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quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Entrevista com o Doutor Raimundo Facundes dos Santos.

 

 


Doutor Raimundo Facundes dos Santos – Delegado de Polícia aposentado.

1 – Conte-nos um pouco sobre sua história como delegado de polícia.

R – Ingressei na primeira turma de delegado de Polícia Civil do Estado do Amapá em 1992. O Estado tinha deixado de ser Território e naquele ano realizou seu primeiro concurso para o quadro da Polícia Civil. Foram muitos os desafios. O primeiro, e mais importante, foi porque me tornei policial quando o Brasil vivia um Estado Democrático. Isso faz muita diferença. Implantar uma polícia cidadã foi muito interessante. Abracei a filosofia de Polícia Comunitária e com essa filosofia conheci Alcoólicos Anônimos. Na Polícia Civil trabalhei em Santana e Macapá. Fui instrutor da Academia onde ministrei instrução em Direitos Humanos e Polícia Comunitária. Ocupei todos os cargos de direção superior, chegando a ocupar o cargo de Delegado Geral.

2-   Como o senhor conheceu o trabalho de Alcoólicos Anônimos?

R – É uma longa história, mas vou tentar sintetizar. Tudo começou quando descobrir que muitos crimes são cometidos por pessoas que estão sobre o efeito de álcool. Pior, para o dependente do álcool a lei não faz “efeito”, o álcool é uma droga lícita e, portanto, eles nunca vivem sem a droga porque ela está disponível a qualquer hora e nada e nem ninguém pode detê-los de usar. Só depois de um bom tempo na polícia descobrir isso. Fiquei chocado pelos crimes em que as pessoas alcoolizadas estavam envolvidas.  Principalmente os homicídios, que sem o álcool seriam evitados. Estava despreparado para trabalhar com essa demanda, não tinha informações. Na procura por resposta, então, encontrei Alcoólicos Anônimos que muito me ajudou a compreender o problema do alcoolismo. Sou grato a eles por isso. Álcool é um fator de violência.

3 – Como o senhor se tornou amigo de Alcoólicos Anônimos?

R – Quando, em busca das respostas para os problemas dos bêbados que eram presos, conheci Alcoólicos Anônimos e eles me convidaram para participar de algumas reuniões nos Grupos deles. Fique tão impressionado com o que vi, referente a recuperação deles, que resolvi acompanha-los e, desde então, eles me chamam de Amigo.  

4 – Em todos esses anos o senhor conheceu muitas histórias sobre o alcoolismo. O senhor poderia nos contar uma?

R – São muitas histórias impressionantes.

Na polícia foi um homicídio em que vítima foi uma criança que, a pedido do pai, foi comprar pão e ao sair da padaria foi assassinada por uma pessoa alcoolizada, atendendo o mando de uma outra pessoa alcoolizada. Quando o assassino foi preso ele disse que na hora viu apenas um vulto e furou esse vulto.

Em Alcoólicos Anônimos o impressionante são as histórias de recuperação, mas você pediu só uma, então, vou contar a história de um membro que eu conheci na cidade de Altamira, Estado do Pará. Um caso daqueles que o álcool devasta a saúde física da pessoa. Ele estava no hospital, entubado e já desenganado, e, então o levaram para um grupo. Ele foi na ambulância e assistiu a primeira reunião dele na maca. Até hoje ele está no AA.    

5 – Na sua opinião como a sociedade trata a questão do alcoolismo?

R – O alcoolismo, para a sociedade, é um grande desconhecido. Primeiro é considerado uma doença e essa doença é incurável. O que provoca essa doença? O álcool. Se essa doença incurável é provocada pelo consumo de álcool e o consumo só aumenta, como podemos explicar esse fenômeno? Só o desconhecimento, na minha opinião. Por isso que sempre digo que o álcool é um grande desconhecido.

6 – Na sua opinião, como a sociedade trata a questão do alcoolismo?

R – De um modo geral, a sociedade não trata a questão do álcool com o cuidado que o problema requer. Acho que ainda teremos muito que refletir até chegar a um ponto em que entenderemos quem é este álcool. Quanto mais informação melhor.

7 – Como uma pessoa pode se tornar amigo de AA?

R – Certa vez, o saudoso radialista Cunha Lopes, ao me entrevistar, me anunciou aos seus ouvintes: O FACUNDES FOI LÁ PRA DENTRO DO AA. Então, eu digo, pra ser amigo de AA a pessoa não deve ter problema com álcool e ir lá pra dentro de Alcoólicos Anônimos. Conhecer a irmandade, seus princípios e participar da vida de AA. É isso que faço.    

8 – Deixe uma mensagem para todos que nesse momento vivem o flagelo do alcoolismo.

R – A minha experiência me diz que, quem está sofrendo nas garras do álcool, deve procurar Alcoólicos Anônimos, tenho visto muitas recuperações que, dificilmente, a pessoa conseguiria fora de lá.

 

2 comentários:

  1. Excelente entrevista! É importante que as pessoas que necessitam de um olhar amigo, tenham um espaço de acolhimento, reflexão e apoio. (Graça Martins)

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  2. Intelectual, humanista, um verdadeiro Mahatma, Santana e o mundo precisam mais de pessoas assim. (Jorge Magno)

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