O crack é uma droga derivada da cocaína, mas com um poder cinco vezes
maior. A cocaína é extraída de uma planta (Erythroxylon coca) usando
solventes como o éter, a amônia, o ácido sulfúrico, o querosene e a cal
virgem, que por si só já são bastante nocivos à saúde humana. Para
produzir crack, é usada a pasta da cocaína sem passar pelo processo de
refinamento, o que o torna mais barato, sendo acessível a todas as
classes sociais.
Apesar de ter um efeito maior, a sensação de bem-estar causada pelo
crack passa rapidamente, dando lugar a um verdadeiro pesadelo. O usuário
do crack passa a querer usar a droga o tempo todo para fugir do
mau-estar provocado pela sua falta, e faz qualquer coisa pra adquiri-la.
O crack destrói centenas de famílias todo dia. O dependente do crack
abandona o trabalho, os estudos e todos aqueles que ama. Muitos entram
para a criminalidade e para a prostituição.
SINTOMAS DO USO DO CRACK
• O usuário de crack perde a identidade e a autoestima, deixa de ter
os mínimos cuidados com a higiene pessoal e alguns chegam a perder mais
de dez quilos em uma semana.
• Tosse e nariz entupido com frequência, com expectoração de muco escuro, cansaço intenso, tremores, depressão e apatia.
• Em alguns casos, o usuário sofre alucinações, delírios e sintomas paranoicos (sensação de estar sendo vigiado ou perseguido).
• Além de ficar violento, o usuário, muitas vezes, torna-se inadequado, sem noção de comportamento em sociedade ou convivência.
• São freqüentes queimaduras no queixo, no rosto e nas mãos pela manipulação descontrolada de isqueiros e fósforos.
EFEITOS NO CÉREBRO E NA PERSONALIDADE
• O crack provoca lesões no cérebro, causando a morte de neurônios.
Isso resulta em deficiências de memória e de concentração, oscilações de
humor, baixo limite para frustração e dificuldade de ter
relacionamentos afetivos.
• O uso do crack provoca perda da capacidade de raciocínio e
dificuldade para tomar decisões, que passam a ser feitas sob o impulso
da droga.
• O crack provoca quadros psiquiátricos graves, como psicoses, paranoia, alucinações e delírios.
• Com frequência, ocorrem acidentes vasculares cerebrais ou derrames que, muitas vezes, levam à morte.
DANOS PROVOCADOS PELO CRACK
• O crack acelera os batimentos cardíacos, aumenta a pressão arterial
e provoca arritmias, enfartes, hemorragias cerebrais e morte.
• Degenera os músculos e os ossos, e dá aparência esquelética ao
usuário: ossos da face salientes, braços e pernas finos, costelas
aparentes e dentes podres.
• Causa lesão nos pulmões que resultam em pneumonia, tuberculose, infecções nos brônquios e paradas respiratórias.
• Afeta o estômago e os intestinos, causa náusea, dor abdominal e perda de apetite.
• Ataca os rins e o fígado.
QUAIS SÃO OS EFEITOS DO CRACK?
No uso agudo, do ponto de vista emocional, observa-se forte
inquietação e agitação mental, grande alteração do estado de humor (ou
ânimo). Há uma inibição do apetite, agitação física, aumento da
temperatura e das frequência respiratória e cardíaca, suor excessivo,
tremores, contrações musculares involuntárias (principalmente da
mandíbula), tiques e dilatação da pupila. O uso crônico causa diversas
complicações clínicas, como emagrecimento e favorecimento de infecções –
inclusive dentárias, além de quadros de psicose, agressividade,
paranóia e alucinações. .
O QUE FAZER SE SOUBER QUE ALGUÉM ESTÁ COMEÇANDO A USAR CRACK?
Encaminhá-lo imediatamente ao tratamento disponível na sua região. O
crack avança rapidamente rapidamente em direção à dependência. Portanto,
quanto mais precocemente o usuário for auxiliado, maior será sua chance
de recuperação.
O QUE A FAMÍLIA DEVE FAZER EM RELAÇÃO AO USUÁRIO?
A família é um suporte indispensável no tratamento da dependência
química do crack. Para que um familiar possa ajudar um dependente
químico, é fundamental compreender que a dependência é uma doença e
reconhecer a necessidade de buscar ajuda profissional. Manter a família
unida e em condições de prestar apoio afetivo e social ao dependente
também é indispensável para o sucesso do tratamento.
COMO O CRACK AFETA O DESENVOLVIMENTO CEREBRAL?
Crianças e adolescentes que fazem uso contínuo de crack podem ter o
desenvolvimento cerebral comprometido, com impacto direto na capacidade
cognitiva, ou seja, na maneira como o cérebro percebe, aprende, pensa e
recorda as informações captadas pelos cinco sentidos. Assim, é comum que
usuários da droga apresentem dificuldades de aprendizado, raciocínio,
memória, concentração e solução de problemas, o que afeta o progresso
educacional, o comportamento e a frequência escolar.
RECUPERAÇÃO
Professor colaborador do Departamento de Neurologia, Psicologia e
Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp), o psiquiatra
José Manoel Bertolote ocupou, durante 20 anos, o cargo de coordenador da
equipe de transtornos mentais e neurológicos da Organização Mundial de
Saúde (OMS) em Genebra. Consultor da Secretaria Nacional de Políticas
sobre Drogas (SENAD), pesquisador e especialista na prevenção e
tratamento de usuários de drogas psicotrópicas, nesta entrevista ele
fala sobre as reais chances de recuperação de dependentes de crack,
avalia a importância da reinserção social e mostra porque é preciso mais
que a desintoxicação para reduzir o índice de recaídas. “A
desintoxicação, apenas, tem seu papel, no sentido de reduzir os danos a
que o usuário está sujeito, mas é uma contribuição modesta”, avalia.
É possível abandonar a dependência de crack por conta própria, sem ajuda especializada?
Teoricamente, sim. Porém, isso depende de vários fatores, entre os
quais o grau de dependência e o nível de apoio social e familiar que o
dependente possui. O sucesso de qualquer tipo de tratamento para uma
dependência química passa, em grande parte, pela vontade do usuário de
se manter afastado da droga (abstinência). Sem isso, nenhuma proposta
terapêutica funcionará. Entretanto, há que se considerar o fenômeno da
comorbidade, ou seja, a coexistência no mesmo indivíduo de outros
transtornos mentais (por exemplo, depressão, psicoses, dependências de
álcool, transtornos graves de personalidade etc.) que, caso não sejam
tratados concomitantemente, podem comprometer a recuperação Um
diagnóstico adequado permitirá traçar uma abordagem terapêutica mais
eficaz, que esteja ajustada às características do paciente.
É possível levar uma vida normal após o tratamento? O
dependente pode freqüentar os mesmos locais que freqüentava antes e
manter o mesmo círculo de amizades, por exemplo?
Sim. Se o “antes” se referir a antes do uso do crack, certamente.
Entretanto, freqüentar os mesmos ambientes e manter contato com as
mesmas pessoas com quem usava o crack inviabiliza a recuperação.
Como a família deve proceder antes, durante e ao término do tratamento? Como agir em situações sociais, como festas familiares?
A família deve estar ao lado do usuário, apoiando-o – sem se submeter
a chantagens e tampouco submetê-lo a pressões indevidas e ameaças
infundadas. A firmeza e coerência de atitudes dos familiares são
essenciais. Mas não existe uma fórmula que se possa oferecer para um
usuário de crack ou para a família. Tirar o indivíduo das companhias e
do ambiente é uma solução, mas não a única. Se o dependente permanece em
sua residência durante o tratamento dificilmente será possível
afastar-se totalmente, pois vai precisar muito acompanhamento da
família, muito monitoramento, o que nem sempre é possível.
O dependente em tratamento pode fazer uso moderado de álcool, em situações sociais?
Em princípio, sim, desde que não coexista também uma síndrome de
dependência do álcool. Desde que ele não seja dependente de álcool, ele
consegue tomar uma dose e parar por ali. Isso não leva necessariamente o
indivíduo a usar crack. A questão é que grande parte dos usuários de
crack é dependente ou usuário pesado de álcool
Um dependente de crack consegue se recuperar completamente da dependência? Quais são as chances reais de sucesso do tratamento?
A dependência envolve complexos mecanismos cerebrais, psicológicos e
sociais. Com o tratamento adequado a cada caso, e em presença de uma
real vontade de deixar de usar a droga, a recuperação é perfeitamente
viável.
O que fazer quando o dependente não quer parar de usar a droga e não aceita ajuda?
Não se pode submeter ninguém a um tratamento involuntário, a menos
que esteja intoxicado e representando uma ameaça e um risco para si
mesmo e para os demais. Nestes casos pode-se conseguir uma ordem
judicial de tratamento e, eventualmente, internação.
Qual a razão do alto índice de recaídas entre usuários de
crack? Quais fatores ou situações levam o dependente em tratamento a
recaídas, mesmo após a fase de desintoxicação?
Não há estudos suficientes que permitam estimar as taxas de recaída
entre usuários de crack, em geral, nem por tipos específicos de
tratamento. O que se sabe é que a ausência de um sistema sosiossanitário
articulado que responda às necessidades desses usuários pode
contribuir para baixas taxas de sucesso terapêutico. A desintoxicação,
apenas, tem seu papel, no sentido de reduzir os danos a que está sujeito
o usuário, mas é uma contribuição modesta. Um sólido sistema de apoio
médico, psiquiátrico, social e psicológico é essencial para o sucesso de
um programa terapêutico, de reabilitação e reinserção social.
Como avaliar os resultados de um tratamento? Como saber se o usuário está recuperado da dependência?
O resultado do tratamento do crack é baseado em dois critérios
fundamentais: a abstinência da droga e o grau de reinserção social.
Qual é o segredo, a chave do sucesso para uma superação real?
A vontade de se afastar e permanecer afastado da droga, o apoio
social (da família e dos amigos) e um bom sistema sócio-sanitário, que
responda às reais necessidades do dependente.
Fonte: Câmara de enfrentamento ao Crack e outras drogas e www.brasil.gov.br
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