Drauzio Varella
Depressão é uma doença crônica, recorrente, muitas
vezes com alta concentração de casos na mesma família, que ocorre não só
em adultos, mas também em crianças e adolescentes. O que caracteriza
os quadros depressivos nessas faixas etárias é o estado de espírito
persistentemente irritado, tristonho ou atormentado que compromete as
relações familiares, as amizades e a performance escolar.
De acordo com a “American Psychiatric Association”, um
episódio de depressão é indicado pela presença de 5 ou mais dos
seguintes sintomas, quase todos os dias, por um período de pelo menos
duas semanas:
* Estado de espírito depressivo durante a maior parte do dia;
* Interesse ou prazer pela maioria das atividades claramente diminuídos;
* Diminuição do apetite, perda ou ganho significativo de peso na
ausência de regime alimentar (geralmente, uma variação de pelo menos 5%
do peso corpóreo);
* Insônia ou hipersônia;
* Agitação psicomotora ou apatia;
* Fadiga ou perda de energia;
* Sentimento exagerado de culpa ou de inutilidade;
* Diminuição da capacidade de concentração e de pensar com clareza;
* Pensamentos recorrentes de morte, ideação suicida ou qualquer tentativa de atentar contra a própria vida.
Na ausência de tratamento, os episódios de depressão duram em média
oito meses. Durações mais longas, no entanto, podem ocorrer em casos
associados a outras patologias psiquiátricas e em filhos de pais que
também sofrem de depressão.
A doença é recorrente: para quem já apresentou um episódio de
depressão a probabilidade de ter o segundo em dois anos é de 40%, e de
72% em 5 anos.
Em pelo menos 20% dos pacientes com depressão instalada na
infância ou adolescência, existe o risco de surgirem distúrbios
bipolares, nos quais fases de depressão se alternam com outras de mania,
caracterizadas por euforia, agitação psicomotora, diminuição da
necessidade de sono, idéias de grandeza e comportamentos de risco.
Antes da puberdade, o risco de apresentar depressão é o mesmo para
meninos ou meninas. Mais tarde, ele se torna duas vezes maior no sexo
feminino. A prevalência da enfermidade é alta: depressão está presente
em 1% das crianças e em 5% dos adolescentes.
Ter um dos pais com depressão aumenta de 2 a 4 vezes o risco da
criança. O quadro é mais comum entre portadores de doenças crônicas como
diabetes, epilepsia ou depois de acontecimentos estressantes como a
perda de um ente querido. Negligência dos pais e/ou violência sofrida na
primeira infância também aumentam o risco.
É muito difícil tratar depressão em adolescentes sem os pais estarem
esclarecidos sobre a natureza da enfermidade, seus sintomas, causas,
provável evolução e as opções medicamentosas. Uma classe de
antidepressivos conhecida como a dos inibidores seletivos da recaptação
da serotonina (fluoxetina, paroxetina, citalopran, etc.) é considerada
como de primeira linha no tratamento em crianças e adolescentes e os
estudos mostram que 60% respondem bem a esse tipo de medicação, que
apresenta menos efeitos colaterais e menor risco de complicações por
“overdose” do que outras classes de antidepressivos.
A recomendação é iniciar o esquema com 50% da dose e depois ajustá-la
no decorrer de três semanas de acordo com a reação da pessoa e os
efeitos colaterais. Uma vez que a resposta clínica tenha sido obtida, o
tratamento deve ser mantido por seis meses, no mínimo, para evitar
recaídas.
A terapia comportamental mostrou eficácia em ensaios clínicos e
parece dar resultados melhores do que outras formas de psicoterapia.
Por meio dela, os especialistas procuram ensinar aos pacientes como
encontrar prazer em atividades rotineiras, melhorar as relações
interpessoais, identificar e modificar padrões cognitivos que conduzem
à depressão.
Outro tipo de psicoterapia eficaz em ensaios clínicos é conhecida
como terapia interpessoal. Nela, os pacientes aprendem a lidar com
dificuldades pessoais como a perda de relacionamentos, decepções e
frustrações da vida cotidiana. O tratamento psicoterápico deve ser
mantido por seis meses, no mínimo.
Como o abuso de drogas psicoativas e o suicídio são consequências
possíveis de quadros depressivos, os familiares devem estar atentos e
encaminhar os doentes a serviços especializados assim que surgirem os
primeiros indícios de que esses problemas possam estar presentes.
FONTE: http://drauziovarella.com.br/crianca-2/depressao-na-adolescencia/
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