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domingo, 10 de dezembro de 2023

Entrevista com o Psicólogo Rosivaldo Lima Batista

 

Entrevista com o Psicólogo  Rosivaldo Lima Batista – Psicólogo da Associação das Famílias de Dependentes Químicos do Estado do Amapá, que promove um trabalho de Prevenção e Recuperação de Adictos.

 

01.Psicólogo Rosivaldo nos conte sobre seu trabalho como Psicólogo da Associação das Famílias dos Dependentes Químicos.

É realizado o acolhimento e a entrevista inicial, com atendimento psicológico individual, com o adicto, e a partir  daí realiza-se  um plano de tratamento para o adicto, objetivando tratar o dependente químico, como um todo, objetivando sua recuperação e transformação positivamente, seu estilo de vida e sua identidade pessoal.

2) O Senhor poderia nos explicar como é feito o tratamento dos adictos? Como é o internamento e a recuperação dos mesmos?

O tratamento da dependência química e de álcool, é composto por um conjunto de técnicas e intervenções desenvolvidas, com o intuito de favorecer a redução e a abstinência do consumo de substâncias psicoativas e também, a melhora da qualidade de vida e do funcionamento psicossocial dos dependentes.

3) Como é feito o processo terapêutico do adicto?

Convivência entre os pares, participando ativamente na vida e nas atividades da comunidade terapêutica. A pratica da espiritualidade, através do coping espiritual, a utilização do trabalho terapêutico, como valor educativo e terapêutico no processo de tratamento na comunidade terapêutica e na recuperação do dependente de substâncias psicoativas

4) O Senhor poderia nos dizer sobre os pontos mais difíceis do tratamento dos dependentes?

A aceitação e participação ativa  no programa terapêutico definido e oferecido pela comunidade terapêutica ou seja pela equipe multidisciplinar.

 5) Tem algum caso específico de recuperação que o Senhor gostaria de compartilhar conosco?

Foi de um dependente de álcool e outras drogas, que no momento do acolhimento, se propôs a ficar somente 01 mês, e durante esse período, o mesmo, se conscientizou que deveria continuar o tratamento por um período mais longo, de 09 meses, e após o tempo estipulado do tratamento final, o mesmo, se propôs a ser um agente voluntário na comunidade, por 06 anos, contribuindo de forma positiva, acompanhando processo de recuperação de outros residentes em tratamento.

6) Quais características ou habilidades são importantes que o senhor acredita serem importantes para trabalhar com esse público?

Identificar as necessidades específicas do paciente determinando seus pontos fortes e fracos, bem como suas necessidades. Planejar, desenvolvendo uma proposta específica para cada caso. Auxiliar o encaminhamento das necessidades sociais do   adicto.

 7) Quais os pontos positivos e negativos da sua área de atuação?

Os pontos positivos: a reabilitação psicossocial do adicto, contribuindo para o resgate da sua autoestima, motivando o mesmo para um estilo de vida saudável e conscientizando o mesmo, através das ações desenvolvidas, que é possível viver, sem o uso das substâncias psicoativas e do álcool no seu meio familiar e social.

Os pontos negativos: quando o dependente químico ou de álcool, não se submete ao plano de tratamento, o qual foi designado para o mesmo, e quando não verbaliza no ato da consulta psicológica as mazelas de sua vida, dificultando então seu tratamento.

8) Na sua opinião quando uma pessoa deve procurar a ajuda de um psicólogo?

Na realidade dificilmente o adicto irá procurar o atendimento psicológico espontaneamente por ele, na maioria dos casos, a família é que o conscientiza, que o mesmo precisa de ajuda psicológica.

 

 

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Jeong, o conceito milenar coreano que pode ajudar a ser mais feliz.

 


Ele é descrito como um estado mental de calor, profundo apego emocional e compaixão pelas pessoas que compartilham laços comuns e o desejo inato de fazer algo pelo outro.

É o "jeong", um conceito que é parte integrante da cultura e da sociedade sul-coreana há mais de 2 mil anos.

-Embora reconheça que existem atitudes semelhantes ao "jeong" em outras culturas, o conceito é único, exclusivamente coreano, baseado na ideia de responsabilidade social coletiva.

O Ministério da Cultura, Esportes e Turismo da Coreia do Sul descreve-o assim: "Um sentimento caloroso de amor, afinidade, compaixão e vínculo entre pessoas que compartilham um vínculo emocional e psicológico".

No entanto, Cho acrescenta que não é apenas entre pessoas. "Pode ser um vínculo com objetos, lugares, animais de estimação. Qualquer coisa com a qual você possa desenvolver um vínculo."

Jihee Cho nasceu na Coreia do Sul, onde cresceu e viveu até os 13 anos. Sua família morava no mesmo bairro há 30 anos.

Na cultura coreana, as pessoas próximas são chamadas de "tios" e "tias". Além disso, quando se referem às mães, não dizem "minha mãe", mas "nossa mãe".

Depois de se mudar para os Estados Unidos, onde estudou, fez doutorado e abriu seu consultório em Nova York, Cho não esqueceu a prática do "jeong", principalmente na cidade grande, onde a sociedade é cada vez mais fragmentada e individualista.

Desde o início manteve-se próxima de duas ou três famílias com quem conviveu. Elas se viam na igreja e faziam atividades juntas.

Várias mulheres engravidaram ao mesmo tempo e compartilharam suas experiências. "Através de nossas experiências mútuas, sabemos muito sobre nós mesmos e nossas famílias", disse ela.

Mais do que apenas gentileza

Há dois anos, seu pai morreu repentinamente durante a pandemia e ela teve que viajar com urgência para a Coreia do Sul. Foi um momento crítico em que seus amigos expressaram novamente a atitude de "jeong".

"Sem precisar de maiores explicações, eles imediatamente se envolveram na situação. Um amigo meu preparava o café da manhã para meu bebê, outra família trazia coisas que meu marido poderia precisar, vinham nos finais de semana para acompanhá-lo. Esse é um exemplo de como isso é praticado", afirma.

Pode ser visto como um simples ato de gentileza, mas Cho diz que se trata mais de saber intuitivamente o que uma pessoa pode precisar em tempos difíceis. Isso vai além de ser um bom vizinho ou ser solidário, é se importar verdadeiramente com a outra pessoa.

Mas não se expressa apenas nos momentos de dificuldade. Também pode acontecer em momentos positivos, de alegria. "Se alguém recebe uma boa notícia, também ficamos felizes com isso. Participamos coletivamente."

Sacrifício coletivo

Essa ideia de coletividade é a base do "jeong", que pode se estender além da esfera familiar e comunitária, englobando o local de trabalho e a identidade da nação.

Em relação a esse último, Cho recorda dois acontecimentos marcantes para a Coreia do Sul que ocorreram em 1998.

Um deles foi a profunda crise financeira que o país atravessou ao enfrentar o pagamento de uma dívida de bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O governo iniciou uma enorme campanha midiática pedindo aos seus cidadãos que doassem seus itens de ouro para recolher metais preciosos suficientes para ajudar a saldar a dívida. Milhares vieram entregar seus anéis, colares, relógios e outras roupas.

"Quem faria isso? Por que você doaria seu ouro, que é seu próprio recurso?", pergunta ela. "Mas foi um grande momento. Um movimento de sacrifício nacional com o qual a dificuldade foi superada."

Dez anos antes, houve outro momento de "jeong nacional", que foi a candidatura de Seul para sediar os Jogos Olímpicos. Os sul-coreanos tiveram que trabalhar muito para atingir esse objetivo.

"Mas não era o objetivo do país", insiste Cho, "era o objetivo de todos, porque todos partilhamos o nosso apego à nação".

Contra o isolamento da cidade grande

A psicóloga é especialista em depressão, ansiedade e relacionamentos pessoais. Esses são aspectos da saúde mental que são afetados pela vida em Nova York, onde ela tem seu consultório.

"Parte do meu trabalho como terapeuta não é dizer-lhes o que fazer, mas orientá-los para encontrar um ponto de partida para o que podem fazer", explica ela. "Conversamos sobre como eles podem criar suas próprias comunidades, encontrar pessoas que pensam como você e desenvolver relacionamentos."

Essa implementação do "jeong" é um pequeno começo. Na verdade, é preciso compartilhá-lo sem esperar nada em troca e não perder a oportunidade de praticá-lo. "Então vá em frente, dê uma chance, procure conhecer a pessoa, saia para almoçar, mande uma mensagem perguntando como ela está e veja se ela quer te conhecer mais", sugere aos pacientes.

Ao dizer que quem oferece "jeong" beneficia mais do que quem recebe, ela alerta sobre a reciprocidade necessáaria. Muito "jeong" unilateral pode prejudicar um relacionamento, diz.

"Dizer que você não tem 'jeong' significa que você não tem apreço por alguém", afirma a psicóloga. "Quando você inicia um relacionamento, você está 'cultivando' o 'jeong', mas se ele começar a vacilar, você está 'aposentando' o 'jeong'."

FONTE: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cn0pxy80xv7o

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Entrevista com o Doutor Raimundo Facundes dos Santos.

 

 


Doutor Raimundo Facundes dos Santos – Delegado de Polícia aposentado.

1 – Conte-nos um pouco sobre sua história como delegado de polícia.

R – Ingressei na primeira turma de delegado de Polícia Civil do Estado do Amapá em 1992. O Estado tinha deixado de ser Território e naquele ano realizou seu primeiro concurso para o quadro da Polícia Civil. Foram muitos os desafios. O primeiro, e mais importante, foi porque me tornei policial quando o Brasil vivia um Estado Democrático. Isso faz muita diferença. Implantar uma polícia cidadã foi muito interessante. Abracei a filosofia de Polícia Comunitária e com essa filosofia conheci Alcoólicos Anônimos. Na Polícia Civil trabalhei em Santana e Macapá. Fui instrutor da Academia onde ministrei instrução em Direitos Humanos e Polícia Comunitária. Ocupei todos os cargos de direção superior, chegando a ocupar o cargo de Delegado Geral.

2-   Como o senhor conheceu o trabalho de Alcoólicos Anônimos?

R – É uma longa história, mas vou tentar sintetizar. Tudo começou quando descobrir que muitos crimes são cometidos por pessoas que estão sobre o efeito de álcool. Pior, para o dependente do álcool a lei não faz “efeito”, o álcool é uma droga lícita e, portanto, eles nunca vivem sem a droga porque ela está disponível a qualquer hora e nada e nem ninguém pode detê-los de usar. Só depois de um bom tempo na polícia descobrir isso. Fiquei chocado pelos crimes em que as pessoas alcoolizadas estavam envolvidas.  Principalmente os homicídios, que sem o álcool seriam evitados. Estava despreparado para trabalhar com essa demanda, não tinha informações. Na procura por resposta, então, encontrei Alcoólicos Anônimos que muito me ajudou a compreender o problema do alcoolismo. Sou grato a eles por isso. Álcool é um fator de violência.

3 – Como o senhor se tornou amigo de Alcoólicos Anônimos?

R – Quando, em busca das respostas para os problemas dos bêbados que eram presos, conheci Alcoólicos Anônimos e eles me convidaram para participar de algumas reuniões nos Grupos deles. Fique tão impressionado com o que vi, referente a recuperação deles, que resolvi acompanha-los e, desde então, eles me chamam de Amigo.  

4 – Em todos esses anos o senhor conheceu muitas histórias sobre o alcoolismo. O senhor poderia nos contar uma?

R – São muitas histórias impressionantes.

Na polícia foi um homicídio em que vítima foi uma criança que, a pedido do pai, foi comprar pão e ao sair da padaria foi assassinada por uma pessoa alcoolizada, atendendo o mando de uma outra pessoa alcoolizada. Quando o assassino foi preso ele disse que na hora viu apenas um vulto e furou esse vulto.

Em Alcoólicos Anônimos o impressionante são as histórias de recuperação, mas você pediu só uma, então, vou contar a história de um membro que eu conheci na cidade de Altamira, Estado do Pará. Um caso daqueles que o álcool devasta a saúde física da pessoa. Ele estava no hospital, entubado e já desenganado, e, então o levaram para um grupo. Ele foi na ambulância e assistiu a primeira reunião dele na maca. Até hoje ele está no AA.    

5 – Na sua opinião como a sociedade trata a questão do alcoolismo?

R – O alcoolismo, para a sociedade, é um grande desconhecido. Primeiro é considerado uma doença e essa doença é incurável. O que provoca essa doença? O álcool. Se essa doença incurável é provocada pelo consumo de álcool e o consumo só aumenta, como podemos explicar esse fenômeno? Só o desconhecimento, na minha opinião. Por isso que sempre digo que o álcool é um grande desconhecido.

6 – Na sua opinião, como a sociedade trata a questão do alcoolismo?

R – De um modo geral, a sociedade não trata a questão do álcool com o cuidado que o problema requer. Acho que ainda teremos muito que refletir até chegar a um ponto em que entenderemos quem é este álcool. Quanto mais informação melhor.

7 – Como uma pessoa pode se tornar amigo de AA?

R – Certa vez, o saudoso radialista Cunha Lopes, ao me entrevistar, me anunciou aos seus ouvintes: O FACUNDES FOI LÁ PRA DENTRO DO AA. Então, eu digo, pra ser amigo de AA a pessoa não deve ter problema com álcool e ir lá pra dentro de Alcoólicos Anônimos. Conhecer a irmandade, seus princípios e participar da vida de AA. É isso que faço.    

8 – Deixe uma mensagem para todos que nesse momento vivem o flagelo do alcoolismo.

R – A minha experiência me diz que, quem está sofrendo nas garras do álcool, deve procurar Alcoólicos Anônimos, tenho visto muitas recuperações que, dificilmente, a pessoa conseguiria fora de lá.