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terça-feira, 7 de novembro de 2023

Por que o Brasil tem a população mais depressiva da América Latina

 


  • Rone Carvalho
  • Role, De São José do Rio Preto (SP) para BBC News Brasil

O Brasil é o país com a maior prevalência desta doença na América Latina, de acordo com o relatório “Depressão e outros transtornos mentais”, da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Dados do último mapeamento sobre a doença realizado pela OMS apontam que 5,8% da população brasileira sofre de depressão, o equivalente a 11,7 milhões de brasileiros.

A nível continental, o Brasil aparece atrás apenas dos Estados Unidos, onde segundo a OMS, 5,9% da população sofre de transtornos de depressão.

Um estudo epidemiológico mais recente do Ministério da Saúde revela que nos próximos anos até 15,5% da população brasileira pode sofrer depressão ao menos uma vez ao longo da vida.Uma soma de fatores explica a alta incidência de depressão entre os brasileiros, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil:

  • Dificuldade de acesso a tratamento de qualidade na rede pública de saúde;
  • Forte estigma social ainda existente no país em relação aos transtornos mentais;
  • Falta de um protocolo de atendimento para a depressão.

A OMS aponta que o número de pessoas que sofrem de doenças mentais comuns está aumentando no mundo inteiro, principalmente em países de baixa renda.

E alerta que, apesar da depressão atingir pessoas de todas as idades e nível de renda, o risco de alguém ficar deprimido aumenta com a pobreza, o desemprego e com fatos da vida, como a morte de uma pessoa próxima, o fim de um relacionamento, debilitação física ou problemas causados pelo consumo de álcool ou drogas.

Mulheres são mais suscetíveis

Atendimento especializado

Na lista de pessoas mais suscetíveis a ter depressão, mulheres aparecem na liderança. Segundo a OMS, elas apresentam duas vezes mais chances de terem o diagnóstico da doença do que os homens.

“Do ponto de vista biológico, os menores níveis de testosterona acabam deixando a mulher mais exposta à doença. Por outro lado, na questão social e psicológica, a mulher corriqueiramente está em uma posição de maior vulnerabilidade que o homem e acaba ficando com muitas obrigações, o que aumenta as chances delas terem mais diagnósticos do que eles”, disse Volnei.

“Trata-se de uma doença cuja gênese é multifatorial. Ocorre em decorrência da somatória de fatores diversos, tais como: predisposição genética, meio ambiente adverso ou hostil, relações interpessoais insatisfatórias, dificuldades em ser reconhecido dentro de uma comunidade. No entanto, quanto melhor for a qualidade de vida como um todo, menores serão as chances de uma pessoa desenvolver um quadro de depressão”, ressaltou.

Preconceito ainda é barreira

“O ideal é que desde cedo o paciente seja tratado, mas o que acontece muitas vezes é que procurar ajuda especializada é um dos últimos atos. Antes, o paciente tenta de tudo para evitar ser taxado como doente mental pela sociedade”, disse Mariza Theme, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

No Brasil, os estados do Pará, Ceará, Amazonas e Maranhão aparecem como os que possuem o menor número de psicólogos atendendo na rede pública de saúde.

Contudo, engana-se quem pensa que o preconceito é a única barreira enfrentada por quem tem depressão no Brasil.

O acesso ao atendimento especializado na rede pública de alguns municípios brasileiros também dificulta a vida de quem tem depressão no país, segundo especialistas.

Levantamento feito pelo Instituto República.org com base em dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), mostra que existem apenas 19 psicólogos para cada 100 mil habitantes no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil.

Em alguns países da Europa, esse número de profissionais chega a ser superior a 40 para cada 100 mil habitantes.

Ao mesmo tempo, segundo a cientista política Paula Frias, ainda paira no senso comum do brasileiro uma ideia de que o cuidado com a saúde mental é um luxo ou algo que deve ficar

O que diz o governo

Segundo o  presidente do conselho científico da Abrata, Volnei Costa:“A maior parte da população brasileira precisa do SUS e muitas vezes os profissionais da rede não estão treinados para diagnosticar precocemente a saúde mental, fazendo com que o quadro da doença avance para uma depressão mais grave”, explicou.

O Ministério da Saúde também informou que, atualmente, a organização da rede pública para atendimento de pacientes com transtornos mentais está configurada em quatro níveis:
  • Organização por níveis de cuidado: a Atenção Primária é a principal porta de entrada para o SUS. Esta envolve promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, vigilância em saúde, com atendimento preferencial para casos de depressão e ansiedade leve e moderada. Até junho de 2023, foram realizados 10.866.381 atendimentos na Atenção Primária à Saúde (APS) a pessoas que apresentavam condições relacionadas à saúde mental.
  • Serviços especializados: para casos mais complexos, o acompanhamento é prioritariamente realizado pelos serviços especializados da RAPS. Isso inclui atendimento em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), serviços de urgência e emergência, UPAs e Pronto Atendimento. Além disso, havendo justificativa clínica, há a possibilidade de cuidado em leitos de saúde mental em hospital geral.
  • Acolhimento e encaminhamento: outra forma de acesso é quando o próprio usuário do SUS procura diretamente os serviços de saúde, ou por meio de encaminhamento de outros setores interligados, como Assistência Social, Educação e Justiça.
  • Medicação gratuita: por fim, o Ministério da Saúde informou que o SUS também fornece medicação para o tratamento de depressão em unidades de saúde pública e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).

Tipos de depressão

Transtorno depressivo maior (depressão clássica): o indivíduo apresenta humor deprimido quase todos os dias, grande diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades; perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta; insônia ou hipersonia diária; agitação ou retardo psicomotor; fadiga ou perda de energia; sentimentos de culpa e inutilidade; capacidade reduzida para pensar, concentrar-se ou indecisão; e pensamentos de morte (medo de morrer e ideação suicida).

Transtorno depressivo persistente (distimia): este transtorno representa uma consolidação dos transtornos depressivo maior crônico e transtorno distímico e tem como sintomas o humor deprimido constante por pelo menos dois anos (para adultos) ou pelo menos um ano (para crianças e adolescentes) em conjunto de duas ou mais das seguintes características: apetite diminuído ou alimentação em excesso; insônia ou hipersonia; baixa energia ou fadiga; baixa autoestima; ou sentimentos de desesperança.

Depressão pós-parto: é um transtorno que acomete mulheres após o parto, sendo caracterizada por uma tristeza profunda. Pode promover falta de interesse por atividades diárias, insônia, cansaço extremo, ansiedade, sentimento de culpa, falta de conexão com o bebê, entre outros sintomas.

Transtorno disfórico pré-menstrual: os sintomas deste transtorno apresentam-se na maioria dos ciclos menstruais na semana final antes do início do ciclo e apresenta melhora poucos dias depois do início da menstruação, até se tornarem mínimos ou ausentes na semana pós-menstrual e pode apresentar sintomas como: instabilidade afetiva acentuada; irritabilidade ou raiva acentuada; ansiedade e tensão acentuados; e baixo interesse em atividades habituais.

Transtorno bipolar: é uma condição de saúde mental que causa mudanças extremas de humor. Conhecido anteriormente como psicose maníaco-depressiva, se caracteriza pela alternância de períodos em que a pessoa fica mais exaltada (mania), de episódios de depressão (hipomania) e de normalidade.

FONTE: https://www.bbc.com/portuguese/articles/czkekymmv55o

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