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quinta-feira, 15 de março de 2012

A ANGÚSTIA DE CASTRAÇÃO NOS MENINOS


O medo de alguma coisa acontecer a este órgão sensível e prezado chama-se angústia de castração; medo a que se atribui papel tão significativo no desenvolvimento total do menino e que representa resultado, não causa desta valoração narcisística elevada. É só a alta catexia narcisística do pênis neste período que explica a eficácia da angústia de castração; aos seus precursores nas angústias orais, e anal pela perda do seio ou das fezes, falta à força dinâmica que caracteriza a angústia de castração fálica.
A angústia de castração no menino do período fálico pode comparar-se ao medo de ser comido do período oral, ou ao medo de ser despojado do conteúdo corporal do período anal; é o medo retaliatório do período fálico, que representa o clímax dos temores fantásticos de lesão corporal.
Em última análise, pode-se rastrear a idéia de castração no antigo reflexo biológico da autotomia; menos profunda, porém mais certamente, baseia-se ela na idéia retaliatória arcaica de talião: o próprio órgão que pecou tem de ser punido. Vê-se, entretanto, que o ambiente das crianças lhes reforça idéias fantásticas de punição, muitos adultos ainda ameaçando o menino de “cortar-lhe isto” quando o surpreendem masturbando-se. Em geral, a ameaça é menos direta, mas há outros castigos que se sugerem, a sério ou brincando, e a criança interpreta-os como ameaças de castração. Todavia, mesmo as experiências que, objetivamente, não contêm qualquer ameaça podem ser falsamente interpretadas neste sentido pelo menino que tenha a consciência culpada; por exemplo, a experiência de que existem realmente criaturas sem pênis: a observação dos genitais femininos. Há vezes em que uma observação desta ordem empresta caráter sério a uma ameaça anterior a que não se dera maior atenção; noutros casos, a realização da fase fálica basta, só ela, para ativar ameaças passadas que não haviam feito impressão excessivamente intensa durante os períodos pré-genitais.
Também varia a natureza do perigo que se acredita esteja ameaçando o pênis. Há quem pense estar o pênis ameaçado por um inimigo masculino, ou seja, por um instrumento penetrante, pontudo; ou por um inimigo masculino, ou seja, por um instrumento penetrante, pontudo; ou por um inimigo feminino, isto é, instrumento que envolve, isso conforme se apresente o pai ou a mãe como a pessoa que mais ameaça; ou conforme as fantasias especiais que tem o menino no tocante ao contato sexual.
Meninos ou pessoas com uma neurose com medo de castração podem desenvolver fantasias de que o pênis lhe voasse do corpo, micróbios devorando o pênis, sonhos com calvície, cortar cabelos, extração ou queda de dentes, decapitação. O medo preventivo da castração pode ser representado em um sonho como uma lagartixa (perde o rabo e cresce novamente) ou quando um símbolo peniano aparece mutilado.
Há indivíduos com fixações orais que temem lhes seja o pênis arrancado a mordidas, de onde resultam idéias confuso compostas de elemento tanto orais quanto genitais. Existem homens que têm medo obsessivo consciente de terem o pênis pequeno demais, cujo resultado foi alguma observação impressionante, na infância, do tamanho do pênis de outrem, quando o deles era realmente pequeno.
Nos meninos, a “feminilidade” nem sempre significa: “Acho que já estou castrado”, mas, pelo contrário, uma evolução para a feminilidade (que representa desvio do uso ativo do pênis) muitas vezes se tenta como tranqüilização contra castração futura possível: “Se proceder como se já não tivesse pênis, não o cortarão”; ou até: “Se não há meio algum de evitar a castração, prefiro praticá-la ativamente na previsão a pode acontecer; e, pelo menos terei a vantagem de ficar nas boas graças de quem me ameaça...”.
A intensidade da “angústia da castração” à valorização intensa do órgão durante a fase fálica; valoração esta que faz o menino decidir (quando enfrenta a questão: ou renuncio às minhas funções genitais, ou arrisco o meu pênis) em benefício da desistência da função. Um adulto perguntará: “Para que serve um órgão, quando me proíbem de usa-lo?” No período fálico, contudo os fatores narcisísticos contrabalançam os sexuais, de modo que a posse do pênis vem a ser o objetivo principal.
Problemas desta ordem resultam de outra característica do estádio oral. Segundo Freud, o menino desta idade ainda não toma posse de um pênis como questão de determinação sexual; diferencia não em função de homem e mulher, mas em função de portador de pênis e castrado. Quando obrigado a aceitar a existência de pessoas sem pênis, fica presumindo que elas um dia, tiveram o órgão, mas o perderam. Os analistas, que têm confirmado os achados desta ordem, cogitam que este modo de pensar talvez resulte de repressão anterior. Talvez que o menino tenha razão mais primária de temer os genitais femininos do que o medo da castração (angústias orais de uma vagina dentada [Otto Fenichel-72], significando temor retaliatório de impulsos sádicos-orais); daí tentar negar-lhes a existência.
Recebi um e-mail de um colaborador questionando sobre o “mito da vagina dentada”, que corrobora com o relatado acima (impulsos sádicos-orais) . O interessante é que ele relata que há um ano e meio ou dois, vem sonhando que “todos” os dentes da sua boca caíram, não havia a sensação de dor e que de fato era até agradável senti-los soltos dentro da sua boca (sonho que pode representar a angústia de castração). Entretanto para um diagnóstico preciso seria necessária a realização de uma análise, que eu recomendo.
A idéia de que as meninas tiveram um pênis, mas de que este lhes foi cortado representaria tentativa no sentido desta negação. Certo é que vem, ao mesmo tempo, a angústia: “Isto pode acontecer também comigo”, com a vantagem, porém, de que se nega a existência primária dos temidos genitais femininos. Não se tem a impressão, contudo, de que os meninos se consolem, de qualquer modo, por saber que certas criaturas tiveram o pênis cortado; pelo contrário, esta idéia afigura-se muito assustadora. De mais a mais, parece natural que o menino presuma, enquanto não lhe ensinam o contrário, que todas as pessoas sejam construídas tal qual ele o é, de modo que esta presunção não se baseia, necessariamente, no medo; mas, sim, a idéia de que a presunção é incorreta é que cria o medo.

B) A INVEJA DO PÊNIS NAS MENINAS.
O clitóris nas meninas, é a parte do aparelho genital que se apresenta mais rica em sensações e que atrai e descarrega toda excitação sexual; é o ponto central de práticas masturbatórias tanto quanto de interesse psíquico. Em segundo lugar, significa que também a menina classifica as pessoas em “fálicas” e “castradas”; ou seja, a menina tipicamente reage à noção de que existem criaturas com pênis tanto com a atividade “Gostaria de ter isto” quanto com a idéia “Já tive isto, mas perdi”.
Mulheres portadoras de forte inveja do pênis têm revelado, à análise, haver sofrido “fuga da feminilidade”, desenvolvendo certo medo da própria feminilidade e, portanto, construído inveja reativa do pênis.
A análise de neuróticas obsessivas mostra, a princípio, uma quantidade de impulsos anais e sádicos reprimidos; mais tarde, descobre-se que, em níveis mais profundos, existem desejos genitais inconscientes, os quais foram rejeitados por uma regressão a desejos sádicos-anais. Daí não dizermos que a índole reativa dos desejos sádicos-anais contradiz a existência de um período sádico-anal original no desenvolvimento libidinal da criança, mas que os desejos reativos seguiram vias regressivas.
A menina tem o sentimento de que a posse do pênis traz vantagens erógenas diretas no que diz respeito à masturbação e à micção. A posse de um pênis, aos olhos da menina, faz o possuidor mais independente e menos sujeito a frustrações; sentimento talvez resultante da concentração de todos os sentimentos sexuais no clitóris, durante esta fase, o clitóris sendo “inferior” em comparação com o pênis.

Fonte: http://www.psiqweb.com.br/ (acessado em 20 de fevereiro de 2010)

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