Pedagoga Kelly Suane Furtado da
Silva, formada pela Universidade Federal do Amapá e especialista em Estatística
com Ênfase em Educação, funcionária do Estado desde 2006. Atuou 12 anos na
coordenação pedagógica do Colégio Amapaense e, desde 2018, desenvolve suas
funções no Centro de Educação Profissional Graziela Reis de Souza.
01.Como você chegou a essa carreira? O que te motiva? Por que você a
escolheu?
Desde criança,
sempre quis ser professora. Primeiro queria ser professora de Matemática,
depois de Língua Portuguesa, mas acabei me formando em Pedagogia e me enveredei
para a função de Coordenadora Pedagógica, na qual atuo há mais de 16 anos.
02. Quais pontos mudaram entre a sua experiência na Universidade e a
realidade que você vivencia na realidade de trabalho?
Tudo, na prática, é
diferente da experiência que vivemos na Universidade. O conhecimento
sistematizado é essencial, mas é a vivencia do dia a dia que nos mostra a
vontade de continuar, ou não, na função. Foi muito importante trabalhar por
longos anos na Educação Básica, coordenando o Ensino Médio. Mas também já
trabalhei no seguimento da Educação Infantil. Hoje, vivo a experiência de coordenar
cursos técnicos profissionalizantes e tudo isso me faz sentir realizada.
03.Quais são as dificuldades que você vivencia na sua profissão? Quais são
os pontos positivos?
Hoje em dia,
trabalhando na Educação Profissional, a principal dificuldade que vivencio é a
falta de políticas públicas voltadas para este seguimento. Muitas vezes, não
temos as orientações técnicas que precisamos. Por outro lado, é gratificante
acompanhar, orientar e coordenar todo o processo de formação dos alunos dos
cursos profissionalizantes. A maioria está em busca de uma formação técnica
para ser inserida no mercado de trabalho e garantir ou auxiliar no sustento de
suas famílias.
04.Qual o maior desafio que
você enfrentou na educação durante a pandemia? Fale sobre as competências que
você precisou desenvolver para conseguir se adaptar ao novo modelo de ensino.
Durante a pandemia, todos
passamos por dificuldades das mais diversas. No meu caso, enquanto Coordenadora
Pedagógica, a maior foi acompanhar e orientar os alunos indígenas do Curso
Técnico em Enfermagem, durante as aulas on-line, especialmente àqueles que
precisaram retornar para as suas comunidades durante este período, pois, além
da dificuldade de acesso à internet, a maioria não tinha conhecimento, muito
menos domínio sobre as ferramentas e plataformas utilizadas para as aulas
remotas. Foi um grande desafio inclusive para mim, pois também precisei
aprender a manuseá-las. Outro grande desafio foi lidar com o medo, a
insegurança, o isolamento e a ansiedade dos alunos. Muitos quiseram desistir.
05. Devido à Pandemia, notamos que houve um aumento substancial no
número de alunos com depressão e transtorno de ansiedade. Como você enfrentou e
enfrenta essa situação em seu ambiente de trabalho e na sua vida pessoal?
Foi
e ainda é preciso ter muita sensibilidade e empatia. Muitos alunos e colegas de
trabalho perderam familiares para a covid-19 e ainda sofrem as consequências
desta irreparável perda. Por isso, considero importante respeitar o tempo que
cada um precisa para se recuperar, mas é necessário estar atenta aos “sinais”
de possível depressão e transtorno de ansiedade que os alunos, colegas de
trabalho e as pessoas do meio familiar demonstram para poder ajuda-los e
estimulá-los a procurar um profissional da área da Psicologia.
06. Em virtude do setembro amarelo, enquanto profissional e pessoa,
qual é a sua opinião sobre este mês de combate à depressão e o suicídio?
A
depressão e o suicídio são transtornos que devem ser tratados como problema de
saúde pública. O mês de setembro é muito importante por ser um período dedicado
às realizações de diversas campanhas voltadas ao combate e prevenção destes
transtornos. É preciso ampliar as discussões sobre esses temas para que sejam
criadas mais políticas públicas voltadas para essa problemática, para que deixem
de ser um “tabu” e as pessoas sejam sensíveis àquelas que apresentem sintomas e
que estas se sintam seguras em procurar ajuda, seja de um profissional, um
familiar ou qualquer pessoa que lhe desperte confiança.
07.Estamos vivenciando uma nova era “pós-pandemia”, quais são os
desafios vivenciados pelo Centro Graziela Reis de Souza na formação de novos
profissionais?
Essa nova era “pós-pandemia” exige de todos os
envolvidos no processo de formação e de ensino-aprendizagem uma maior
competência sócioemocional. Formar profissionais seguros, éticos, pacientes,
autônomos, responsáveis e criativos é o desafio, depois de tantas perdas
causadas pela pandemia da Covid-19.
08.Na sua opinião, quais estratégias devemos desenvolver para
melhorar a Saúde Mental dos nossos alunos?
Primeiramente,
a principal estratégia para melhorar a saúde mental dos nossos alunos é
estimulá-los a falar. Fazer com que eles percam o medo de falar sobre o que
lhes atormenta é o primeiro passo a ser dado. Portanto, é muito importante que
a escola seja palco de discussões amplas sobre depressão, suicídio, ansiedade e
outros transtornos psicológicos que angustiam nossos jovens, e que essas
discussões sejam conduzidas por profissionais, como psicólogos, terapeutas,
pedagogos, professores, etc., que possam trazer as orientações técnicas que os
alunos necessitam. Por acreditar nesta estratégia, nós, professores do Centro
de Ensino Graziela Reis de Souza demos início ao nosso Projeto Setembro
Amarelo, cujo tema deste ano é “Como vai
você? Falar é a melhor solução; ouvir é ter empatia”, com o objetivo de
conscientizar a comunidade escolar sobre a prevenção e combate ao suicídio.
Para isso, oportunizamos um dia inteirinho só com palestras voltadas para a
temática, seguido de uma Escuta Psicológica, onde psicólogos poderão escutar,
acolher, orientar e encaminhar para psicoterapia os casos necessários.