Cerca de 30% dos paulistas apresentam algum distúrbio
mental, de acordo com um estudo realizado pela Organização Mundial de
Saúde (OMS) em 24 países. A prevalência é a maior em relação a pesquisas
semelhantes feitas em outros lugares do mundo.
O estudo foi coordenado pelo sociólogo Ronald Kessler, da
Universidade Harvard e publicado na revista PLoS One em fevereiro, no
artigo São Paulo Megacity Mental Health Survey e aqui no Brasil
realizado no âmbito do Projeto Temático “Estudos epidemiológicos dos
transtornos psiquiátricos na região metropolitana de São Paulo:
prevalências, fatores de risco e sobrecarga social e econômica”,
financiado pela FAPESP e encerrado em 2009. Entre os autores do artigo
está Laura Helena Andrade, professora do Departamento e Instituto de
Psiquiatria da Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de São Paulo
(USP).
O pesquisadores se concentraram em estimar a prevalência, severidade e
tratamento, de acordo com o DSM-IV. Foram examinados correlatos
sócio-demográficos, aspectos da vida urbana como a migração interna,
exposição à violência e privação social nos últimos 12 meses. Eles
descobriram que os transtornos de ansiedade foram os mais frequentes,
acometendo cerca de 20% das pessoas, seguido do transtorno de humor
(11%), impulsividade (4,3%) e uso de substâncias (3,6%).
É previsto que o crescimento da população mundial se concentre nas
grandes cidades, especialmente nos países em desenvolvimento. São Paulo
fornece um aviso prévio sobre a carga de transtornos mentais associados
ao aumento de desigualdades sociais, econômicas, estressores ligados à
rápida urbanização e deterioração da saúde.
Localizada no sudeste do Brasil, a cidade detém mais de 10% da
população brasileira e é a quinta maior área metropolitana do mundo, com
cerca de 20 milhões de habitantes. É considerado um importante centro
industrial e comercial na América Latina. Entre 1997 e 2007, o processo
de urbanização aumentou a população em 10% na cidade e 25% em áreas
periféricas e municípios à sua volta. Este crescimento é em parte uma
conseqüência da migração rural-urbana mobilidade e dos migrantes de
regiões pobres do Brasil, que buscam oportunidades de emprego, educação,
assistência médica e melhores condições de vida. Como em outras áreas
metropolitanas, essas mudanças levam à ocupação desordenada, falta de
habitação e ampla crescimento de trabalho informal.
Esse contexto facilita o isolamento social e a dissolução das
relações familiares primárias. O empobrecimento associado a essa
situação produz violência, aumenta as taxas de homicídio, insegurança,
tornando propício o desenvolvimento de transtornos mentais.
Ao cruzar as variáveis, os pesquisadores concluiram que as mulheres
que vivem em regiões de alta privação, são as que mais sofrem de
transtorno de humor, enquanto que homens migrantes têm mais transtornos
de ansiedade. “É necessário que haja rápida expansão no sistema
brasileiro de saúde do setor primário e trabalho focado na promoção da
saúde mental. Essa estratégia pode se tornar um modelo diante de poucos
recursos em uma área altamente habitada como São Paulo”, diz Kessler.
Para Laura, não é possível ter um serviço especializado em todas as
unidades, por isso é preciso equipar a rede com pacotes de diagnóstico e
de conduta a serem utilizados pelos profissionais de cuidados
primários. É preciso capacitar não só os médicos, mas também os agentes
comunitários, que devem ser orientados para identificar casos não tão
comuns como os quadros psicóticos, levando em conta os fatores de risco
associados aos transtornos mentais.
Fonte: Mente e Cérebro
FONTE: http://noticias.psicologado.com/psicopatologia/sao-paulo-lidera-as-estatisticas-mundiais-de-transtorno-mental
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