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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A psiquiatria e a enfermagem psiquiátrica no Brasil

 A psiquiatria e a enfermagem psiquiátrica no Brasil No início do século XIX, o Rio de Janeiro passava por uma reforma urbanística com vistas a tornar-se uma metrópole moderna; conseqiientemente, Vadios, mendigos e loucos - ou seja, pessoas que perturbavam a ordem pública e social - deveriam ser excluídas. Muitos eram internados nos porões da Santa Casa de Misericórdia, onde viviam em situação precária. A partir de denúncias e solicitações de médicos, o provedor da Santa Casa decidiu tomar medidas para a criação de urn hospício.
Em 1841, O imperador D. Pedro II determinou a construção do hospício, que veio a ser inaugurado em 1852. Assim, a primeira instituição psiquiátrica brasileira a ser criada foi o Hospício Pedro II, situado na Praia Vermelha (que naquela época era periferia da cidade), pertencente à Santa Casa. Essa instituição, seguindo o que era preconizado por Pinel para o tratamento moral, isolou o doente mental em urn espaço especialmente organizado para regular e normalizar sua vida. Nele, os guardas (ou "enfermeiros") vigiavam os doentes, enquanto eram vigiados pelas irmãs de caridade que administravam o hospício. Entre esses, urn grupo de 50 orfãs habitava o hospício e auxiliava na assistência aos loucos. Usavam-se meios de persuasão para que os doentes permanecessem calmos e obedientes; caso fosse necessário, meios repressivos (privação de visitas, de alimentos, colete de força) também podiam ser utilizados para garantir a obediência e a manutenção da ordem. Essas medidas eram determinadas pelos médicos, mas, como estes eram muito poucos, os guardas muitas vezes empregavam a força física no contato com os doentes.
A violência do hospício concentrava-se no enfermeiro, encarregado de amar­rar, conter ou de adotar qualquer outra medida autoritária. Com a proclamação da República, muita coisa mudou no hospício.
Dedicado até então a assistência caritativa, voltou-se para a ciência. Desanexado da Santa Casa, foi denominado Hospício Nacional de Alienados, e tendo o novo diretor, o psiquiatra Teixeira Brandão, limitado o amplo poder das irmãs de caridade, estas se retiraram abruptamente. O governo provisório da República mandou buscar então enfermeiras francesas do Hospital de La Salpetriere para substituir as irmãs, tendo também em vista a criação de uma escola para formar enfermeiros em psiquiatria.
A enfermagem francesa não havia aderido ao sistema Nightingale (como se sabe, Florence Nightingale, na Inglaterra, preconizava o ensino teórico siste­matizado, juntamente com a prática em hospital; exigia certo nível de escolari­dade dos alunos e recomendava que as escolas de enfermagem fossem dirigidas por enfermeiras, que decidiriam sobre o saber a ser transmitido as alunas); no entanto, a França era o maior expoente da psiquiatria na época, e o Brasil seguia as orientações francesas.
Nesse contexto, para suprir a mão-de-obra necessária e profissionalizar a mulher, foi criada, em 1890, a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras.
Em 1903, Juliano Moreira (1873-1933) foi nomeado diretor do hospício,já então intitulado Hospital Nacional de Alienados. Foi ele quem fez o corte entre a psiquiatria brasileira de inspiração francesa e a psiquiatria brasileira nos moldes alemães. Figura de destaque a época, tanto se ocupou da humanização do hospi­tal como do desenvolvimento do conhecimento cientifico na área da psiquiatria. Permaneceu no cargo de direção ate 1930. Nesse período, o hospital foi completamente modernizado, a fim de tornar-se o mais próximo possível do hospital geral, como preconizava a psiquiatria alemã. Foram abolidas as medidas de contenção (coletes, camisas-de-força), retiradas as grades e proposta a admissão voluntária dos "insanos". Mas o que mais preo­cupava Moreira era o rigor cientifico na assistência; lutava por laboratórios no hospital,  e empenhava-se em trazer médicos clínicos consagrados para trabalhar no hospital. Recomendava a clinoterapia - repouso no leito - e a balneoterapia - banhos prolongados, para os quais contava, distribuídas em cinco salas, com 18 banheiras fixas e três móveis. Preconizava também a praxiterapia - terapia realizada por meio de atividades -, propondo vários tipos de oficinas, tanto para distrair os pacientes como para proporcionar-Ihes o apren­dizado de urn oficio, como sapataria, marcenaria e cultivo da terra.
Juliano Moreira afirmava que o bom trabalho implicava compreender o alienado como doente; para isso, considerava fundamental selecionar bem os enfermeiros (escolhendo aqueles que tivessem mais "disposições naturais" para esse tipo de atividade), fornecendo-Ihes ensino e trabalho. Em 1905 reinaugurou a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras (pois a tentativa de 1890 não havia durado), com uma turma de 23 alunos: 16 homens e sete mulheres. No entanto, não houve crescimento significativo da enfermagem psiquiátrica a partir dessa reinauguração.
Dada à tendência biológica da psiquiatria na época, surgiram muitas formas, no mínimo curiosas, de tratamentos físicos, nos quais a enfermagem tinha urn papel impor­tante. Alguns deles foram:
Malarioterapia: inoculação do germe da malaria - plasmodium - no doente, na crença de que, contraindo a malária, ele melhoraria da doença mental.
Choque hiperglicêmico ou coma insulínico: aplicação de insulina, em doses crescentes, até o paciente atingir o estado de coma; considerava -se necessário urn determinado número de comas - 25 ou 30, em média - para que houvesse efeito terapêutico.
Eletroconvulsoterapia ou eletrochoque: partindo da ideia de que esquizofrenia poderia ser “corrigida”  Ugo Cerletti criou, em 1928, uma maneira de provocar convulsão por baixa corrente transcerebral.
Psicocirurgia: em 1936, foi criada pelo neurologista português Egas Moniz a lobotomia, uma cirurgia que separa a conexão entre o tálamo e o lobo frontal.
Nos anos 30 aparece também à noção de prevenção, e, em 1946, a assistência aos psicopatas chega às penitenciarias, exigindo a inclusão de psiquiatras e psicólogos em seu quadro funcional. Por ultimo em 1995 são legalmente definidos a proteção e os direitos das pessoas com distúrbios mentais.
Fonte: Apostila de Saúde Mental - Senac Saúde.

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