Rio de Janeiro – Por lei, todas as escolas do país são obrigadas a
aceitar alunos com deficiência e/ou doenças crônicas. Desde 1998, o
número de matrículas de estudantes especiais em escolas regulares passou
de 43,9 mil para 558 mil em 2011.
A realidade, porém, mostra que não basta receber os alunos, é preciso que a escola os acolha
e, para isso, especialistas concordam que a formação de professores
para cuidar desses alunos com necessidades especiais é ainda um dos
maiores desafios para se alcançar a educação inclusiva.
Há 31 anos trabalhando com educação, a professora Edicléa
Mascarenhas Fernandes é especialista em educação especial. Ela ajudou a
fundar, em 2004, a disciplina prática pedagógica e educação inclusiva
para todas os cursos de licenciatura da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (Uerj). Para ela, que também faz parte do Conselho Estadual
para a Política de Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, a
formação na graduação, na pós-graduação e na educação continuada precisa
ser obrigatória em todos os cursos de licenciatura.
“Há 20 anos, quase não tínhamos crianças com síndrome de Down
terminando o ensino fundamental. Hoje, felizmente, elas vão muito além e
temos que preparar também o professor. A inclusão é um direito e,
felizmente, na Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com
Deficiência apontamos novamente a necessidade de que esses cursos sejam
obrigatórios, mas sem dúvida as políticas têm avançado muito”, comentou a
professora. Ela informou que a Uerj auxiliou a Universidade Federal
Fluminense (UFF) na implementação da disciplina inclusão e diversidade
na licenciatura.
Embora defenda a inclusão de crianças especiais nas classes comuns, a
pesquisadora alertou que algumas crianças com deficiência múltiplas,
por exemplo, podem precisar de atendimento mais restritivo. “Defendo uma
inclusão, [de acordo com as] modalidades existentes na educação
especial. Por exemplo, especialistas surdos defendem as classes
especiais nas séries iniciais, [em função da] língua de sinais. O
projeto de inclusão não se esgota em estar ou não na classe comum”,
defendeu. “Por isso, a formação é tão importante, para que esta criança
tenha o que é melhor para ela”.
A professora se disse otimista e reconheceu que o país já avançou
muito. "Mas ainda é preciso avançar muito na garantia de direitos. O
acesso ao mundo profissional, por exemplo, ainda é muito restrito”,
lamentou Edicléa.
Chefe do Centro de Genética Médica do Instituto Nacional de Saúde da
Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF-Fiocruz),
Juan Llerena atende a crianças com todo o tipo de deficiência. Segundo
ele, os avanços na medicina, que possibilitam maior sobrevida de pessoas
com síndrome de Down, trazem enormes desafios para a sociedade na
inclusão dessas pessoas no mercado de trabalho.
“Minha preocupação maior não é tanto com as crianças e os
adolescentes, mas com o adulto jovem que não está mais na escola, não
está no mercado de trabalho e não há escolas profissionalizantes que o
recebam, o que o torna exclusivamente dependente da capacidade criativa e
motivadora da família”.
Assim como Edicléa, Llerena acredita que o Brasil avançou muito na
discussão, mas que o modelo tradicional de ensino é incompatível com a
proposta de inclusão e diversidade. “A escola tradicional baseia-se no
princípio do conhecimento cartesiano, direcionado à produtividade. e
crianças com déficit intelectual não vão atender às exigências mínimas
que a escola hoje solicita”.
Ele defendeu programas voltados para a adaptação desses indivíduos
na sociedade. Segundo Lherena, cursos técnicos que priorizam a mão de
obra e a prática podem ser muito mais úteis e atraentes para algumas
crianças com síndrome de Down.
Dados do Censo da Educação Superior de 2009 mostram que a quantidade
de estudantes com algum tipo de deficiência intelectual matriculadas em
instituições de ensino superior, públicas e privadas, chega a 465.
Desse total, 62 estão em instituições federais.
Edição: Tereza Barbosa
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FONTE: http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-03-21/alem-de-receber-alunos-com-sindrome-de-down-escola-precisa-acolhe-los-diz-educadora
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