Definição de Ato Falho
Em português utilizamos o termo ato
falho para designar erros na linguagem (escrita, fala, leitura), erros
de memória (esquecimentos) e erros no comportamento (tropeçar, cair,
quebrar, etc) que são formações de compromisso entre o inconsciente e o
consciente. Em inglês, estes erros ficaram conhecidos como Freudian Slips.
Em alemão, a língua de certa forma traz uma unidade entre esses erros através do prefixo ver-
Erros na fala (versprechen), erros na escrita (verschreiben), erros de leitura (verlesen), erros de memória ou esquecimentos (vergessen), erros no comportamento ou ações desastradas (vergreifen).
Tais erros não são apenas erros, falhas
sem significado. Se investigarmos o porquê de acontecerem, veremos que –
por um outro ponto de vista – o erro é um acerto. A famosa frase do
pequeno Shakespeare (Chespirito), criador do personagem Chaves, expressa
muito bem:
“Foi sem querer, querendo”.
Um ato falho foi sem querer (conscientemente falando) mas também foi querendo (inconscientemente).
3 Tipos de Atos Falhos
No livro A Psicopatologia da Vida Cotidiana, estudamos 3 tipos de atos falhos, portanto:
1) Atos falhos na linguagem (fala, escrita, leitura);
2) Atos falhos de esquecimento (falha na memória);
3) Atos falhos no comportamento (cair, quebrar, derrubar, tropeçar, etc), enfim, perturbações do controle motor.
Para ficar claro, vamos exemplificar os 3 tipos abaixo.
Atos falhos na linguagem
São os atos falhos mais conhecidos.
Lembro que quando estava na faculdade de psicologia, um de meus
professor contou que estava indo de ônibus até a faculdade, e ouviu de
uma passageira que estava sentada atrás dele:
“Isso foi um ato fálico”…
Nesta frase, vemos que a pessoa trocou a
palavra falho por fálico (pênis). Um erro na fala que se, formos
investigar, encontraremos um significado inconsciente para ela.
Em uma apresentação na faculdade, no primeiro período, uma aluna estava falando sobre Freud (lê-se Fróide).
Ela disse: “Foi assim que o Fraude”…
Também teríamos que investigar porque a aluna considera o Freud uma fraude, mas é obviamente um exemplo de um ato falho.
Atos falhos de esquecimento
No Psicopatologia da Vida Cotidiana, Freud
dá diversos exemplos dos três tipos de atos falhos. Logo no início, ele
menciona e analisa um ato falho de esquecimento que aconteceu com ele
mesmo. Visitando a catedral de Orvieto, ele se esquece do nome de o
pintor dos afrescos. Ele procura buscar em sua memória, os nomes que
aparecem são Botticelli e Boltraffio, mas ele reconhece que ambos não
são o nome correto.
Uma outra pessoa lhe informa o nome: Signorelli e
ele imediatamente reconhece-o como o nome correto. Analisando o porquê
do esquecimento, ele vê que na conversa anterior falavam dos costumes na
Bósnia e Herzegovina. O tema relacionado era da morte e da sexualidade.
As palavras Herzegovina e Herr (senhor, Signor em italiano, Signorelli ), que estavam na conversa anterior interferiram na cadeia associativa e afetaram a sua memória.
Um exemplo mais simples consiste quando
esquecemos de ligar para alguém. O esquecimento é um erro, mas se formos
investigar a fundo a causa do esquecimento, veremos que seria como se
“uma parte” de nós não quisesse realmente ligar.
Por isso, o ato falho é um erro, mas também um acerto (do ponto de vista do desejo inconsciente).
Atos falhos no comportamento
O último tipo de ato falho (vergreifen)
é traduzido para o português como equívocos na ação. Como mencionamos
acima, são perturbações do controle motor que, se analisados, nos
conduzem também a uma formação de compromisso entre o inconsciente e o
consciente.
No capítulo VIII da Psicopatologia, Freud nos dá o seguinte exemplo:
“Em anos anteriores, quando eu visitava o
paciente a domicílio com maior frequência que hoje, ocorria-me muitas
vezes, ante a porta em que eu deveria bater ou tocar a campainha, tirar
do bolso as chaves da minha própria casa e, logo em seguida, tornar a
guardá-las, quase envergonhado. Quando considero os pacientes em cujas
casas isso acontecia, sou forçado a supor que esse ato falho – apanhar
minha chave em vez de tocar a campainha – tinha o sentido de uma
homenagem à casa onde eu cometia esse erro. Era equivalente ao
pensamento: ‘Aqui me sinto em casa’, pois só ocorria em lugares onde eu
me havia afeiçoado ao doente” (É óbvio que não toco a campainha da minha
própria casa).
O exemplo do Chaves do “sem querer,
querendo” quando ele bate no Senhor Barriga também pode ser considerado
um equívoco na ação que possui um significado. Por um lado, ele
realmente não deseja ser tão desastrado, por outro, talvez queira bater
de verdade no dono da vila.
Conclusão
É importante notar que, apesar das
diferenças entre os três tipos de atos falhos, ele possuem uma unidade
na linguagem, pois não só os atos falhos linguísticos (fala, escrita,
leitura) são erros deste tipo. Quando nos esquecemos de um nome ao ter
que apresentar uma pessoa ou não lembramos de enviar um email, estamos
vivenciando um conflito entre um traço mnêmico (um representante da
pulsão ou um significante) e, igualmente, os atos falhos comportamentais
são ocasionados por uma formação de compromisso entre dois
significantes, um do lado do desejo e o outro do lado da repressão.
FONTE: http://www.psicologiamsn.com/2015/01/os-3-tipos-de-atos-falhos-na-psicanalise-de-freud.html