personalidade ocorre durante a vida em
conseqüência de algum outro transtorno emocional, dependência química,
traumatismo craniano, tumores, infecções cerebrais, etc.
Enfatizando, os Transtornos de Personalidades
são perturbações graves da constituição do caráter e das tendências
comportamentais, portanto, não são adquiridas no meio tal como as Alterações da Personalidade.
A CID-10 apresenta entre os títulos F60 e F69 uma grande variedade de
subtipos de Transtornos de Personalidade. Procuraremos aqui
compatibilizá-los todos com outras classificações de forma a abordar os
tipos sinônimos com a mesma descrição.
A Associação Norteamericana de Psiquiatria,
através de seus critérios de classificação e diagnóstico de transtornos
mentais, o DSM.IV , fala sobre os Transtornos da Personalidade da
seguinte forma:
"Um Transtorno da Personalidade é um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é invasivo e inflexível, tem seu início na adolescência ou começo da idade adulta, é estável ao longo do tempo e provoca sofrimento ou prejuízo."
E
qual seria a diferença entre o Transtorno da Personalidade e a Doença
Mental franca? As doenças mentais ocorrem e se desenvolvem a partir de
um momento definido da vida, tal como são as crises, reações, processos,
episódios e surtos, enquanto os Transtornos da Personalidade, por sua
vez, são maneiras problemáticas de ser, constantes e perenes. As doenças
mentais surgem e os Transtornos da Personalidade são.
Na
Esquizofrenia, por exemplo, assim como nos Transtornos do Humor e
outros, a partir de um determinado momento na vida a personalidade, que
já era chamada pré-mórbida , envereda por uma trajetória que se afasta
mais e mais do normal resultando em um episódio agudo. Nos Transtornos
da Personalidade o rumo da personalidade está e sempre esteve algo
distante do normal, embora não tenha obrigatoriamente que piorar cada
vez mais, como nos outros processos psicopatológicos.
Os
Transtornos de Personalidade afetam todas as áreas da personalidade, o
modo como o indivíduo vê o mundo, a maneira como expressa as emoções, o
comportamento social. Caracteriza um estilo pessoal de vida mal
adaptado, inflexível e prejudicial a si próprio e/ou aos que com ele
convivem. Essas características, no entanto, apesar de necessárias não
são suficientes para identificação dos Transtornos de Personalidade,
pelo fato de serem muito vagas. A maneira mais clara como a
classificação deste problema vem sendo tratada é através da subdivisão
em tipos de transtornos de personalidade, com critérios de diagnóstico
próprios e bem definidos, tanto pela CID.10, quanto pelo DSM.IV.
FONTE: http://psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=180Convencionalmente os transtornos da personalidade foram divididos em três grupos:
1º. Grupo – Aqui estão as pessoas caracterizadas essencialmente por pensamentos estranhos, comportamentos excêntricos e mórbida tendência ao isolamento. Estão classificadas aqui as personalidades paranóides e esquizóides, as primeiras possuidoras de rígido padrão de suspeitas e desconfianças infundadas, as segundas são emocionalmente distantes e com dificuldade em estabelecer relações sociais.
2º Grupo – Os transtornos deste grupo têm em comum um comportamento com tendência à dramaticidade, apelação e emoções que se expressam intensamente. Os indivíduos histriônicos representam esse grupo, sendo muito excitáveis, demonstrativos, justificativos e egocêntricos. Também está aqui a chamada Personalidade Anti-Social, que manifesta expressiva incapacidade geral de adaptação aos padrões sociais estabelecidos e para relações afetivas estáveis.
3º. Grupo – Estão neste grupo as personalidades com marcantes traços de dificuldade no controle dos impulsos; transtorno explosivo ou impulsivo da personalidade, transtorno ansioso ou evitativo da personalidade, transtorno anancástico ou obsessivo-compulsivo da personalidade.
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