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domingo, 29 de outubro de 2017
Paciência
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não para
Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso, faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara
Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência
Será que é tempo
Que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo
Pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara.
FONTE: https://www.letras.mus.br/lenine/47001/
sábado, 14 de outubro de 2017
A importância da Praxiterapia.
A praxiterapia, ou terapia
prática, é o uso ou aplicação de um ritual, de um comportamento, de um
movimento físico já utilizado no passado, consciente ou
inconscientemente, com duas finalidades principais; a primeira, no caso
de nunca ter sido usado antes, para que ele seja inconscientizado com
todos os afetos associados ou ancorados a eles, como, por exemplo, numa
técnica neurolinguistica de imprint desenvolvida por Richard Bandler,
John Grinder e Milton Erickson.
A segunda finalidade é precisamente o contrário, quando estes
comportamentos ou movimentos já existiram antes, eram frequentemente
usados no passado, para que ele ser re-ungido com os sentimentos, com a
afetividade ancorada nesses comportamentos antidos como uma técnica de
cura aplicada por um agente terapêutico.
Esses comportamentos, ou rituais antigos ficam guardados como um
patrimônio, como um recurso, como uma memória talvez para que a vida os
utilizem no futuro.
Se recorremos a Viktor Frankl, Ph.D., o criador da Logoterapia e da
psicoterapia existencial humanista, vemos que um dos pressupostos da
humanização do homem é o exercício da sua liberdade.
A praxiterapia é uma revolução, na medida em que, quando o sujeito se
comporta "como se" estivessem bem, eles, por isto, se tornam bem.
No Centro de Ensino Profissional Graziela Reis de Souza, eu, Enfermeiro Marcelo Luiz Pereira desenvolvi simulações de Praxiterapia com meus alunos dos Cursos de Aconselhadores de Dependentes Químicos e Cuidadores de Idosos. Os resultados foram excelentes, houve a participação de todos, e a harmonia na realização das tarefas (jogos educativos, desenhos, pinturas, colagens, e o dia da beleza) foi marcante.
Pude constatar ainda que o processo de construção das atividades foi extremamente salutar, com uma resposta altamente positiva por parte dos envolvidos.
Medo de morrer, de matar e de se contaminar: três histórias sobre como é viver com transtorno obsessivo compulsivo
Para a maior parte das pessoas, uma
toalha, um jornal ou sapatos não são nada além de objetos comuns. Mas,
para algumas pessoas, itens como estes podem desencadear pensamentos
invasivos difíceis de serem controlados.
Se você não tem o
transtorno obsessivo compulsivo (TOC), pode ser difícil entender como um
objeto inofensivo pode atrapalhar o cotidiano de uma pessoa e colocá-la
em uma espiral incontrolável.
Este distúrbio de ansiedade é
caracterizado por pensamentos invasivos, recorrentes e persistentes que
geram inquietação, medo e preocupação, e desencadeando compulsões -
comportamentos repetitivos com os quais os pacientes tentam reduzir sua
ansiedade.
É um transtorno mental comum, de acordo com o serviço de saúde
pública do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês). Ele afeta homens,
mulheres e crianças e pode desenvolver-se em qualquer idade, embora
apareça com mais frequência no início da idade adulta.
A BBC falou
com três pessoas que sofrem de TOC e pediu-lhes que apontassem para um
objeto que simbolizasse todo o seu sofrimento.
Estas são suas histórias, contadas em primeira pessoa.
Eve e os jornais
"Sempre
pensei o pior de mim mesma. Na minha melhor avaliação, eu era um
fracasso que não agradava e que não deveria agradar a ninguém. Na pior
das hipóteses, eu era uma pessoa terrível.
Mas, quando eu tinha 22 anos, o ódio que sentia por mim mesma piorou ainda mais.
Comecei a me preocupar com a possibilidade de que isso me tornasse uma pessoa perigosa, que eu pudesse machucar os outros.
Não consigo descrever quão horrível era esse sentimento. Comecei a evitar todo mundo, com medo de que pudesse machucar alguém.
Um dia eu li um artigo sobre um estuprador e
assassino. A agitação inicial e o horror que senti foram rapidamente
substituídos pela ideia de 'e se eu me tornasse uma pessoa tão ruim
assim?'.
Artigos de jornais - e as próprias notícias - juntaram-se à longa lista de coisas que eu temia.
E se as histórias de alguma forma contaminassem minha mente e me piorassem ainda mais?
Para
alguém que não possui TOC e tem uma opinião razoável de si mesmo, isso
pode parecer ridículo. Mas fazia todo o sentido para mim.
Então comecei a evitar os jornais. Não passava por lojas que os vendessem, nem os tocava, e também evitava pensar neles.
Viajar
a trabalho de trem tornou-se algo horrível. Eu mantinha minha cabeça
para baixo e balançava-a constantemente para tentar livrar-me de
qualquer imagem que pudesse ter visto acidentalmente. Fiquei presa na
minha própria bolha de medo.
No final, consegui superar minha
desordem com terapia cognitivo-comportamental e com psicoterapia. Ainda é
um problema para mim às vezes e ainda tenho muita ansiedade, mas
aprendi a ser minha própria psicoterapeuta e a desafiar meus medos.
Espero que as pessoas compreendam que o TOC é exaustivo e realmente pode fazer você se odiar.
Não
confiar em si mesmo, ter de lutar constantemente contra pensamentos
indesejados e criar compulsões que você sabe não fazerem sentido, tudo
isso explode sua autoestima."
Alice e os sapatos
"Sei
que meus pensamentos são irracionais, mas não posso controlá-los. A
cada minuto de todos os dias, imagens assustadoras de infecções vêm à
minha mente. As pragas de insetos são o meu maior medo. Se meus
pensamentos se transformassem alguma vez em realidade, creio que ficaria
tão ansiosa que não poderia respirar.
insetos vivem no solo e o solo não pode ser evitado. Então, meus
sapatos e meias estão frequentemente contaminados. Se eu vejo algo pelo
canto do olho que se parece um inseto, minha ansiedade me golpeia. Meus
sapatos e meias ficam imediatamente sujos, mesmo que nunca tenham tocado
o inseto imaginário.
Então eu evito tocá-los e frequentemente os tiro e largo na rua, voltando para casa com os pés descalços.
Mas
eu tenho que tirá-los sem usar minhas mãos. Eu queria que as pessoas
não olhassem para mim quando faço isso. Queria que as pessoas não
pensassem que eu sou estranha por isso, mas, acima de tudo, gostaria de
ter uma vida normal."
Grace e as toalhas
"Toda
vez que eu tiro a toalha de meu corpo, vejo a imagem do meu cadáver
sendo transportado em uma maca. E quando você imagina que algo vai
acontecer, você acha que isto vai acontecer mesmo. É assim que o TOC
funciona.
A única maneira de sair dessa sequência de
pensamento era pedir que outra pessoa tirasse a toalha da minha vista -
assim eu não imaginava meu corpo sem vida ao seu lado.
Este é apenas um exemplo das diferentes maneiras pelas quais meu distúrbio se manifestava.
Eu
estudei psicologia e fui diagnosticada quando estava na faculdade.
Quando aprendi sobre a teoria da evolução, parei de acreditar em Deus e
comecei a pensar em mim como um organismo natural, que não iria ao céu
ou ao inferno, mas se decomporia como uma planta.
Agora eu entendo
como foi que desenvolvi TOC naquele momento. Como a inevitabilidade da
morte é tão esmagadora, nos concentramos em coisas como religião ou
política para amortecer o conceito de morte.
Quando aprendi o ponto de vista científico, fiquei sem fé para me proteger da inevitabilidade da morte.
Aprender
sobre a evolução combinado com a perda de minha visão de mundo me
causou tanta ansiedade que inconscientemente tentei recuperar o controle
através de comportamentos obsessivos compulsivos.
Agora, a teoria
da evolução me faz sentir mais segura. Aprender sobre como os nossos
antepassados Homo sapiens evoluíram e sobre os caminhos que eles
fizeram, me ajudou a entender por que eu existo hoje, de onde eu venho e
para onde eu vou."
FONTE: http://www.bbc.com/portuguese/geral-41576570
quinta-feira, 12 de outubro de 2017
segunda-feira, 9 de outubro de 2017
Por que é mais difícil para as mulheres lutar contra alcoolismo e dependência às drogas
Leticia Mori
Da BBC Brasil em São Paulo
Gabriela* percebeu que precisava de
ajuda quando, depois de sair embriagada de uma festa no interior de São
Paulo, bateu o carro, quebrou duas costelas e tomou mais de 40 pontos no
rosto.
"Até então eu achava que estava no controle, que era só
eu querer que pararia de beber", diz a engenheira civil. "Precisei quase
morrer pra perceber que tinha que parar. Só que não consegui."Depois do acidente, ela começou a ir às reuniões de um grupo dos Alcoólicos Anônimos (AA). Entre os que participavam das reuniões havia apenas duas mulheres - ela e uma senhora de meia idade. Gabriela, que tinha 26 anos na época, conta que imediatamente se tornou um alvo de cantadas incômodas e avanços sexuais não solicitados.
"Porque compartilhei histórias envolvendo álcool e sexo, eles achavam que podiam me abordar sobre isso. Senti que estava sendo caçada, sabe? Tipo uma presa. Estou acostumada a ambientes masculinos, mas naquele momento eu precisava de sinceridade e apoio", afirma.
De tão desconfortável, Gabriela acabou abandonando as reuniões e parou o tratamento.
Ainda lidando com o vício, ela se envolveu com um homem mais velho, que também havia frequentado o AA. "Eu estava frágil e sozinha. No início ele me ajudou a ficar sóbria, mas logo se tornou um relacionamento abusivo e eu passei a beber mais ainda", conta.
Gabriela só conseguiu ficar sóbria por mais tempo ao se internar em uma clínica de alto padrão no interior do Estado - um luxo inacessível para a maior parte das alcóolatras como ela.
Esse ambiente hostil e tóxico para mulheres que buscam combater seus vícios também foi constatado pela pesquisadora Kátia Varela Gomes - que acompanhou grupos de apoio a dependentes químicos para um estudo que fez no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) sobre dependência química e gênero.
"Falta um tratamento adequado. Fiquei chocada ao ver que as frases que os homens falavam eram exatamente as mesmas que eu havia encontrado na literatura (científica): 'mulher quando usa droga fica facinha', 'se é feio para homem beber, imagina para a mulher', etc", afirma a psicóloga.
"As mulheres se calavam e depois de algumas semanas, desistiam do tratamento."
Tratamento adequado
Diversas pesquisas apontam que o consumo de álcool entre as mulheres brasileiras tem aumentado, segundo o observatório Cisa (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool).De acordo com a Organização Panamericana de Saúde, entre 2011 e 2016 a frequência de episódios de uso abusivo de álcool (BPE - Beber Pesado Episódico) aumentou entre as mulheres de 4,6% para 13%. O último Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, feito em 2014, também indica o aumento desse tipo de episódio no Brasil.
O problema é que, na prática, as mulheres acabam tendo menos sucesso nos tratamentos do que os homens.
"Embora o uso abusivo de álcool venha aumentando entre as mulheres, o tratamento na maioria das vezes ainda é muito feito de um ponto de vista masculino e voltado para os homens", diz o psiquiatra Cirilo Tissot, especialista em dependência química e diretor da Clínica Greenwood, em São Paulo.
"Você precisa levar em consideração questões específicas das mulheres, que muitas vezes são negligenciadas: a questão hormonal, que é diferente, necessidades de cuidados pessoais diferentes", explica.
"Nas clínicas, desodorantes e produtos de cuidado pessoal são proibidos, porque a pessoa pode cheirar, ingerir. Para os homens, vir o barbeiro e cortar o cabelo uma vez durante uma internação longa é suficiente. Mas muitas mulheres querem pintar o cabelo, passar uma maquiagem. As pessoas tratam isso como futilidade, frescura. Dizem absurdos como: 'para que se maquiar, quer seduzir alguém?'. Negligenciam o que pode ser um elemento importante para trabalhar autoestima."
Segundo Kátia Gomes, o próprio planejamento dos horários do tratamento pode prejudicar as mulheres. "Se o encontro do grupo de apoio for em um horário que impossibilite as mulheres que têm filhos de levá-los à escola, elas não vão se tratar. O homem quando tem filho deixa com a mãe. As mulheres com adicção, na maioria das vezes, não têm com quem deixar", diz.
"Você tem que lidar com preconceito. Os homens falam assim: eu quero sair porque faz muito tempo que eu não transo. Se não tem namorada, ele vai num prostíbulo, e isso é visto com a maior naturalidade. Você precisa ver a coisa catastrófica que foi quando a primeira mulher disse isso na clínica. Ela avisou ao pai que queria sair no fim de semana porque fazia tempo que não transava. Foi uma crise na família", conta Tissot, cuja clínica recebe pacientes para internamentos longos e curtos.
Segundo os especialistas, até profissionais de saúde muitas vezes reproduzem preconceitos e julgamentos. "É uma luta constante para conscientizar as colegas profissionais a terem outro olhar", diz Gomes.
Abandono
A solidão à qual as mulheres que têm algum tipo de vício são expostas é outro fator a enfraquecer o tratamento, segundo os especialistas."Os homens que estão se tratando muitas vezes têm apoio das mulheres, da mãe e do pai, e em alguns casos até dos filhos. As mulheres, em sua maioria, estão sozinhas enfrentando suas doenças", conta Katia.
Das cerca de 50 mulheres em tratamento no Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) de Guarulhos, na grande São Paulo, só duas têm companheiros que as ajudam. O problema é o mesmo na Clínica Greenwood.
"É uma percepção que tenho desde que fazia residência. Uma mulher lutando conta a dependência muito raramente vai ter o apoio do companheiro. Até a família julga mais e apoia menos quando a paciente é mulher", explica Tissot.
Camila, que ficou internada na clínica durante quatro meses, é um exemplo da situação. Enquanto tentava ficar sóbria, os amigos se afastaram e a relação nunca mais foi a mesma.
"Eu comecei a beber no cursinho pré-vestibular para me enturmar. Sempre fui a baladeira, que não queria ir embora e insistia pro pessoal beber mais. Mas os homens sempre me viam como 'um dos caras' por eu beber muito. Servia para ser amiga, mas não para ter um relacionamento", diz ela.
"Depois, meus amigos sempre procuravam por essa antiga Camila e quando não a encontravam, rolava esse estranhamento", conta a administradora de empresas.
Ela conta que os pais, embora a tenham apoiado, nunca a entenderam direito.
"Eu contava das dificuldades, e eles falavam que não, não era tão grave, que a gente conseguiria resolver em família. Era uma negação mesmo de que a filhinha deles pudesse ter um vício. Tive que contar sobre as outras drogas que estava usando para eles entenderem que era sério", afirma.
Camila enfrentou a dependência química por mais de dez anos e acabou, durante esse tempo, substituindo um vício pelo outro. Teve períodos de compulsão alimentar, de consumo compulsivo e de compulsão por sexo.
Já Gabriela não teve o apoio da família para se internar. "Quando eu estava no fundo do poço meu namorado saiu de casa e minha mãe disse que eu tinha me afundado porque quis. Não me deu um centavo para o tratamento. Tive que me demitir do emprego para ficar três meses na comunidade terapêutica e ainda não terminei de pagar a dívida enorme que fiz para pagar o tratamento."
Julgamento
"O estigma colocado sobre pessoas com dependência química sempre existiu, mas a gente percebe, tratando ambos os sexos, que no caso das mulheres isso é muito mais proeminente. O julgamento é muito maior", afirma Cirilo Tissot."O vício não é visto como uma doença, mas como uma falha moral, uma questão de força de vontade. Ainda mais quando se trata de um problema como compulsão sexual", explica Tissot. "Em vez de ser vista como uma pessoa que precisa de tratamento e apoio, a mulher é vista como pervertida."
Camila fala tranquilamente sobre o problema com álcool e em drogas, mas hesita quando o assunto é compulsão sexual.
Ela conta que seu atual namorado entendeu e apoiou quando ela revelou seu problema com drogas e álcool, mas não aceitou muito bem ao descobrir o vício em sexo. "Até então ele entendia que eu estava doente, queria cuidar de mim, me ajudar. Mas no aspecto do sexo ele não enxergou do mesmo jeito", conta.
Tissot diz que as descobertas científicas de que vícios estão relacionados a desequilíbrios químicos do corpo foram mudando a visão sobre o tema ao longo do tempo, mas que o julgamento moral sobre as mulheres permanece até hoje.
"A repressão que existe sobre a mulher é tal que quando a pessoa fica desviante dessas expectativas, o quadro é considerado mais grave", diz ele.
Kátia Gomes diz que a dependência química feminina "configura-se como porta-voz do que é intolerável na feminilidade".
"Uma mulher que está grávida e tem uma adicção é vista como um monstro. Mas se é uma patologia ela não tem controle. Esse tipo de condenação é um tiro pela culatra, porque só aumenta o nível de ansiedade dessa mulher, que muitas vezes foi o que a levou a desenvolver o vício em primeiro lugar", explica Gomes.
Tissot afirma que mulheres que têm filhos se sentem muito mais culpadas que os homens de se afastar por alguns meses para se tratar. "A gente explica que ela precisa estar bem. Não adianta estar aqui fora e não ter condições de cuidar dos filhos."
Centenas pesquisas feitas nos EUA apontam as diferenças entre os gêneros na questão da dependência química.
Segundo uma revisão da literatura científica publicada por pesquisadoras como Shelly F. Greenfield, da Escola de Medicina de Harvard, e Susan M. Gordon, da Universidade do Arizona, estudos feiros entre 1990 e 2005 já indicavam que as mulheres com a patologia têm menor chance de obter tratamento adequado.
Já no Brasil, a pesquisa de Katia Varela Gomes, publicada em 2010, foi apenas a quinta a estudar as especificidades da dependência e do tratamento em mulheres.
"A própria falta de pesquisas na área por aqui mostra essa desigualdade", afirma a psicóloga, ressaltando que, em condições não preconceituosas e equânimes, as mulheres teriam tanta chance de recuperação quanto os homens em um tratamento.
Hoje ela trabalha no CAPs (Centro de Atendimento Psicossocial) de Guarulhos com grupos de apoio exclusivos que atendem as demandas específicas das mulheres. Ela afirma que a chance de uma mulher se recuperar não é diferente da de um homem se ela receber apoio e tratamento apropriado. "Eu vejo muitas histórias de sucesso, de mulheres que estão recuperadas e levando uma vida bem mais funcional e feliz."
* Sobrenomes ocultados a pedido das entrevistadas.
FONTE: http://www.bbc.com/portuguese/geral-41436903
domingo, 1 de outubro de 2017
Na Europa, só uma nação proíbe: como diferentes países veem a terapia de reversão sexual
Gabriela Loureiro
De Londres para a BBC Brasil
A aprovação de uma liminar
autorizando psicólogos brasileiros a oferecerem a seus pacientes formas
de terapia de reversão sexual provocou fortes reações de diferentes
segmentos da sociedade durante esta semana no Brasil.
Artistas
como Anitta, Daniela Mercury e Ivete Sangalo participaram de uma
campanha nas redes sociais contrária à decisão com as hashtags
#TrateSeuPreconceito e #HomofobiaNãoÉDoença.Apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter retirado a homossexualidade da lista internacional de doenças há quase 30 anos, há uma enorme diversidade na forma como diferentes países lidam com a questão. Na Europa, por exemplo, só há um país que proíbe tratamentos que oferecem a "cura gay".
Brasil
O Conselho Federal de Psicologia do Brasil proíbe terapias de reversão sexual desde 1999 e profissionais que desobedecerem a regra podem ter seu registro cassado.Esta semana, porém, a decisão do juiz federal da 14ª Vara do Distrito Federal Waldemar Cláudio de Carvalho abriu uma interpretação diferente para a norma do Conselho Federal de Psicologia (CFP).
A justificativa, segundo o juiz, seria a de não impedir os profissionais "de promoverem estudos ou atendimento profissional, de forma reservada, pertinente à (re)orientação sexual, garantindo-lhes, assim, a plena liberdade científica acerca da matéria, sem qualquer censura ou necessidade de licença prévia".
A liminar atende parcialmente uma ação movida contra o CFP por Rozangela Alves Justino, psicóloga que teve seu registro profissional cassado em 2009 por oferecer "terapias para curar a homossexualidade masculina e feminina". Justino pedia a suspensão das regras do órgão.
Estados Unidos
Cada Estado americano tem suas regras sobre tratamentos de reversão sexual. Muitos deles proíbem a prática em menores de idade.A Associação Psiquiátrica Americana se opõe a qualquer "tratamento psiquiátrico, como a terapia de conversão baseada no pressuposto de que a homossexualidade seja um transtorno mental ou de que um paciente deveria mudar sua orientação sexual".
Reino Unido
Apesar de várias instituições terem assinado um acordo descrevendo o tratamento como "potencialmente prejudicial e antiético", inclusive o NHS (SUS britânico), a terapia de reversão sexual é legal no Reino Unido.Em 2015, o parlamentar conservador Mike Freer advogou pela criação de uma lei para regular "terapias de cura gay" no país. Segundo ele, o governo deveria fazer mais para garantir que essas terapias não sejam realizadas no país. "Continua sendo possível no Reino Unido ir a um profissional do NHS para ser indicado a um psicoterapeuta que faça a chamada 'cura gay'", disse ele durante um debate no Parlamento em Londres.
Um estudo realizado em 2015 pelo instituto de pesquisa YouGov a pedido da ONG LGBT Stonewall apontou que 10% das equipes britânicas que trabalham com saúde e bem-estar social testemunharam colegas dizendo que gays, lésbicas e bissexuais podem ser "curados", um número que chega a 22% considerando apenas Londres.
Em 2009, uma outra pesquisa apontou que 200 profissionais de saúde mental ofereceram algum tipo de terapia de conversão a pacientes, sendo que 40% deles foram tratados dentro do próprio NHS.
Louise* disse ao programa Newsbeat da BBC que foi coagida a um tratamento de cura gay em 2007 na igreja evangélica que frequenta, na região de West Yorkshire.
"Eu fui chantageada para concordar a ir a um acompanhamento psicológico ligado à igreja. Eu fui obrigada a aceitar que todo o conteúdo dessas sessões seria compartilhado com os anciões [da igreja] para que eles pudessem medir meu progresso", contou.
"Eu fui submetida a uma prática de exorcismo. Não exatamente como no filme de terror O Exorcista. Mas tinha pessoas da igreja rezando, erguendo as mãos e falando línguas durante horas. Eu lembro de dormir no meio, de tão longo que era."
Malta
Em dezembro de 2016, Malta se tornou o primeiro país europeu a proibir a terapia de reversão sexual. A nova lei determina que quem tentar "mudar, reprimir ou eliminar a orientação sexual, identidade de gênero ou expressão de gênero de alguém" será multado ou até mesmo preso. A multa pode chegar a 10 mil euros (R$ 37 mil) e a sentença de prisão a até um ano.Rússia
Similarmente ao Brasil e outros países, a Rússia tirou a homossexualidade de sua lista de doenças psiquiátricas em 1999, nove anos após a OMS fazer o mesmo. Até hoje, a homossexualidade não é considerada uma desordem mental na Rússia, mas a homofobia é comum no país, que acabou de aprovar uma lei que proíbe a "propaganda gay". Falar sobre homossexualidade com crianças é crime no país desde 2013.Apesar de homossexualidade não ser oficialmente considerada uma doença, profissionais de saúde oferecem a chamada "cura gay" na Rússia. O psicoterapeuta Yan Goland, por exemplo, disse ter "curado" 78 homossexuais e 8 pessoas trans usando um método desenvolvido na União Soviética por seu mentor, Nikolai Ivanov.
Ele disse à BBC que o tratamento dura entre 8 e 18 meses para homossexuais e pode ser mais longo para trans. No primeiro estágio, ele "destrói" a atração da pessoa por indivíduos do mesmo sexo através de hipnose, cuja sessão pode durar até 8 horas.
No segundo estágio, ele força atração a pessoas de sexo oposto. "Eu digo a eles: 'quando você sair da sessão, caminhe pela rua e olhe todas as mulheres jovens que passarem por você, mostre interesse em seus corpos e selecione as melhores'". O terceiro passo é o ato sexual com pessoas do sexo oposto.
Aos 80 anos de idade, Goland diz continuar tratando pessoas.
E, assim como caso de Louise na Grã-Bretanha, a BBC também colheu relatos na Rússia de pessoas submetidas a "tratamentos" em igreja.
Maria*, de 27 anos, disse ter sido levada contra sua vontade à igreja por sua família para "tratar" sua homossexualidade aos 13 anos de idade. "Eles me cobriram de água santa e me forçaram a bebê-la. Às vezes me batiam com cajados. Sinto como se tivessem quebrado minha mente", disse ela à BBC.
Uganda
Em 2014, o governo da Uganda tentou aprovar uma lei chamada "Ato Anti-Homossexualidade", que punia a homossexualidade com a pena de morte. Mais tarde, a lei foi definida como inconstitucional pela Justiça do país. Mas a lei ajudou a fomentar a perseguição a homossexuais.A ONG SMUG, de Uganda, publicou um estudo apontando que a perseguição com base em orientação sexual aumentou nos últimos anos após a criação da lei e jornais publicaram uma lista dos "top 200 homossexuais" do país. Este ano, ativistas LGBT tentaram organizar uma parada gay e foram impedidos pela polícia.
O país é destaque no documentário The World's Worst Place To Be Gay? ("O Pior País Para Ser Gay?") da BBC. No programa, o dj Scott Mills se submete a uma cerimônia pagã de cura gay na qual ele foi surrado com uma galinha viva e banhado de água aquecida por uma tocha de fogo.
Malásia
O governo da Malásia fez uma campanha a favor da terapia de conversão sexual depois que autoridades federais disseram que a orientação sexual de alguém pode ser transformada através de um "treinamento intensivo".O país também ofereceu um prêmio de de até US$ 1 mil para o melhor vídeo de "prevenção à homossexualidade" em uma competição juvenil de vídeos de educação sexual. A categoria de "prevenção à homossexualidade" foi substituída por "desordem de identidade de gênero" depois de protestos de ativistas LGBT.
Os direitos LGBT não são reconhecidos na Malásia, onde a "sodomia" continua sendo vista como crime segundo as leis coloniais do Império Britânico.
China
A China deixou de considerar a homossexualidade uma doença mental em 2001, mas grupos de defesa LGBT afirmam que milhões de homossexuais casam com pessoas do sexo oposto devido à pressão das famílias.Este ano, porém, um homem gay ganhou uma compensação de um hospital psiquiátrico por ter sido submetido à força a uma terapia de conversão sexual.
O homem, identificado como Yu, foi levado à força por sua mulher e familiares a um hospital no centro da China, na cidade de Zhumadian, em 2015. Lá, ele foi obrigado a tomar medicamentos e injeções por 19 dias.
A Justiça chinesa entendeu que forçá-lo a uma instituição mental sem ele oferecer perigo à sociedade infringia seus direitos.
O hospital que o diagnosticou com "desordem de preferência sexual" teve que se desculpar em público através de uma nota no jornal e pagar uma multa de US$ 735.
Irã
O Irã é um entre os cerca de 10 países nos quais a homossexualidade pode ser punida com a pena de morte. Líderes religiosos, no entanto, aceitam a ideia de que uma pessoa pode estar "presa" em um corpo do sexo oposto. Portanto, homossexuais podem ser forçados e passar por uma cirurgia de redesignação sexual - e muitos fogem do país por isso.Ao crescer, Donya* tinha o cabelo curto e usava boné em vez de véu. Ela disse à BBC que, se policiais pedissem sua identidade e percebessem que ela era uma menina, poderiam repreendê-la. "Por que você é assim? Vá mudar seu gênero", lembra.
"Era tamanha pressão que eu queria mudar meu gênero o mais rápido possível". Ela passou 7 anos em tratamento hormonal, começou a ter pelos faciais e sua voz ficou mais grave.
Quando os médicos sugeriram a cirurgia de transgenitalização, ela decidiu fugir para a Turquia e depois para o Canadá, onde conseguiu asilo.
FONTE: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41354769
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