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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

ESQUIZOFRENIA



I. Conceito: A Esquizofrenia é uma doença de Personalidade que altera toda estrutura vivencial. Culturalmente o esquizofrênico representa o estereotipo do "louco", um indivíduo que produz grande estranheza social. Agindo como alguém que rompeu as amarras da concordância cultural, o esquizofrênico menospreza a razão.
Segundo Kaplan, aproximadamente 1% da população é acometido pela doença, sem predileção por qualquer camada sócio-cultural. O diagnóstico baseia-se exclusivamente na história psiquiátrica e no exame do estado mental

II. Sintomas: Os sintomas característicos da Esquizofrenia podem ser agrupados, genericamente, em 2 tipos: positivos e negativos.

Os sintomas positivos são as alucinações (mais freqüentemente, as auditivas e visuais e, menos freqüentes as táteis, e olfativas), os delírios (persecutórios, de grandeza, de ciúmes, místicos, fantásticos), perturbações da forma e do curso do pensamento (como incoerência, prolixidade, desagregação), comportamento desorganizado, agitação psicomotora e mesmo negligência dos cuidados pessoais.

 Os sintomas negativos são, geralmente, de déficits, ou seja, a pobreza do conteúdo do pensamento e da fala, embotamento ou rigidez afetiva, incapacidade de sentir emoções, incapacidade de sentir prazer, isolamento social, diminuição de iniciativa e diminuição da vontade.
   
Delírios
Os delírios, sintoma carro chefe da Esquizofrenia, são crenças errôneas, habitualmente envolvendo a interpretação falsa de percepções ou experiências. Seu conteúdo pode incluir uma variedade de temas, como por exemplo, a perseguição (persecutórios), referenciais, somáticos, religiosos, ou grandiosos. Os delírios persecutórios são os mais comuns. Neles a pessoa acredita estar sendo atormentada, seguida, enganada, espionada ou ridicularizada. Os delírios de referência também são comuns; neles a pessoa crê que certos gestos, comentários, passagens de livros, um delírio e uma idéia vigorosamente mantida às vezes é difícil, e depende do grau de convicção com o qual a crença é mantida, apesar de evidências nitidamente contrárias.
 Na Esquizofrenia os Delírios surgem paulatinamente, sendo percebidos aos poucos pelas pessoas íntimas aos pacientes. Um exemplo de delírio é a crença de uma pessoa de que um estranho retirou seus órgãos internos e os substituiu pelos de outra, sem deixar quaisquer cicatrizes ou ferimentos.

Alucinações
As alucinações, outro sintoma típico (mas não exclusivo) da Esquizofrenia, podem ocorrer em qualquer modalidade sensorial, ou seja, auditivas, visuais, olfativas, gustativas e táteis. As alucinações auditivas são, de longe, as mais comuns e características da Esquizofrenia, sendo geralmente experimentadas como vozes conhecidas ou estranhas, que são percebidas como distintas dos pensamentos da própria pessoa. O conteúdo pode ser bastante variável, embora as vozes pejorativas ou ameaçadoras sejam especialmente comuns. 
As Alucinações mais comuns na Esquizofrenia são do tipo auditivas, em primeiro lugar e visuais em seguida.


 III. Diagnóstico
Para fazer o diagnóstico, o médico realiza uma entrevista com o paciente e sua família visando obter uma história de sua vida e de seus sintomas o mais detalhada possível (Anamnese).
Além de fazer o diagnóstico, o médico deve tentar identificar qual é o subtipo clínico que o paciente apresenta. Essa diferenciação se baseia nos sintomas que predominam em cada pessoa e na evolução da doença que é variada conforme o subtipo específico.
 
IV. Tipos de Esquizofrenia- DSM.IV e CID10

a) Tipo Paranóide: É o tipo mais comum e é caracterizado pela presença central de delírios, normalmente com conteúdos persecutórios, autorreferentes, de ciúmes ou de mudanças corporais. A presença de alucinações principalmente auditivas também faz parte do quadro característico. 

b) Tipo Desorganizado ou Hebefrênico: A característica marcante neste tipo é o prejuízo do pensamento e o comprometimento afetivo. O pensamento se mostra desorganizado com discurso fragmentado. Quanto ao afeto este encontra-se inapropriado e superficial com risos imotivados e comportamento pueril (infantil). Normalmente o início da Esquizofrenia dá-se precocemente e a evolução é pior quando comparado ao tipo paranóide pela precoce e grave instalação de sintomas negativos.

c) Tipo Catatônico: A alteração marcante neste tipo diz respeito a psicomotricidade podendo apresentar períodos de mutismo, intenso negativismo (uma resistência aparentemente sem motivo a toda e qualquer instrução ou manutenção de uma postura rígida contra tentativas de mobilização),e em outro momento agitação e excitação chegando a um intenso estado de agitação e violência denominado FUROR CATATÔNICO. Os sintomas positivos como delírios e alucinações são ausentes

d) Tipo Residual: Consiste no estágio crônico da doença onde os sintomas positivos, que caracterizaram o diagnóstico de Esquizofrenia, estão ausentes ou diminuídos e os sintomas negativos prevalecem e se destacam.
 Ocorrem ausência de: delírios e alucinações. Discurso e comportamento altamente  desorganizado.

e) Tipo Indiferenciado: Enquadra-se quando não é possível a definição por não haver claro predomínio dos sintomas que delimitam os Tipos de Esquizofrenia.
Não são preenchidos critérios para os tipo paranóide, desorganizado, catatônico ou residual.

V. Tratamento
As medicações antipsicóticas ou neurolépticos constituem o tratamento de escolha para a esquizofrenia. Elas atuam diminuindo os sintomas (alucinações e delírios), procurando restabelecer o contato do paciente com a realidade; entretanto, não restabelecem completamente o paciente. As medicações antipsicóticas controlam as crises e ajudam a evitar uma evolução mais desfavorável da doença.
As abordagens psico-sociais, como acompanhamento psicoterápico, terapia ocupacional e familiar são também muito importantes para diminuir as recaídas e promover o ajustamento social dos portadores da doença.

VI. Assistência de Enfermagem
·        Devemos tentar nos aproximar deste cliente, seja através de uma conversa, de uma atividade que ele goste de fazer para estabelecer uma amizade.
·        Se notarmos que o cliente não quer contato naquele dia, não devemos forçar a situação.
·        Anotar qualquer alteração no cliente, como delírios, estupores, alucinações e comunicar ao médico psiquiatra.
·        Reforçar e focalizar a realidade (falar a respeito de eventos e pessoas reais).
·         Caso o cliente esteja muito desconfiado: tentar usar a mesma equipe, ser honesto e cumprir todas as promessas, evitar o contato físico, evitar risos, sussuros ou falar baixo, evitar atividades competitivas.
·         Observar o cliente quanto a sinais de alucinações.
·         Não reforçar a alucinação, e tentar distrair o cliente da alucinação.
·         Oferecer-se para ficar com o cliente durante atividades de grupo que ele considere assustadoras ou difíceis.
·        Administrar medicação conforme prescrição médica e verificação dos sinais vitais.

Perguntas e Respostas sobre Esquizofrenia
1. O esquizofrênico é violento?
Em geral o esquizofrênico não é violento ou perigoso. Fora da crise é uma pessoa como qualquer outra. Alguns se tornam agressivos quando em crise, seja agressividade verbal ou fisica, pois os delírios ou as alucinações podem fazê-los sentir-se ameaçados.
Nesses momentos, é importante conversar com a pessoa sem provocá-la, mantendo um diálogo franco e tranqüilo. Na hipótese de ser necessário conter um ato agressivo, é preciso contar com mais pessoas para evitar que o paciente ou terceiros se machuquem. Episódios de agressividade, dependendo da intensidade, são situações que indicam a necessidade de eventual internação para garantir a integridade do paciente ou terceiros.

2. Todos os esquizofrênicos são violentos quando em crise?
Não. Mesmo durante crises intensas, a maioria dos portadores de esquizofrenia não manifesta agressividade importante. O comportamento agressivo depende, como indicado na resposta anterior, da natureza dos delírios e das alucinações que a pessoa apresenta.

3. O que fazer quando, ao obter melhora com a medicação, o portador de esquizofrenia abandona seu uso, diminui as dosagens necessárias e não quer mais saber de remédios? Como a família pode agir nesses casos, para evitar novo surto?
Deve-se tentar dialogar, expor as evidências de que a medicação evita a recaída. Infelizmente, muitas vezes são necessárias várias recaídas até que o doente se conscientize da gravidade da doença, de seu curso com recaídas e da necessidade do tratamento contínuo.
Nas recaídas pode ser necessário internar a pessoa até que ela saia do surto agudo. Pela legislação em vigor, a família e o médico têm o direito de internar o portador quando em crise, mesmo contra sua vontade. Por crise, entende-se que o portador está delirando, fora da realidade, inadequado, sem controle de si mesmo e de seus atos. Nesse momento, a internação é uma medida de proteção e tratamento. Cabe à família e ao médico, diante de uma situação de crise, avaliar a real necessidade de internação. Há recaídas que não exigem necessariamente internação, principalmente quando tratadas precocemente.

4. Em que situações a internação é necessária? Quanto tempo deve durar? Existem internações "para sempre"?
A internação é indicada nos momentos de crise ou de surto agudo, quando então o esquizofrênico não tem controle sobre si mesmo. Deve ser a mais curta possível e, com os atuais antipsicóticos, são suficientes um mês ou mês e meio dias para controlar as manifestações mais graves da doença. Não se recomenda internações prolongadas ou "para sempre".

5. A família deve manter total observação ou supervisão em relação ao paciente como, por exemplo, arrumando seu quarto, examinando seus objetos, acompanhando-o quando sai à rua?
A ajuda deve ser no sentido de promover a maior independência possível do paciente. Ele deve ser incentivado a cuidar de suas coisas e de sua higiene. Tão logo quanto possível ele deve voltar a caminhar pela cidade independentemente. Essas atitudes visam preservar a auto-estima do paciente, evitando constrangimentos.

6. Considerando-se a rotina familiar, o que pode ser solicitado ao portador de esquizofrenia em termos de colaboração, participação, coisas tais como, cuidar de seu quarto, lavar o quintal, lavar a louça, fazer compras, ir ao banco?
No início, ele deve ser acompanhado, até recuperar as habilidades perdidas. Aos poucos, deve ir assumindo responsabilidades como qualquer membro da família, de acordo com suas possibilidades.

7. Como orientar o portador de esquizofrenia em termos de administrar o dinheiro, valor das coisas, preços, trocos, economia?

A orientação pedagógica é imprescindível. O portador deve ser orientado para que possa compreender o valorizar o preço das coisas e administrar seu dinheiro, entretanto, a grande maioria dos esquizofrênicos fora dos surtos agudos tem plena noção do valor de bens, do dinheiro e das coisas em geral.

8. Quais são os sinais de recaída? O que a família pode fazer quando os perceber?
Os principais sinais e sintomas de recaída são as alterações de comportamento. Irritabilidade, insônia, comportamento agitado ou de isolamento social podem ser os sintomas de recaída, assim como alucinações e delírios.
Tão logo o familiar perceba ou suspeite de recaída, deve levar o paciente para uma avaliação médica, de modo que o psiquiatra possa intervir rapidamente, modificando a medicação ou a dose que o paciente recebe. Todo esforço deve ser feito para evitar uma nova recaída.

9. Muitos se questionam sobre a pergunta: A Esquizofrenia tem cura?
Até bem pouco tempo acreditava-se que a esquizofrenia era sempre incurável e que se convertia, obrigatoriamente, numa doença crônica e por vida. Hoje em dia, entretanto, sabemos que este não é necessariamente o caso e uma porcentagem de pessoas que sofrem deste transtorno pode recuperar-se por completo e lavar uma vida normal como qualquer outra pessoa. 
Fonte: ROCHA, Ruth. Enfermagem em Saúde Mental. Senac Nacional, 2205. 187 p. 

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