Por Grace Stelmach
Neste Dia Mundial da Síndrome de Down me dei uma missão. Contar aqui
no blog a história da minha amiga Joyce, que teve filhos gêmeos e só
descobriu que um deles era portador da síndrome depois do nascimento dos
meninos. O ultrassom morfológico fetal que avalia a translucência nucal
– excesso de líquido na região da nuca que pode indicar a síndrome –
não apontou qualquer problema no bebê. Tampouco outros exames mostraram
problemas cardíacos no feto.
Há quase 7 anos, ela entrava na sala de parto às pressas após 36
semanas de gestação. Depois de enfrentar um parto estressante, Jó (vou
chamá-la pelo apelido aqui, ok?) e o marido, Daniel, receberam de
maneira desajeitada do médico duas notícias que foram como se tivessem
tirado o chão debaixo dos seus pés: os dois filhos precisariam ficar na
UTI neo-natal por alguns dias. Gustavo porque havia a suspeita de ser
portador de síndrome de Down e o Pedro por ter nascido em sofrimento
fetal, com dificuldades cardio-respiratórias. Momento de susto e dor
para a minha amiga, que até então nem tinha pegado seus bebês no colo,
acariciado e sentido o cheiro deles. Sim, médicos sofrem de despreparo e
falta de tato...
E no meio desse turbilhão de emoções o casal fez um pacto de união,
um precisava do outro mais que tudo naquele momento. E decidiram só
contar aos amigos quando estivessem mais preparados, informados e
maduros em relação a essa nova realidade, que eles não esperavam, mas
que teriam que encarar não de frente, mas de dentro.
O início de vida a quatro foi bastante tumultuado e cercado de
cuidados com os dois meninos, que passaram nove dias internados na UTI.
‘Voltar para casa sem eles é uma ferida que não sei se vai cicatrizar’,
me confessou Joyce há alguns dias quando falávamos sobre este post.
E a vida seguiu... Pedro não ficou com nenhuma sequela após o nascimento e Gustavo recebeu estimulação precoce
logo nos primeiros meses de vida. Taí um conselho importante para quem
tem filho com síndrome de Down. Quanto mais cedo ele for estimulado,
mais possibilidades tem de vencer as limitações que a doença genética
lhe impõe. Fonoaudióloga, terapias, fisioterapias, esportes, aulas de
pintura e instrumentos musicais, tudo que estiver ao alcance deve ser
colocado à disposição de uma criança que nasce com Down. No fim do post
elenco instituições que podem ajudar.
Gustavo pratica equoterapia e judô (Fotos: Arquivo pessoal)
Anos depois, Pepe e Guga estão ótimos! Mas não foram anos fáceis não.
Muita busca, aprendizado, paciência, mas muitas alegrias. Joyce e
Daniel passaram por situações que qualquer casal que decide ter filhos
vive. Não são exclusivas para pais de crianças especiais e não são
excludentes para pais de crianças ‘normais’, até porque, de perto
ninguém é normal.
Tabu
Gustavo leva uma vida muito parecida com a do irmão Pedro. Frequentam a mesma escola, comum e inclusiva,
estão na mesma série, mas em turmas diferentes. Para Joyce, é
fundamental que os filhos estudem na mesma escola, mesmo que de uns
tempos para cá o Gustavo venha tendo um pouco mais de dificuldade no
aprendizado do que o Pedro. ‘Precisa explicar com calma e ele aprende
igual aos outros’, disse uma amiga do Guga para o professor
recentemente.
A escola inclusiva respeita a individualidade e o tempo de cada aluno
e dá oportunidade às crianças de experimentarem desde cedo a
diversidade. Mas para receber crianças especiais, essas escolas devem
estar preparadas também para enfrentar o preconceito: ‘Alguns pais podem
ficar com receio de que a presença de um aluno com Down em sala de aula
possa desviar a atenção da professora e dificultar o aprendizado das
outras crianças. Na verdade, em escolas onde a inclusão é uma realidade
verdadeira, a presença de uma criança com dificuldade representa mais um
desafio para toda a classe e é visto de maneira positiva e construtiva.
Em pouco tempo estes pais compreendem o lado positivo desta situação,
quando seus filhos demonstram uma maturidade inesperada ao lidar com o
problema.’
Os garotos dividem os amigos e levam uma vida social agitada. Também
brigam de vez em quando, claro! Mas é desta forma que qualquer
molequinho vive e se sente incluído, parte da familia.
Faz alguns anos o casal recebe e apoia famílias que também têm filhos
especiais e depois de terem convivido com tanta gente que enfrentou o
susto do nascimento, a famigerada hora da notícia e as buscas do dia a
dia, Jó dá aqui uma aula de positividade, que considero uma grande
mensagem: ‘Aprendi que tudo na vida depende da maneira como você vê o
copo com água pela metade: meio cheio ou meio vazio. E isso não vale
apenas para exemplos como o meu. Esta visão positiva ou negativa dos
fatos do cotidiano vale para tudo!’
Joyce com os filhos Gustavo e Pedro (Fotos: Shirly Glikas/Arquivo pessoal)
Nesse Dia Mundial da Síndrome de Down, quis contar aqui um pouco da
história do Gustavo, mas é impossível contá-la sem falar do seu irmão e
companheiro para sempre, Pedro, esse dois danadinhos, quer dizer, ‘um
danadinho e outro Downadinho’, como costuma brincar minha amiga com seus
gêmeos.
Jó, minha missão aqui foi bem pequenina se comparada com a sua minha
amiga! Que sorte do Guga ter nascido na sua família, que o recebeu com
tanto amor. Quem dera todas as crianças especiais tivessem esse
privilégio...
Ser mãe não é tarefa fácil para nenhuma mulher, mas é fundamental
exercê-la dando o nosso melhor todos os dias. Minha homenagem a Joyce
Lukower Garbuglio e seu filho Gustavo, minhas inspirações para este
post. Querida, muito obrigada pela sinceridade e por compartilhar com
todos nós sua história, que é exemplo de maturidade e amor.
Onde procurar informação e ajuda:
APAE
Movimento Down
Instituto Olga Kos
Chefs Especiais Down Cooking
Associação Carpe Diem
APAE
Movimento Down
Instituto Olga Kos
Chefs Especiais Down Cooking
Associação Carpe Diem
FONTE: http://br.mulher.yahoo.com/blogs/mamae-eu-quero/somos-todos-especiais-e-imperfeitos-174139700.html
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