A lista de celebridades que revelaram sofrer de depressão e ansiedade aumentou consideravelmente nos últimos meses: atores, músicos e modelos decidiram falar publicamente sobre saúde mental, um assunto que poucos tocavam.
Um dos exemplos
mais recentes foi o de Zayin Malik, 23 anos, ex-integrante do grupo One
Direction, que cancelou uma série de shows alegando "ansiedade
extrema".
A cantora Selena Gómez anunciou uma pausa na carreira
também em setembro devido a crises de depressão e ansiedade e chegou até
a se internar voluntariamente.
Bruce Springsteen escreveu em sua biografia lançada em setembro, Born to Run,
sobre como luta há anos com a depressão. O músico americano chegou até a
admitir que a doença o "subjugou" em algumas ocasiões.
A
atriz Demi Lovato revelou que sofre de transtorno bipolar, e a cantora
americana Jo-Jo lutou contra a depressão ao mesmo tempo que enfrentava
sua própria gravadora devido a problemas ligados ao seu contrato.
Pelo
menos para alguns famosos, parecem ter ficado para trás os dias em que
agentes e assessores tinham que elaborar desculpas como "está com
desidratação" ou "precisa de descanso pois está exausto (a)".
Efeito
A
tendência entre os "ricos e famosos" surpreende e leva muitos a
questionarem se todos eles se sentem confiantes o bastante para expor
problemas relacionados a saúde mental desta forma.
No programa Ouch, da BBC, que trata de temas relacionados à saúde, especialistas deram várias explicações para esta nova tendência.
A primeira foi o celular e o fácil acesso a redes sociais.
"Uma
das coisas que mudaram foram as expectativas que as pessoas têm em
relação às celebridades. Agora os fãs (e até aqueles que não são fãs)
estão mais acostumados a ver seu cotidiano pelas redes sociais", disse à
BBC Mark Brown, pesquisador em temas de saúde mental. O ruído nas redes
e o eco na mídia tradicional mudou radicalmente o vínculo entre fãs e
celebridades.
Basta um exemplo para perceber a diferença. Quando
Britney raspou a cabeça em 2007, o mundo acompanhou o caso através de
fotos dos paparazzi, publicadas em jornais e revistas.
Hoje, este mesmo caso já causaria ruído em uma questão de horas, pois as pessoas iriam compartilhar a informação nas redes.
"Antes,
essas coisas já aconteciam diante dos fotógrafos, mas não era de uma
forma tão aberta. Agora há um diálogo com as celebridades, que tiraram
os intermediários do caminho", explicou a blogueira Molloy-Vaughan.
Analistas
afirmam também que a sensação de proximidade com as celebridades é uma
ficção alimentada pelas próprias redes sociais e que esta familiaridade
determina o tom do diálogo.
E também existe uma "permeabilidade entre famosos e não famosos" que, é claro, tem seus custos.
"As
celebridades sacrificam sua privacidade em troca de mais seguidores e
mais fama, e, como consequência, a saúde mental segue (esta tendência)",
afirma Brown.
Mudança?
Para outros, o que está acontecendo é uma mudança na percepção da saúde mental.
"Estamos no fim de uma década onde estamos falando da saúde mental dos famosos de uma outra maneira", explica Brown.
Nos
anos 1950 e 1960, por exemplo, seria difícil imaginar Marilyn Monroe ou
Gregory Peck falando tão diretamente sobre suas vidas. Hoje os famosos
conseguem dezenas de milhares de curtidas apenas minutos depois de
publicar um post no Facebook ou um tuíte.
"Quando entendemos que são pessoas e não apenas um
rosto famoso, começamos a perceber quando elas estão bem e quando não
estão", acrescentou o pesquisador.
Seguindo esta premissa, fica
difícil para os famosos esconderem seus problemas do olhar - virtual
porém onipresente - de seus seguidores.
Com este novo
comportamento, é como se as celebridades não estivessem mais no pedestal
imaginário. Como se dissessem: "Quer saber? Eu ia aparecer na
televisão, ia voar em um jatinho, mas, em vez disso, tenho que ficar em
casa, de pijama, comendo cereal seco sem leite porque não posso sair
para enfrentar o mundo."
Primeira pessoa
Quando
Zayn Malik cancelou suas apresentações devido a problemas com
ansiedade, sua namorada (a também famosa) modelo Gigi Hadid, elogiou sua
"humanidade" e acrescentou que estava "orgulhosa" com a "honestidade"
do namorado.
Mas nem sempre "se abrir" nas redes sociais é uma
experiência boa. A blogueira Seaneen Molloy-Vaughan sofreu com isso ao
relatar em primeira pessoa sua luta."Foi difícil. Foi bom por um lado e sempre dei valor
às pessoas que queriam interagir. Mas envolveu exposição e colocar tudo
para fora", confessou Molloy-Vaughan que, em seu blog, escreve sobre
seus problemas mentais.
"Sugerimos à pessoa famosa que é uma boa
ideia expor (o caso) e ser uma espécie de soldado contra o estigma das
doenças mentais e isso permite dar uma diversidade de rostos e vozes
para o problema, em vez de apresentar (o problema) como uma estatística
abstrata", contou Brown, que faz parte da organização britânica de
orientação e projetos sociais Social Spider.
"Mas o problema é que
podemos controlar como alguém conta uma história mas não controlamos
como as pessoas vão responder", acrescentou.
Ao mesmo tempo que as mensagens de apoio se multiplicam, também existe a possibilidade de bullying virtual.
Mesmo
assim os psicólogos concordam que abrir o diálogo sobre saúde mental
para milhões de pessoas - jovens, em sua maioria - é um benefício para a
saúde pública e a sociedade.
Uma pesquisa feita em 2014 pela
Mind, uma organização britânica que trabalha em temas de saúde mental,
sugere que 28% dos 2 mil entrevistados conseguiu falar de um problema
psiquiátrico com um ente querido como consequência direta de uma
declaração pública feita por uma pessoa famosa.
Além disso, outros
25% que ouviram uma celebridade falando de suas dificuldades começaram a
pensar em seus próprios problemas e acabaram pedindo ajuda.
FONTE: http://www.bbc.com/portuguese/geral-37681240
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