A funcionária pública Jessica May
estava rota de ascensão na sua carreira em Canberra, na Austrália, até
ser "derrubada" por um problema mental.
Depois do nascimento do
primeiro filho, May desenvolveu um problema na tireoide que agravou o
transtorno de ansiedade contra o qual já lutava.
"Tive crises de
ansiedade minha vida toda", afirma a australiana de 36 anos. "O
problema na tireoide fez minha ansiedade ficar fora de controle",
explica.
Isso ocorreu em 2012 e May decidiu voltar ao trabalho
antes da data prevista. Ela e o médico concordaram que voltar a fazer
algo que gostava poderia ajudá-la a manter o foco e a enfrentar as
crises de ansiedade.
May, que revelou seus problemas aos chefes para ter uma rotina
mais flexível, afirma que seus gerentes e colegas começaram a questionar
sua competência e passaram a excluí-la dos projetos.
May, que já tinha comandado uma equipe de 17 pessoas, sentiu-se desmotivada e desvalorizada.
A
péssima experiência, contudo, culminou em algo positivo. Fez com May
decidisse ajudar outras pessoas com deficiências mentais ou físicas. Ela
teve a ideia de montar um negócio para aplicá-la.
"Sabia que era
preciso fazer alguma coisa para pessoas com deficiência e que precisam
apenas de uma pequena flexibilidade dos seus empregadores", conta.
Vida nova
Ela
decidiu, então, parar de trabalhar para o governo australiano e lançar a
Enabled Employment, uma consultoria de recrutamento que ajuda pessoas
com deficiência a encontrar trabalho pago.
Atualmente, a empresa
baseada em Canberra, na Austrália, ajuda a inserir milhares de pessoas
em mais de 400 empresas.
O
negócio se assemelha a uma empresa convencional de recrutamento, que
mantém uma lista online de vagas abertas e atua como intermediário entre
os que procuram trabalho e os que estão contratando.
No entanto,
também oferece o que May chama de "agenciamento de acessibilidade". O
serviço tenta fazer com que as empresas ofereçam condições necessárias
para que os funcionários possam ter um melhor desempenho no trabalho
como, por exemplo, horário mais flexível e banheiros adaptados.
May
salienta que sua empresa não tem nada a ver com caridade. É um negócio
com fins lucrativos. Ela acredita que instituições de caridade que pagam
empresas para empregar funcionários com deficiência podem reforçar
estereótipos.
"Isso de fato desvaloriza pessoas com deficiências
que são totalmente capazes. Não queremos que ninguém se sinta como um
caso de caridade", explica a australiana.
Suzanne Colbert, fundadora da rede australiana de
deficientes, a Enabled tem "revigorado" o mercado de trabalho na
Austrália, que resiste em contratar pessoas com deficiência.
Colbert emenda que o negócio permitiu empregadores a "selecionar novas fontes de talento".
No
que diz respeito à própria equipe, a empresa de May pratica o que
prega. Quatro dos sete empregados que trabalham em período integral têm
algum tipo de deficiência e contam com uma carga horária especial.
De olho no futuro, May afirma que o plano é expandir o negócio
na Austrália antes de mover para o exterior. Por ora, ela diz estar
"mais feliz do que nunca".
"Eu ainda enfrento a ansiedade. Ela não irá embora nunca, mas eu posso gerenciá-la com a flexibilidade que a Enabled me dá."
FONTE: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-39350345