Talvez muita gente não saiba, mas a loucura é inspiradora. Seja em filmes, livros ou pinturas, a loucura costuma ser um dos temas mais retratados. Talvez isso se deva ao fato de ela sempre ter sido envolvida por uma aura mística/marginal/violenta, dependendo da fase da história. E além da loucura propriamente dita, também temos os outros transtornos, como o autismo e a depressão, por exemplo, que também costumam ser bastante representadas.
Para quem não sabe, no dia 18 de maio comemoramos aqui no Brasil o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. O dia faz referência à data em que foi realizada a I Conferência Nacional de Saúde Mental, em 1987. Resumindo, para quem não tem muito conhecimento no tema, nessa conferência foi elaborado um documento que trazia a proposta de reformulação do modelo de tratamento em saúde mental existente até então, propondo também a reorganização dos serviços. O que isso quer dizer? Que os serviços passariam a oferecer um tratamento que fosse mais humanizado, saindo do padrão no qual os portadores de transtornos mentais eram internados em hospitais psiquiátricos por tempos, às vezes, longos demais.
Pensando nisso, a 21 resolveu entrar no clima da semana da luta antimanicomial e trazer para vocês uma lista com dez filmes que, de alguma forma, abordam a loucura e alguns outros transtornos mentais.
Preparem a pipoca!
1. Bicho de Sete Cabeças
Neto (Rodrigo Santoro), um adolescente de classe média, leva uma vida normal até o dia em que seu pai o interna em um manicômio após encontrar um baseado no bolso do seu casaco. Incompreendido pelo pai conservador, Neto é apenas um adolescente em busca de liberdade, que experimenta a vida e tem algumas rebeldias. Com a relação difícil e a falta de conhecimento, a internação acabou sendo a saída mais fácil para os pais. Fácil para eles, mas o inferno para o jovem, que passa a viver a dura e desumana realidade dos hospícios, onde as pessoas são violentadas em um cotidiano que beira a miséria. Uma jornada pelo inferno que é a vida manicomial, esse filme é exemplo quando o tema é a forma de tratamento cruel dessas instituições de internamento.
2. Bem me quer, mal me quer
Angélique (Audrey Tautou) é uma artista plástica que desenvolve uma paixão desmedida por Loic (Samuel Le Bihan), um médico cardiologista casado e bem sucedido. Diante desse contexto e de alguns outros eventos, os amigos de Angélique tentam fazer com que ela esqueça o médico, mas nada disso consegue diminuir os sentimentos da jovem. Ela persiste na ideia de que Loic a ama, transformando seu amor em uma perigosa obsessão. Esse filme é daqueles que enganam à primeira vista, mas trazem a reviravolta. Esse longa fala de um transtorno mental chamado de Erotomania ou Síndrome de Clérambault que, de um modo geral, pode ser definida como a convicção delirante de alguém que acredita que a outra pessoa, geralmente de classe social mais elevada, está secretamente apaixonada por ela.
3. O Solista
Baseado em uma história real, o filme conta a história de Nathaniel Ayers (Jamie Foxx), um esquizofrênico que mora nas ruas de Los Angeles e toca violino e violoncelo. Atraído pelo som do violino, o jornalista Steve Lopez (Robert Downey Jr.) se aproxima e surge aí uma relação entre eles. Com o objetivo inicial de fazer uma matéria sobre Nathaniel, vemos que o relacionamento vai além disso, chegando a, porque não dizer, uma amizade. Por falar de música e de alucinações – que são sintomas da esquizofrenia de Nathaniel-, o filme estimula e emociona, principalmente nas cenas em que o músico está tocando. De um modo geral, é um bom filme para compreender melhor a esquizofrenia.
4. Adam
Esse filme conta a história de Adam (Hugh Dancy), um rapaz estranho e desajeitado que acabara de perder o pai. Após conhecer a nova moradora do apartamento de cima, Adam descobre em Beth uma nova forma de viver, despertando nele um sentimento totalmente novo. Nele, Beth (Rose Byrne) descobre um rapaz bondoso, fascinado por astrologia, mas com sérios problemas em se relacionar com as outras pessoas. Adam tem um tipo de autismo chamado Síndrome de Asperger, e através da delicadeza do filme podemos compreender um pouco melhor a vida de quem tem essa síndrome.
5. Dá Para Fazer
O que acontece quando um sindicalista cheio de ideias avançadas assume a direção de uma cooperativa de doentes mentais? Essa é a história base do filme. Nello (Claudio Bisio) assume a direção da cooperativa formada por ex-pacientes dos manicômios que foram fechados na Itália pela Lei Basaglia, que aboliu os hospitais psiquiátricos. Ao longo da história, acompanhamos a tentativa de Nello de implantar no local uma prática que substitua o assistencialismo por um trabalho de verdade, através do qual os pacientes tenham participação nos lucros de seu próprio trabalho. A questão é que existem as especificidades de cada paciente, já que cada um deles tem um transtorno específico. O filme é delicado e trata a questão com um pouco de humor, comovendo quem assiste e abordando uma temática atual, já que vemos no Brasil esse movimento de fechamento dos hospitais psiquiátricos e sua substituição por outros serviços.
6. Um Novo Despertar
Walter Black (Mel Gibson) é presidente de uma indústria de brinquedos, mas se encontra em um quadro de depressão. Por causa disso, ele está cada vez mais distante da esposa, Meredith (Jodie Foster) e dos filhos, Porter (Anton Yelchin) e Henry (Riley Thomas Stewart). A situação fica crítica quando Walter é posto para fora de casa pela esposa, fazendo com que ele comece a ter ideias suicidas. Certo dia, a caminho do hotel, Walter encontra no lixo um fantoche de Castor que acabará se tornando a nova técnica para ajuda-lo a se tratar da depressão. Ao longo do filme, vemos o desenrolar da história e a fuga da realidade através da criação de um personagem incorporado na figura do castor surge como um recurso de Walter para enfrentar a depressão. Porém, vemos também as implicações que isso acaba trazendo.
7. Precisamos Falar Sobre o Kevin
Conhecido por retratar um caso de perversão sem floreios e disfarces, esse filme conta a história de uma mãe e o seu difícil relacionamento com o filho primogênito. Eva (Tilda Swinton) lida com sentimentos diversos em relação à maternidade, além do sentimento de culpa por causa dos atos de seu filho, Kevin (Jasper Newell/Ezra Miller). Além disso, o filme retrata também o desenvolvimento de Kevin, na tentativa de explicar e justificar os seus atos, mostrando os motivos que podem ter o levado a ser como ele é. De um modo geral, Precisamos Falar Sobre Kevin ilustra bem um caso de perversão, além de retratar a importância dos pais na vida de uma criança.
8. Cisne Negro
Considerado um drama psicológico, esse filme conta a história de Nina Sayers (Natalie Portman), uma bailarina que tem na dança a sua vida. Nina mora com a mãe, que é bailarina aposentada e estimula a ambição profissional da filha. Certo dia, o diretor artístico da companhia decide substituir a bailarina principal na apresentação de abertura da temporada e Nina é a sua primeira escolha. Após isso, Nina passa a considerar as outras bailarinas como concorrentes, inclusive Lily (Mila Kunis), que é a que mais impressiona o diretor. Para a apresentação de O Lago dos Cisnes, deverá ser escolhida uma bailarina que seja capaz de interpretar tanto o Cisne Branco, com inocência e graciosidade, quanto o Cisne Negro, que representa a malícia e a sensualidade. A busca por essa dualidade acaba causando um conflito na mente de Nina, que busca obsessivamente aperfeiçoar o seu cisne negro. Diante de tudo isso, vemos a sua sanidade desaparecer.
9. Uma Mente Brilhante
Baseado em um fato real, Uma Mente Brilhante fala sobre o gênio da matemática John Nash (Russell Crowe), que ganhou fama no mundo acadêmico após formular um complexo teorema aos 21 anos de idade. Por causa da sua habilidade com a matemática, Nash começa a trabalhar secretamente para o Departamento de Defesa dos Estados Unidos. A partir daí, sentindo-se sempre perseguido, Nash põe em perigo a sua carreira e o seu casamento, pois aí começam os seus delírios e alucinações. Anos mais tarde, ele foi diagnosticado com esquizofrenia e deu início a sua luta contra a doença, reintegrando-se lentamente à sociedade e chegando a ser premiado com o Prémio de Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel. Esse também é um bom filme para ilustrar um caso de esquizofrenia.
10. Geração Prozac
Elizabeth (Christina Ricci) é uma menina comum que viu seus pais se divorciarem muito cedo e cresceu sob os cuidados da mãe. Aos dezenove anos, consegue uma vaga no curso de Jornalismo na universidade de Harvard. Porém, Lizzie – como é chamada – acaba desenvolvendo uma profunda depressão e se dedica a noites de trabalho sempre regadas a drogas e bebidas. Além disso, sua instabilidade emocional afeta seu relacionamento com as pessoas. Diante de todo esse contexto, Elizabeth decide procurar ajuda profissional e marca uma consulta com a Dra. Diana Sterling (Anne Heche), que lhe receita o antidepressivo Prozac. Nesse filme, além da depressão, é possível também ver a relação do paciente com o remédio e a medicalização tão comum ainda nos dias atuais.
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