Se tem uma coisa que a cantora e compositora Demi Lovato sabe fazer é expressar as emoções no palco, detalhando nas letras das músicas suas provações e vitórias sobre os distúrbios psicológicos.
Mas,
em seu tempo livre, ela também usa a voz para promover a
conscientização e aceitação dos transtornos mentais, falando
publicamente sobre sua experiência como bipolar e dependência do álcool.
"Quero usar minha voz de outras maneiras além de cantar."
Agora, Demi está dando mais um passo nessa batalha. A cantora lançou recentemente a campanha Be Vocal,
para incentivar pessoas que sofrem de doenças mentais a falar sobre
suas experiências. O projeto é uma parceria com organizações de saúde
mental conceituadas como The Jed Foundation e National Alliance on
Mental Illness, que há muitos anos desenvolvem iniciativas contra o
estigma.
O The Huffington Post conversou com Demi sobre seu novo projeto e o que ela quer transmitir sobre a questão da saúde mental.
The Huffington Post: O que a levou ao projeto Be Vocal?
Demi Lovato:
Para mim foi incrível que as cinco maiores organizações de saúde mental
tenham se unido para que isso acontecesse. O que me atraiu para esta
campanha foi a oportunidade de poder fazer um PSA [sigla em inglês para
anúncio de serviço público]. Podia ter certeza que [a mensagem sobre
saúde mental] seria divulgada. Com os recursos da Be Vocal, realmente
vai fazer diferença.
De fato, vejo que a questão das doenças mentais não é discutida como deveria ser.
Não
é. Mas as pessoas querem; as pessoas precisam. As pessoas querem falar e
aprender mais sobre o assunto porque as coisas estão aparecendo no
noticiário. O que a Be Vocal faz é dar mais informações às pessoas. É
importante que as pessoas falem sobre doenças mentais, em nome da
comunidade, e também por si mesmas.
Você poderia falar um
pouco sobre sua própria experiência com distúrbios psicológicos? Por que
decidiu falar publicamente sobre isso?
Falar sobre minha
doença mental era realmente difícil no começo, porque na verdade eu não
tinha escolha. Infelizmente, quando você está exposto ao público, todo
mundo sabe de seus segredos, quer você goste ou não. Eu poderia ter
dito: “Sim, estive em tratamento, mas não vou falar sobre isso”. Mas
senti que poderia fazer diferença.
O que gostaria que as pessoas entendessem mais sobre saúde mental?
Há
várias coisas. Em relação ao vício, há vezes em que as pessoas pensam:
“por que essa pessoa simplesmente não para de beber?” ou “por que essa
pessoa não come alguma coisa?”, no caso das que têm distúrbios
alimentares. Não é simples. Se fosse, não haveria tantas pessoas lutando
contra isso. Vidas não seriam perdidas. Gostaria que as pessoas
entendessem que o cérebro é o órgão mais importante do corpo. Só porque
você não vê [a doença mental] como poderia ver um osso quebrado, não
significa que não seja prejudicial e devastadora para uma família ou um
indivíduo.
É algo que muitas pessoas não se dão conta. Na
verdade, falamos muito sobre o que aconteceria se as pessoas começassem a
tratar doenças físicas como tratam as doenças mentais.
Sabe,
é engraçado. Continuo ouvindo os termos “doença mental” e “doença
física”. Mas, na realidade, seu cérebro é um órgão. Então é uma doença
física.
Vamos falar um pouco sobre o estigma dos
transtornos mentais. Como pessoas que sofrem esses distúrbios podem
lutar contra os estereótipos?
É muito triste. Acredito
que quanto mais as pessoas expressarem o que estão passando — sua
experiência ou simplesmente se educando para que aprendam mais sobre o
que estão falando —, será a chave para criar um debate sobre doenças
mentais e torná-las mais compreensíveis. Existe uma falta de compaixão
por pessoas que sofrem doenças mentais e elas são muito julgadas. Uma
vez que você consiga que as pessoas percebam que qualquer um pode sofrer
uma doença mental — e não é culpa de ninguém —, então acho que
entenderão mais sobre o que realmente é uma doença mental.
Que
conselho você teria para adolescentes ou jovens adultos que possam
estar sofrendo de ansiedade ou qualquer outro transtorno psicológico no
período escolar?
Não me canso de enfatizar que exponham
suas necessidades para um amplo sistema de apoio — seja a família ou
mesmo uma comunidade online de pessoas que estejam passando pelo mesmo
problema. É muito importante expressar o que você está passando, em vez
de internalizar e deixar que isso se manifeste por meio de um
comportamento doentio. Isso no final causa problemas para a vida
inteira. É a coisa mais importante que você pode fazer. Fazer exercícios
é outra maneira pela qual lido com minha ansiedade. Pintar, compor
músicas e me expressar através da arte são outras formas pelas quais
posso liberar emoções. Meditação é outra. Seja o que for, é importante
encontrar o que funciona para você.
Crédito: Timothy Hiatt via Getty Images
Publicamos vários posts para a Stronger Together [iniciativa do HuffPost para a conscientização sobre doenças mentais] sobre o que é realmente sentir esses transtornos. Como você descreveria a sensação física que a ansiedade provoca?
Na
verdade minha ansiedade chegava ao ponto de me sentir como se estivesse
drogada. Eu acabei tendo problemas na tireoide, porque me sentia muito
estressada e muito ansiosa. Lembro de uma vez ir ao hospital porque
fisicamente sentia que estava drogada. Estava tendo um ataque de
ansiedade.
No dia a dia, se me sinto ansiosa, apenas respiro fundo algumas vezes porque às vezes sinto que fico sem ar. Às vezes fico muito trêmula e dispersa. Conhece a síndrome das perna inquietas? É como a síndrome do corpo inquieto.
No dia a dia, se me sinto ansiosa, apenas respiro fundo algumas vezes porque às vezes sinto que fico sem ar. Às vezes fico muito trêmula e dispersa. Conhece a síndrome das perna inquietas? É como a síndrome do corpo inquieto.
É assustador. Quando se sente assim, quem é a primeira pessoa para a qual você liga quando precisa de apoio?
A primeira ligação que faço é para meu namorado [Wilmer Valderrama].
Ele te acalma?
Com
certeza. Me acalma e me faz sentir muito melhor. Mas ter pessoas que
são profissionais e não depender somente de uma pessoa é outra chave
para manter uma recuperação saudável. Converso com meu terapeuta. Faço
parte do AA [Alcoólicos Anônimos], então procuro meu mentor. Converso
com pessoas ao meu redor, com colegas da minha equipe. Vocalizo muito o
que preciso e são muito compreensivos. Sou muito agradecida por isso.
FONTE: http://www.brasilpost.com.br/2015/06/25/demi-lovato-doencas-mentais_n_7665148.html
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