A mandioca é uma fonte vital de calorias em várias regiões do mundo,
em particular na África e na América Latina.
À rigor, há dois
tipos de mandioca, a mandioca mansa, também chamada de mandioca de mesa
(conhecida também no Brasil pelos nomes de macaxeira e aipim), e a
mandioca brava, conhecida como mandioca de indústria. As duas são
extremamente parecidas, mas a mandioca brava é altamente tóxica - e
requer um procedimento industrial ou um ritual de preparação tedioso e
complexo para torná-la um alimento seguro. Ela libera cianeto de
hidrogênio.
Nos centros urbanos, a mandioca comercializada como
alimento é sempre a mansa. Mas em zonas rurais, a mandioca mais comum pode ser a brava, e, por isso, se não
for preparada adequadamente, pode causar sérios problemas de saúde.
Um deles é uma condição chamada konzo, com sintomas que incluem paralisia súbita das pernas.
Em
1981, em Nampula, Moçambique, um jovem médico sueco chamado Hans
Rosling não sabia disso. Como resultado, passou por uma situação
profundamente intrigante.
Mais e mais pessoas batiam à porta de
sua clínica com paralisia nas pernas. Poderia ser um surto de
poliomielite? Não. Os sintomas não estavam descritos em nenhum livro.
Com o início da guerra civil em Moçambique, poderiam ser armas químicas?
Foi uma colega de Rosling, a epidemiologista Julie Cliff, que acabou descobrindo o que estava acontecendo.
As
refeições de mandioca que eles ingeriam haviam sido processadas de
forma incompleta. Já com fome e desnutridos, não podiam esperar tempo
suficiente para tornar a mandioca segura. E, como resultado,
desenvolveram o konzo.
Plantas tóxicas estão por toda parte. Às
vezes, processos simples de cozimento são suficientes para torná-las
comestíveis. Mas como alguém aprende a elaborada preparação necessária
para a mandioca?
Para Joseph Henrich, professor de
biologia evolucionária humana na Universidade de Harvard, nos Estados
Unidos, esse conhecimento é cultural, e nossas culturas evoluem por meio
de um processo de tentativa e erro análogo à evolução em espécies
biológicas.
Funciona assim, segundo Henrich: em algum momento,
alguém descobre como tornar a mandioca menos tóxica. Com o passar do
tempo, outras descobertas são feitas. Esses rituais complexos podem,
assim, evoluir, cada um ligeiramente de forma mais eficaz que o
anterior.
Na América do Sul, onde humanos comem mandioca há
milhares de anos, as tribos aprenderam os muitos passos necessários para
desintoxicá-la completamente: raspar, ralar, lavar, ferver o líquido,
deixar a massa repousar por dois dias e depois assar.
Na África, a mandioca foi
introduzida apenas no século 17. Não veio com um manual de instruções. O
envenenamento por cianeto ainda é um problema ocasional; as pessoas
recorrem a técnicas porque o aprendizado cultural ainda está incompleto.
FONTE: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-49640684
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