Meios de comunicação estimulam
a manutenção dos
padrões de beleza impostos
pela indústria da moda e
da estética
A aparição da modelo tcheca
Karolina Kurvova na última
edição da semana de
moda de São Paulo, a São Paulo
FashionWeek, em junho deste ano,
trouxe à tona novamente a discussão
sobre os padrões de beleza
impostos pela indústria da moda e
da estética. A top, que desfilou de
biquíni por uma grife de moda
praia, foi alvo de duras críticas em
diversos veículos brasileiros, pois
estaria, segundo especialistas do
mundo das passarelas, com alguns
quilos e celulites a mais.
O episódio foi notícia em diversos
meios de comunicação internacionais.
Sites como o do grupo Fox
News e o do jornal Daily Telegraph
acusaram a mídia brasileira de atacar
a top por supostamente ter aparecido
"gorda demais" na passarela e
de, assim, colaborar para a manutenção
dos padrões de beleza inatingíveis
instituídos pelo meio fashion.
A morte da modelo brasileira
Ana Carolina Reston, em 2006, devido
a complicações causadas por
uma anorexia nervosa – transtorno
alimentar e de imagem que faz o
paciente buscar a magreza incessantemente
– também chamou a
atenção da comunidade global para
o assunto. Desde então, surgiram
algumas iniciativas na mídia com o
objetivo de alertar a população sobre
esse e outros distúrbios relacionados ao medo de engordar e sobre
as conseqüências da ditadura do
corpo perfeito.
A exemplo da campanha publicitária
que traz a foto de uma garota
extremamente magra e os dizeres
"No Anorexia" (Não à anorexia),
criada pelo fotógrafo Oliviero
Toscani para a marca de roupa italiana
No-l-ita, anúncios e reportagens
estão sendo veiculados principalmente
na Europa.
Para a comunicóloga e professora
de jornalismo, Marina Quevedo,
mesmo que haja um esforço maior
hoje para dar visibilidade, sobretudo,
a essas doenças psicossociais, os meios de comunicação de massa
não têm a intenção e nem o papel
de exterminá-los. "A mídia vive
também do sensacionalismo e da
exploração da morte. Para que ela
se mantenha, nos matamos um
pouco a cada dia sob diferentes aspectos",
declara.
Já o coordenador da área de comunicação
da Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São
Paulo (FAPESP), Norval Baitello,
vê essas ações da mídia com mais
otimismo. Baitello afirma que, da
mesma forma que os meios de
comunicação de massa se colocam,
muitas vezes, a serviço desse padrão
de beleza ideal inatingível,
eles tambémpodemse tornar agentes
conscientizadores da diversidade.
"No momento em que a mídia
não fala simplesmente sobre os
modelos considerados perfeitos de
acordo com os padrões, mas aponta
para a variedade dos tipos existentes,
ela alerta para os riscos da
violência contra o corpo, prevenindo,
por exemplo, o uso de anabolizantes,
e ajudando até a salvar
vidas".
Porém, como destaca Marina,
essas iniciativas damídia, que valorizam
a diversidade cultural e procuram
gerar no indivíduo um sentimento
de satisfação em relação ao
próprio corpo, são raras. "Vemos
algumas tímidas propostas em canais
de televisão não muito assistidos.
Levará anos para que vejamos
uma mídia madura e mais democrática
em relação à pluralidade",
completa Marina.
Renata Firace
FONTE: http://www.metodista.br/cidadania/numero-59/midia-alimenta-padrao-de-beleza/
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